Putin avisa que Rússia não permitirá que a Ucrânia tenha acesso a armas nucleares
O presidente russo disse esta sexta-feira que os comentários do seu homólogo ucraniano sobre armas nucleares são uma “provocação perigosa” e garantiu que a Rússia fará tudo para impedir que a Ucrânia tenha acesso a este tipo de arsenal. Vladimir Putin anunciou ainda que não vai marcar presença na cimeira dos G20, em novembro, considerando que a sua presença iria “perturbar” os trabalhos.
Vladimir Putin disse que a possibilidade de Kiev ter acesso a este tipo de arsenal faz parte do “plano para a vitória” apresentado esta quinta-feira pelo chefe de Estado da Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse na quinta-feira que a Ucrânia precisa de armas nucleares ou de entrar para a NATO para garantir a sua segurança – e uma vez que o país abdicou das armas nucleares após a dissolução da União Soviética, juntar-se à NATO seria a única forma de derrotar a Rússia.
“Ou a Ucrânia tem armas nucleares, que servirão de proteção, ou deve fazer parte de algum tipo de aliança”, disse o presidente ucraniano, acrescentado que não conhece “uma aliança tão eficaz” como a NATO.
Putin descreveu as declarações de Zelensky como uma “provocação perigosa” e avisou que “qualquer passo nessa direção levará a uma resposta semelhante".
Durante um encontro com jornalistas estrangeiros esta sexta-feira, Putin disse que “não sabia” se a Ucrânia era capaz de construir uma arma nuclear, mas acrescentou que “não é difícil no mundo moderno”.
Zelensky esclareceu, mais tarde, que a Ucrânia não está a construir armas nucleares. “O que eu quis dizer é que hoje não há garantia de segurança mais forte para nós do que a adesão à NATO”, explicou.
Putin não vai participar na cimeira do G20 no Brasil
O presidente russo anunciou também esta sexta-feira que não vai participar na cimeira do G20 que decorre no próximo mês, no Brasil, assumindo que a sua presença iria “perturbar” os trabalhos, uma vez que está sob um mandado de prisão por parte do Tribunal Penal Internacional (TPI).
"Entendemos perfeitamente que mesmo excluindo o fator TPI, toda a discussão se concentrará apenas nisso. E vamos de facto perturbar o trabalho do G20”, disse Putin.
O dirigente russo acrescentou que mantém "relações magníficas e amistosas" com o seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo que não faria sentido viajar "para afetar o trabalho normal do fórum".
"Tenho uma relação de amizade com Lula. Iria lá de propósito para violar a decisão e arruinar a cimeira? Não. O Governo russo terá um representante na cimeira", afirmou. O Brasil é signatário do Tratado de Roma e seria obrigado a respeitar a decisão do TPI e a prender em solo brasileiro o dirigente russo, alvo de um mandado de captura do Tribunal por alegados crimes de guerra na invasão russa da Ucrânia.
Ainda assim, Putin disse que seria possível desenvolver soluções diplomáticas para evitar a sua detenção, com base num acordo formal entre os dois governos e questionou a legitimidade do Tribunal, criado em 2002.
"É uma das organizações internacionais cuja jurisdição a Rússia não reconhece. Tal como muitos outros países do mundo. Penso que os Estados Unidos também não a reconhecem, a China não a reconhece, a Turquia não a reconhece, por isso, não acho que seja mau que exista uma organização internacional como esta, mas é necessário que seja universal", disse.
Putin elogiou, no entanto, a proposta de paz para a Ucrânia elaborada pelo Brasil e pela China, considerando que é “equilibrada” e forneceria uma boa base para encontrar uma solução para o conflito.
A proposta sino-brasileira, tornada pública em maio, pede a redução da tensão e a retoma do diálogo direto sem exigir que a Rússia retire as suas tropas do território ucraniano.
Zleneksy rejeitou a proposta por considerar que serve os interesses de Moscovo.
Putin diz que BRICS impulsionará o crescimento económico global
Putin vangloriou-se ainda sobre o papel do grupo BRICS na economia mundial, afirmando que será responsável pela maior parte do crescimento económico global nos próximos anos graças à sua dimensão e crescimento em comparação com o das nações ocidentais.
"O PIB conjunto do grupo ultrapassa os 60 biliões de dólares, enquanto a sua quota na economia mundial excede a do G7 e continua a crescer", afirmou o chefe do Kremlin no Fórum Empresarial dos BRICS, em Moscovo, prevendo que no futuro, “o BRICS gerará o principal aumento no PIB global”.
"O mercado internacional não pode sobreviver sem os BRICS, incluindo no domínio da tecnologia, como a inteligência artificial. Esta é a mudança mais tangível. É natural. O mundo está sempre a mudar. Novos líderes surgem", disse o líder russo.
Segundo Putin, o crescimento económico dos membros dos BRICS "dependerá cada vez menos de influências ou interferências externas", o que significa "soberania económica" e aumenta consideravelmente o potencial do grupo.
"O BRICS não é contra ninguém. O BRICS não é um grupo anti-ocidental. É apenas um grupo não-ocidental", adiantou. A Rússia vai receber uma cimeira dos BRICS na cidade de Kazan, entre 22 a 24 de outubro.
De acordo com Putin, mais de 30 países demonstraram interesse em aderir ao bloco, nomeadamente a Turquia, o Azerbaijão, Cuba e a Venezuela. Na cimeira vão ser discutidas opções para a ampliação do grupo, no entanto, o Kremlin afirmou que, para já, o grupo não vai aceitar mais países membros, mas sim Estados associados.
"Estamos atualmente a trabalhar numa nova categoria de `Parceiros BRICS` e precisamos de um consenso. Teremos o cuidado de nos guiar por dois princípios: primeiro, o multilateralismo e, segundo, a eficiência da organização. Ao ampliar o número de países, não devemos perder a agilidade do bloco e é isso que vai orientar os nossos próximos passos", explicou.
No encontro deverão também ser discutidos os avanços nas negociações para a adoção de uma moeda alternativa ao dólar no comércio entre os membros do bloco e a criação da categoria de "países parceiros".
Questões como a guerra no Médio Oriente também deverão ser abordadas mas o conflito na Ucrânia não estava na agenda.
c/agências