Forças russas sob pressão. Ucrânia lança nova ofensiva em Kursk

por Inês Moreira Santos - RTP
Sofiia Gatilova - Reuters

A Ucrânia lançou uma nova contraofensiva em Kursk, pressionando as forças de Moscovo que tentam expulsar as tropas ucranianas da região russa nos últimos cinco meses. A informação foi avançada pelo Ministério russo da Defesa, que adiantou ainda que já esta segunda-feira a Rússia fez grandes avanços no leste do país vizinho, conquistando a cidade de Kurákhov.

No domingo à noite, as autoridades russas afirmaram estar a tentar repelir as forças ucranianas, admitindo haver combates violentos na região russa de Kursk que estavam a pressionara as forças de Moscovo. A contraofensiva foi confirmada também pelo Estado-Maior da Ucrânia, que referiu que 12 dos 42 confrontos de domingo ainda estavam a decorrer.

Também o chefe do gabinete presidencial da Ucrânia, Andriy Yermak, considerou, numa publicação nas redes sociais, que "havia boas notícias da região de Kursk" e que a Rússia estava "a receber o que merece".

"Os russos em Kursk estão a passar por grande ansiedade porque foram atacados de várias direções e isso foi uma surpresa para eles”, escreveu também no Telegram o principal responsável pelo combate à desinformação da Ucrânia, Andriy Kovalenko.

Segundo o Kremlin, as forças russas conseguiram repelir os primeiros ataques ucranianos do fim de semana, a norte de uma autoestrada em direção a Kursk. Mas de acordo com autoridades militares russas, a ofensiva ucraniana continua esta segunda-feira.

"A manhã na região de Kursk está a começar novamente de forma preocupante. É óbvio que o fracasso de ontem não vai parar o inimigo, que tentará impor a sua vontade sobre nós novamente hoje"
, publicou um correspondente militar russo, Yuri Podolyaka, no Telegram.

As tropas ucranianas entraram na região de Kursk em agosto passado, capturando parte do território e, desde então, as forças russas tentam expulsar os invasores e recuperar a região.
Rússia conquista bastião ucraniano de Kurákhov

Enquanto tenta contra-atacar os ataques de Kiev, o Exército russo tomou o bastião ucraniano de Kurákhov, na região oriental de Donestsk, após vários meses de intensos combates.

“No âmbito da ofensiva das unidades do grupo militar do Sul, a cidade de Kurákhov, o centro urbano mais densamente povoado da região sudoeste do Donbass, foi completamente libertada”, indicou também o Ministério da Defesa da Rússia na rede social Telegram.

De acordo com a mesma fonte, “durante dez anos o regime de Kiev transformou a cidade num poderoso bastião defensivo, com uma ampla rede de postos de tiro e túneis subterrâneos”. A cidade está protegida a norte pela barragem de Kurájove, “o que limitou substancialmente as possibilidades de manobra das unidades de assalto russas”.

Para defender a cidade, a Ucrânia enviou um grande número de tropas, “que incluíam unidades nacionalistas e mercenários estrangeiros, apoiados por artilharia e tanques”, afirmou a Defesa, russa segundo a qual o exército ucraniano concentrou 26 batalhões com mais de 15.000 soldados em Kurákhov .

“Graças às ações profissionais das forças russas, durante a libertação de Kurákhov o inimigo perdeu 80 por cento dos seus homens, cerca de 3.000 veículos de combate, incluindo 40 tanques e outros veículos blindados. A média diária de baixas do exército ucraniano variou entre 150 e 180 soldados, entre mortos e feridos", adiantou ainda o Ministério.

A tomada desta cidade, um importante centro logístico, "tornou consideravelmente difícil o abastecimento da retaguarda e dos militares ucranianos no setor de Donetsk, com o qual o regime de Kiev perdeu a possibilidade de bombardear a população civil de Donetsk com a sua artilharia”, explicou o comando russo.

A captura de Kurákhov permite às tropas russas entrar no espaço operacional e “aumentar a velocidade de libertação dos territórios da República Popular de Donetsk”.

O ritmo da ofensiva russa aumentou no segundo semestre do ano passado e, sobretudo a partir de agosto, as perdas territoriais aumentaram todos os meses.

As forças de Kiev estão a enfrentar escassez de mão-de-obra e têm perdido terreno no leste da Ucrânia nos últimos meses, à medida que as tropas russas avançam. A informação foi divulgada depois de a Força Aérea Ucraniana ter anunciado que a Rússia lançou outro ataque de drones contra a Ucrânia durante a noite de domingo. As defesa ucranianas abateram 61 drones nas regiões de Kiev, Poltava, Sumy, Kharkiv, Chernihiv, Cherkasy, Dnipropetrovsk, Zhytomyr e Khmelnytskyy.
Zelensky quer acordar plano de paz com Trump
No domingo à noite, o presidente ucraniano afirmou que pretende encontrar-se com o futuro presidente norte-americano para acordar um plano de paz antes de qualquer negociação com Vladimir Putin.

“Primeiro, com Trump, acordamos com ele como acabar com a guerra, como parar Putin”
, disse Volodymyr Zelensky durante uma entrevista de três horas divulgada no domingo e citada pela agência de notícias francesa AFP.

Em declarações ao “podcaster” norte-americano Lex Fridman, Zelensky defendeu que também é "muito importante para a Europa ter uma voz" nas conversações.

“Trump e eu vamos chegar a um acordo - e tenho a certeza que será capaz de oferecer fortes garantias de segurança com a Europa - e depois podemos falar com os russos”
, afirmou na entrevista gravada no final de dezembro em Kiev, durante a qual abordou um vasto leque de assuntos.

Nesta entrevista, o presidente ucraniano reiterou a esperança de que Donald Trump possa pôr fim à guerra.

“Agora vejo que quando falo de algo com Donald Trump - seja pessoalmente ou ao telefone - todos os líderes europeus me perguntam 'como correu'”
, disse, acrescentando que essa situação "mostra a influência de Donald Trump, e isto nunca aconteceu antes com um presidente norte-americano”.

Trump "dá-nos confiança de que pode acabar com esta guerra"
, disse ainda o chefe de Estado, acrescentando que acredita que partilha com o presidente eleito dos Estados Unidos "esta ideia de paz através da força, que é muito importante".

Para Volodymyr Zelensky, as declarações de Donald Trump “não são apenas palavras”.

“Estou a contar com ele e penso que o nosso povo está a contar com ele”, afirmou. “Ele tem poder suficiente para exercer pressão sobre Putin”.


c/agências

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