O impacto da reeleição de Donald Trump como Presidente norte-americano no conflito do Médio Oriente será significativa, previram hoje dois veteranos da política regional, o israelita Ehud Olmert e o palestiniano Nasser Al-Kidwa, defensores da solução de dois Estados.
Na 7ª edição do Fórum de Paris para a Paz, o antigo primeiro-ministro israelita Ehud Olmert sublinhou hoje que Trump chegará à Casa Branca, em janeiro, tendo criado a expetativa de resolver "os problemas no Médio Oriente e noutras partes do mundo".
"Acho que temos de dar-lhe tempo de se concentrar e se preparar para a mudança nas administrações, que terá lugar em janeiro, e espero que assim ele esteja pronto com algumas possíveis ideias", acrescentou.
O antigo primeiro-ministro israelita tem cooperado com o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros palestiniano, Nasser Al-Kidwa, que também defende que o "único caminho" para a paz o estabelecimento dos dois Estados o mais rápido possível.
À Lusa, Nasser Al-Kidwa admitiu que a eleição de Donald Trump "vai mudar o conflito", mas admite incerteza quanto ao rumo da mundança.
"Não sabemos como, mas vamos tentar gerir de alguma forma e veremos", afirmou à Lusa o antigo chefe da diplomacia palestiniana.
Também para Ehud Olmert a única "alternativa e solução possível" para o atual conflito na região continua a ser "dois Estados a coabitar", Israel e Palestina.
"Não importa o quanto tempo isso demorará, não importa quantas diferenças e disputas e desacordos haverá. Ao final do dia, há apenas uma solução política para o conflito histórico entre Israel e Palestina", disse à Lusa.
O antigo primeiro-ministro israelita espera ainda que "a União Europeia seja muito ativa em tentar convencer os dois lados", e que a chave será parar a guerra com o retorno dos reféns israelitas, capturados em 07 de outubro de 2023 pelo movimento islamita Hamas.
Para o político palestiniano, a União Europeia não pode ignorar violações do direito internacional, em Gaza ou no Líbano, onde prosseguem ofensivas.
No fórum, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, referiu que "a França está profundamente ligada à segurança da Israel".
"A lei internacional deve ser respeitada e a justiça deve ser alcançada, porque essa é a única maneira de garantir diretamente a segurança de Israel. E essa é a razão pela qual, ao mesmo tempo que nós estávamos a trabalhar duramente e a lançar esforços para garantir a segurança de Israel, nós também adotamos sanções", afirmou o político francês.
Olmert e Al-Kidwa condenaram ainda a violência contra israelitas, como aconteceu na semana passada nos Países-Baixos.
"No último ano, há muitas expressões de apoio e simpatia para com o Estado de Israel por líderes na Europa, e há algumas expressões de violência e descontentamento nas ruas de algumas cidades europeias. Obviamente, eu estou contra a violência e a agressão que se manifestou contra Israel e contra os judeus nas cidades europeias", disse Ehud Olmert.
Já Al-Kidwa questiona o porquê de ataques contra israelitas, que cometem atrocidades contra os palestinianos, serem apelidados de "antissemitas".
"Não tem nada a ver com antissemitismo. É errado, não deveria ter acontecido dessa forma [o ataque de 07 de outubro de 2023], mas se querem julgar as pessoas [que defendem a Palestina e expõem a situação em Gaza], têm que voltar ao início e ver como aconteceu", acrescentou o político palestiniano.
A 7ª edição do Fórum de Paris para a Paz começou hoje no Palais de Chaillot, com a presença do Presidente francês, Emmanuel Macron, dias após as eleições presidenciais nos EUA e na mesma semana em que as reuniões do G20 no Rio de Janeiro e da COP29 em Baku, prolongando-se até 13 de novembro.
Com a primeira edição do Fórum a ser realizada há sete anos, durante a primeira presidência de Donald Trump, a edição deste ano foi marcada pelas eleições para o Parlamento Europeu e por um contexto de guerras na Ucrânia e no Médio Oriente.