A versão renovada da doutrina nuclear da Rússia, assinada na terça-feira pelo Presidente Vladimir Putin, baixa a fasquia para o uso do arsenal atómico de Moscovo, o maior do mundo, lançando dúvidas sobre se utilização está mais próxima.
Esta nova versão permite usar estas armas em resposta até a um ataque convencional apoiado por uma potência nuclear, o que pode incluir a utilização de mísseis ATACMS fornecidos pelos EUA pela Ucrânia para atingir território russo, o que Moscovo diz ter acontecido na terça-feira.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, realçou que tais ataques poderiam ser potencialmente um gatilho para uma resposta nuclear nos termos do documento revisto, noticiou a agência Associated Press (AP).
A primeira versão da doutrina nuclear da Rússia foi assinada por Putin em 2020 e descreve quando é que a Rússia poderá recorrer ao seu arsenal atómico.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 2022, Putin e outras vozes do Kremlin têm ameaçado frequentemente o Ocidente com o seu arsenal nuclear.
Mas isso não impediu os aliados de Kiev de lhe darem milhares de milhões de dólares em armas avançadas, algumas das quais atingiram solo russo.
O documento renovado descreve as armas nucleares como "um meio de dissuasão", referindo que a sua utilização é uma "medida extrema e obrigatória".
Declara que a Rússia "faz todos os esforços necessários para reduzir a ameaça nuclear e evitar o agravamento das relações interestatais que possam desencadear conflitos militares, incluindo os nucleares".
Embora formulada de forma ampla para evitar um compromisso firme de utilização nuclear e manter o Ocidente a adivinhar a resposta de Moscovo, a versão modernizada enuncia as condições em que Putin poderia utilizar uma opção nuclear em resposta a um ataque convencional.
Há meses que estão em curso alterações à doutrina, e não é por acaso que o anúncio de terça-feira de uma nova versão surge dois dias após a decisão de Washington de permitir que a Ucrânia utilize estes mísseis de longo alcance para atingir alvos na Rússia.
Durante meses, o presidente norte-americano, o democrata Joe Biden, ponderou os riscos de tal escalada.
De acordo com o documento, qualquer agressão contra a Rússia por parte de uma potência não nuclear com a "participação ou apoio de uma potência nuclear" será vista como um "ataque conjunto" à Rússia.
O presidente pode informar os líderes militares e políticos de outros países ou organizações internacionais "sobre a disponibilidade para utilizar armas nucleares", ou que já decidiu utilizá-las.
Mesmo antes de assinar a doutrina renovada, Putin alertou os EUA e os seus aliados da NATO contra permitir que a Ucrânia atacasse a Rússia com mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente, dizendo que isso colocaria a Rússia e a NATO em guerra.
Questionado na terça-feira se um ataque ucraniano deste tipo poderia potencialmente desencadear uma resposta nuclear, Peskov respondeu afirmativamente.
Mas os EUA não registaram qualquer mudança na postura nuclear da Rússia, de acordo com um funcionário do Conselho de Segurança Nacional norte-americano que falou na terça-feira sob condição de anonimato.