Avisos da Rússia. Militares franceses seriam "alvo legítimo" na Ucrânia

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

De visita à República Democrática do Congo, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros criticou a conferência de Paz sobre a Ucrânia, que acontece no fim do mês na Suíça, e deixou avisos aos países ocidentais. Comentando as notícias recentes sobre eventuais apoios dos aliados a Kiev, Sergey Lavrov afirmou que quaisquer instrutores militares franceses em território ucraniano seriam um "alvo legítimo" para as forças russas.

Em conferência de imprensa conjunta com o homólogo congolês, Jean Claude Gakosso, o chefe da diplomacia russa comentou as informações sobre um alegado primeiro grupo de oficiais franceses que pode chegar à Ucrânia esta semana. Segundo Lavrov, há muitas provas que confirmam que os militares franceses já estão a operar na Ucrânia há algum tempo.

“Quanto aos instrutores franceses, penso que já estão em território ucraniano”, disse o ministro russo, referindo-se aos instrutores militares que o Governo francês poderia enviar para treinar as tropas ucranianas.“Independentemente do seu status, os oficiais militares ou mercenários representam um alvo legítimo para as nossas forças armadas”.

O comentário de Sergey acontece após o anúncio de que a Ucrânia assinou documentos permitindo aos instrutores militares franceses o acesso aos centros de trino ucranianos em breve.

Também o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que “os instrutores que treinam tropas do regime de Kiev não têm qualquer tipo de imunidade e não importa se são franceses ou não”.

O principal comandante das forças ucranianas disse, na semana passada, ter assinado documentos que permitiriam a entrada a instrutores militares franceses nos centros de treino do país. Contudo, o presidente francês recusou-se a comentar o que chamou de “rumores ou decisões que pudessem ser tomadas” sobre França ter tropas na Ucrânia.

Emmanuel Macron adiantou apenas que iria especificar o apoio francês a Kiev durante as comemorações do 80.º aniversário do Dia D, no fim desta semana.

Recorde-se que, em 2023, foram divulgados documentos que sugeriam que as forças especiais do Ocidente estariam em território ucraniano, principalmente tropas britânicas, norte-americanas, dos Estados Bálticos e francesas. Na altura, não foi esclarecido se esses militares estariam mesmo na Ucrânia nem o propósito da sua presença no país invadido pela Rússia.
Cimeira da Paz “não tem significado”
Sobre a conferência de Paz na Ucrânia, prevista para o fim do mês na Suíça e para a qual a Rússia não foi convidada, Lavrov disse que a cimeira “não tem significado”.

“O único significado que pode ter é tentar preservar este grupo anti-Rússia, que está em processo de desintegração”.

A Suíça já confirmou a presença de mais de 80 delegações na conferência. Nos últimos dias, a China, que aprofundou a relação com a Rússia, disse que não estaria presente. A conferência marcada para 15 e 16 de Junho tem sido promovida por Kiev como uma forma de juntar os países que defendem um acordo de paz segundo as linhas do que é proposto pelas autoridades ucranianas.

A Rússia, por sua vez, tem criticado a organização do encontro, para o qual não foi convidado nenhum representante do Kremlin, dizendo ser inútil discutir um acordo de paz sem a sua presença. 

“É uma atividade completamente absurda, um passatempo ocioso”, disse na terça-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Na mesma conferência, Jean-Claude Gakosso falou a favor da organização de uma conferência de paz sobre o acordo ucraniano com a participação de ambos os lados do conflito.

“As conversações de paz devem ser realizadas entre os dois principais intervenientes no conflito, embora não possamos ignorar o facto de a Rússia ter armas nucleares”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Democrática do Congo.

Gakosso opôs-se ao envio de armas para Kiev, dizendo que quem está a tomar decisões sobre o fornecimento de armas à Ucrânia “representam um desafio para a humanidade, empurrando-a literalmente para um conflito mundial”.

“Vivi um ano no Donbass, conheço muito bem esta região e até aprendi um pouco de ucraniano”, disse ainda o chefe da diplomacia congolês. “Portanto, penso que o que está a acontecer na Ucrânia é uma verdadeira guerra civil”.

Gakosso lembrou que foi no Congo que nasceu a iniciativa africana para o acordo na Ucrânia, lembrando que continua ativa e que o continente africano insiste numa solução pacífica para a crise.

Lavrov visitou o continente africano várias vezes nos últimos dois anos, numa altura em que a Rússia procura o apoio - ou pelo menos a neutralidade - de muitos dos seus 54 países, no contexto da invasão à Ucrânia.
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