EUA alegam que Rússia pode recorrer a "armas químicas" na Ucrânia

por Inês Moreira Santos - RTP
Chris Kleponis - EPA

Horas depois de a Rússia acusar os Estados Unidos de estarem a financiar o desenvolvimento de "armas biológicas" na Ucrânia, a Casa Branca alertou que as alegações de Moscovo poderiam ser pretexto para "usar armas químicas ou biológicas na Ucrânia".

“Tivemos conhecimento sobre as falsas alegações da Rússia sobre supostos laboratórios de armas biológicas dos Estados Unidos e da acusação de desenvolvimento de armas químicas na Ucrânia”, escreveu Jen Psaki no Twitter. “Tudo isto é um estratagema óbvio da Rússia para tentar justificar o seu ataque premeditado, não provocado e injustificado à Ucrânia”.

A porta-voz da Casa Branca considerou as alegações russas como “absurdas” e observou que funcionários do Governo chinês também ecoaram as “teorias da conspiração” de Moscovo.

“Agora que a Rússia fez essas falsas alegações, e a China aparentemente defendeu essa propaganda, todos nós devemos estar atentos para que a Rússia possivelmente use armas químicas ou biológicas na Ucrânia, ou crie uma operação de falso pretexto para as utilizar. É um padrão claro”, sustentou.



“Isto é um absurdo. É o tipo de operação de desinformação que vimos repetidamente dos russos ao longo dos anos na Ucrânia e em outros países", escreveu Psaki. “Foram desmascarados e são um exemplo do tipo de falsos pretextos que alertamos que os russos inventariam”.

Continuando a negar as acusações do Kremlin, a porta-voz da Casa Branca declarou que os EUA conhecem as “suas obrigações sob a Convenção sobre Armas Químicas e a Convenção sobre Armas Biológicas” e não estão a desenvolver nem possuem “tais armas em lugar algum”. Além disso, é a Rússia, acrescentou Psaki, que “ tem um longo e bem documentado histórico de uso de armas químicas, inclusive em tentativas de assassinato e envenenamento de inimigos políticos de Putin, como Alexey Navalny”.

“É a Rússia que continua a apoiar o regime de Assad na Síria, que tem usado repetidamente armas químicas. É a Rússia que há muito mantém um programa de armas biológicas em violação do direito internacional”
, continuou numa série de publicações na rede social.
EUA acusam Rússia de "espalhar" mentiras

Respondendo às acusações já antigas de Moscovo, Washington acusou a Rússia de "espalhar intencionalmente" teorias da conspiração e mentiras de que os EUA e a Ucrânia se encontram a realizar atividades relacionadas com armas químicas e biológicas na Ucrânia.

"Essa desinformação russa é um absurdo total e não é a primeira vez que a Rússia inventa tais falsas alegações contra outro país. Além disso, essas alegações foram desmascaradas de forma conclusiva e repetida ao longo de muitos anos", indicou o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price.

Em causa está a tentativa da Rússia de justificar as "suas próprias ações horríveis na Ucrânia" através da invenção de falsos pretextos, segundo Price.

"Os EUA não possuem ou operam nenhum laboratório químico ou biológico na Ucrânia, estão em total conformidade com suas obrigações sob a Convenção de Armas Químicas e a Convenção de Armas Biológicas, e não desenvolvem ou possuem tais armas em nenhum lugar. (...) A Rússia tem um histórico de acusar o Ocidente dos mesmos crimes que a própria Rússia comete", frisa o comunicado.


Na quarta-feira, em conferência de imprensa, a porta-voz da diplomacia da Rússia, Maria Zakharova, fez as acusações quanto às armas químicas norte-americanas, citando o suposto desenvolvimento de antraz. Horas depois, um porta-voz da embaixada chinesa em Washington, Liu Pengyu, alegou que os EUA tinham 26 laboratórios biológicos e outras instalações relacionadas na Ucrânia.

E já esta quinta-feira o Ministério da Defesa da Rússia voltou a acusar os Estados Unidos de financiarem um programa de armas biológicas na Ucrânia, e o Kremlin assegura encontrado provas nesse sentido em laboratórios ucranianos.

"O objetivo desta investigação, financiada pelo Pentágono na Ucrânia, era criar um mecanismo para a disseminação furtiva de agentes patogénicos mortais", disse o porta-voz do ministério, Igor Konashenkov.

Moscovo diz ter apreendido documentos "apresentados por funcionários de laboratórios ucranianos" que planeiam "a transferência de biomateriais humanos da Ucrânia para países estrangeiros, a pedido de representantes norte-americanos".

O porta-voz refeiu ainda de um “projeto norte-americano para a transferência de agentes patogénicos através de aves selvagens migratórias, entre a Ucrânia e a Rússia e outros países vizinhos”.

Segundo o Kremlin, os EUA planeavam "realizar trabalhos de agentes patogénicos em aves, morcegos e répteis na Ucrânia em 2022", bem como sobre a "possibilidade de propagação da peste suína africana e do antraz".

“Nos laboratórios estabelecidos e financiados [pelos EUA] na Ucrânia, os documentos mostram que as experiências foram realizadas com amostras de coronavírus de morcego”,
adiantou o porta-voz russo, citado pela agência France Presse.

Tanto os Estados Unidos como a Ucrânia negam a existência de laboratórios destinados à produção de armas biológicas no país. As acusações da Rússia neste sentido remontam ao ano de 2018 e estendem-se também à Geórgia. Na altura, o Departamento de Estado norte-americano divulgou um relatório ao Congresso que dizia que a Rússia não tinha provado ter suspendido o uso de armas químicas e biológicas, uma determinação que abriu caminho para sanções obrigatórias contra o Kremlin e entidades próximas.
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