Orbán apela à "mudança" na UE e Von der Leyen acusa Hungria de pôr segurança em risco
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, apelou esta quarta-feira à "mudança" na União Europeia, num discurso perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, no qual criticou a atual posição de Bruxelas sobre a guerra da Rússia na Ucrânia e a gestão da migração e foi criticado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sobre a sua relação de proximidade com Moscovo e Pequim e a relutância de Budapeste em apoiar a Ucrânia contra a invasão russa.
"A União Europeia precisa de mudar" e a presidência húngara do Conselho da União Europeia "quer ser o catalisador dessa mudança", declarou Viktor Orbán, perante os eurodeputados que não acolheram bem as palavras do líder nacionalista húngaro e protestaram contra os retrocessos democráticos da Hungria.
"A União Europeia tem uma política errada no que diz respeito a esta
guerra", disse Orbán, argumentando que a resposta de Bruxelas à guerra na Ucrânia foi "mal planeada e mal implementada". "Se queremos ganhar, temos de mudar
esta estratégia de derrota", acrescentou, num apelo às negociações de paz com o Kremlin.
Migrações, segurança e competitividade económica
O primeiro-ministro húngaro foi a Estrasburgo apresentar as prioridades da presidência rotativa do Conselho da UE, que a Hungria detém até ao final de dezembro, mas acabou num de debate aceso com a líder da Comissão Europeia, que lhe apontou o dedo por estar a fortalecer os laços com a Rússia e a China e a colocar em causa a defesa da soberania da Europa.
"O mundo testemunhou as atrocidades da guerra russa. E ainda há quem culpe esta guerra não o invasor, mas o invadido", disse Von der Leyen. “Ainda há quem culpe esta guerra não pela ânsia de poder do presidente russo Vladimir Putin, mas pela sede de liberdade da Ucrânia. Por isso, quero perguntar-lhes: alguma vez culpariam os húngaros pela invasão soviética em 1956?", questionou.
Viktor Orbán disse estar "surpreendido" com o discurso de Von der Leyen e rejeitou qualquer paralelismo entre a fracassada revolta húngara de 1956 contra a opressão soviética e a luta da Ucrânia para defender o seu território da invasão russa.
A Hungria abre a porta a ingerência
Mas a presidente da Comissão Europeia foi mais longe e questionou com vários exemplos a governação húngara, nomeadamente um programa que aliviava as retrições de vistos para russos e bielorussos e um acordo entre Budapeste e Pequim que permitia às autoridades chinesas fazerem patrulha na Hungria juntamente com os seus homólogos húngaros.
“Como é possível que o Governo húngaro convide cidadãos russos a entrar na nossa União sem controlos de segurança adicionais? Isto torna o novo regime de vistos húngaro um risco de segurança não só para a Hungria, mas para todos os Estados-membros”, afirmou.
“Como é possível que o Governo húngaro permita que a polícia chinesa atue no seu território? Isto não é defender a soberania da Europa, é uma porta de entrada para a ingerência estrangeira”, continuou a eurodeputada alemã.
Ursula von der Leyen ainda alertou para o facto de a Hungria continuar a depender da energia russa, depois de muitos Estados-membros da UE terem reduzido a sua dependência em resposta à invasão russa.
“Um Estado-Membro acabou de procurar formas alternativas de comprar combustíveis fósseis à Rússia. A Rússia já provou várias vezes que não é um fornecedor fiável. Quem quer que a segurança energética europeia esteja em primeiro lugar e acima de tudo, tem de contribuir para isso”, declarou.
c/ agências