Prisioneiros de guerra ucranianos libertados pelos russos denunciam várias formas de tortura, incluindo espancamentos, eletrochoques, ataques com cães e períodos prolongados de jejum, denunciou hoje o chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Turk.
No seu relatório ao Conselho de Direitos Humanos da ONU - que abrange o período desde a sua última aparição, em março - o alto-comissário informou que os dados de 600 entrevistas aos prisioneiros de guerra ucranianos evidenciam que a tortura nos centros de detenção está amplamente difundida em território russo.
"Exijo que a Federação Russa pare imediatamente com essas práticas, melhore as condições de detenção, estabeleça comissões médicas e forneça acesso total ao meu gabinete a investigadores independentes em todos os locais onde prisioneiros de guerra ucranianos e detidos civis são mantidos", disse Turk.
O alto-comissário também relatou maus-tratos infligidos a prisioneiros de guerra russos na Ucrânia - imediatamente após a sua detenção ou durante as transferências - que também incluíram espancamentos e eletrochoques, embora estas práticas não tenham sido denunciadas em centros de detenção oficiais.
"As autoridades ucranianas devem investigar estas alegações e garantir que o tratamento dos prisioneiros de guerra, em qualquer fase da detenção, respeita os padrões internacionais", defendeu Turk.
O alto-comissário apelou também à Rússia para que ponha fim às deportações forçadas de crianças ucranianas para território russo e que forneça informações sobre o número e a identidade destes deportados.
Em território controlado pelo Governo ucraniano, Turk lamentou que continuem as condenações de pessoas sob acusações de colaboração com os invasores russos por terem realizado meros trabalhos durante a invasão, como a retoma do fornecimento de gás e outros serviços básicos.
Do outro lado da linha da frente, em território ainda ocupado pela Rússia no leste e no sul da Ucrânia, o gabinete de Turk documentou uma pressão crescente por parte das autoridades para que os residentes adquirissem passaportes russos, sob a ameaça de que de outra forma não teriam acesso a serviços como cuidados de saúde ou educação.
Turk explicou que os ataques a civis continuam na Ucrânia, com pelo menos 436 pessoas mortas e 1.760 feridas entre março e maio, incluindo crianças, jornalistas, profissionais de saúde e trabalhadores dos serviços de emergência.
De acordo com o relatório do alto-comissário, nos últimos meses, a ofensiva terrestre e aérea dos ataques russos concentrou-se na região de Kharkiv, a segunda maior cidade do país e localizada perto da frente, onde desde 10 de maio cerca de 12 mil pessoas tiveram de ser evacuadas e milhares de outras foram evacuadas ou fugiram das suas casas com medo da violência.
"Os ataques coordenados e em grande escala da Rússia contra a infraestrutura energética da Ucrânia, com oito grandes ondas desde março, foram os mais difundidos desde o inverno de 2022-2023", denunciou Turk.
Durante o debate no Conselho dos Direitos Humanos, foi também apresentado um relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre a situação nas áreas ocupadas da Ucrânia, incluindo a Crimeia, que também revela graves violações das liberdades fundamentais e do direito humanitário internacional.
Estes abusos incluem detenções arbitrárias e desaparecimentos forçados, tortura e violações das liberdades de opinião, expressão, reunião pacífica e associação.