"Desarmar a Terra". Papa Francisco apela à paz e ao desarmamento em carta à imprensa

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Reuters

O papa Francisco fez um apelo à paz e ao fim dos conflitos numa carta enviada do Hospital Gemelli, de Roma, ao diretor do jornal italiano Corriere della Sera, Luciano Fontana. Em resposta à mensagem de apoio de Fontana durante o seu internamento, Francisco escreveu uma carta a sublinhar a importância da informação para alcançar a paz.

"Gostaria de vos encorajar, a vós e a todos aqueles que dedicam o seu trabalho e inteligência a informar, através de ferramentas de comunicação que agora unem o nosso mundo em tempo real: sintam a importância das palavras", escreveu o papa Francisco, em carta publicada esta terça-feira. "Elas nunca são apenas palavras. Podem ligar ou dividir, servir ou servir-se dela"."Temos de desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra", apelou. 

Na carta com data de 14 de março dirigida a Luciano Fontana, o sumo pontífice argentino considera que o mundo atual carece "de reflexão, de calma e de um sentido de complexidade" e que a solução para a paz "exige empenhamento, trabalho, silência e palavra".
“Enquanto a guerra só devasta as comunidades e o ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de uma nova vitalidade e credibilidade", observa Francisco. Além disso, acrescenta que "as religiões podem aproveitar a espiritualidade dos povos para reavivar o desejo de fraternidade e de justiça, a esperança de paz". 

Carta do Papa Francisco a Luciano Fontana 

Caro Diretor,

Gostaria de vos agradecer as palavras de proximidade com que quiseram estar presentes neste momento de doença em que, como já disse, a guerra parece ainda mais absurda. 

A fragilidade humana, de facto, tem o poder de nos tornar mais lúcidos em relação ao que dura e ao que passa, ao que nos faz viver e ao que mata. Talvez seja por isso que tantas vezes tendemos a negar os limites e a evitar as pessoas frágeis e feridas: elas têm o poder de questionar a direção que escolhemos, como indivíduos e como comunidade.

Gostaria de vos encorajar, a vós e a todos aqueles que dedicam o seu trabalho e inteligência a informar, através de ferramentas de comunicação que agora unem o nosso mundo em tempo real: sintam a importância das palavras. Elas nunca são apenas palavras: são actos que constroem ambientes humanos. Podem ligar ou dividir, servir a verdade ou servir-se dela. Temos de desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra. Há uma grande necessidade de reflexão, de calma, de um sentido de complexidade.

Enquanto a guerra apenas devasta as comunidades e o ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de sangue novo e de credibilidade. Por outro lado, as religiões podem aproveitar a espiritualidade dos povos para reavivar o desejo de fraternidade e de justiça, a esperança de paz.

Tudo isto exige empenhamento, trabalho, silêncio, palavras. 

Sintamo-nos unidos neste esforço, que a Graça celeste não deixará de inspirar e acompanhar.
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