Em dezembro do ano passado, o presidente Vladimir Putin anunciou que a Rússia era detentora de armamento muito avançado. Acrescentou que o país passava a ser o líder global em mísseis hipersónicos, cujas velocidade, manobrabilidade e altitude os tornariam difíceis de intercetar.Em discursos que remontam a 2018, Putin anunciava
uma arma hipersónica que teria a capacidade de atingir quase qualquer
ponto do mundo e escapar ao escudo antimísseis desenvolvido pelos
Estados Unidos.
Em 2019, o presidente russo ameaçou instalar mísseis hipersónicos em navios e submarinos que poderiam ser ocultados fora das águas territoriais dos EUA, caso Washington implementasse armas nucleares de alcance intermédio na Europa.
Este mês, as ameaças de Putin tornaram-se reais quando se intensificou a ofensiva militar contra alvos ucranianos. Na última semana, foram lançados mísseis hipersónicos a partir do espaço aéreo da Crimeia, tornando-se uma arma mortal impossível de intercetar, característica já reconhecida pelos norte americanos.
"Se notarem, [a Rússia] acabou de lançar o míssil hipersónico, porque é a única coisa que eles podem fazer passar com absoluta certeza", declarou Joe Biden, presidente norte-americano. "É uma arma consequente, é quase impossível pará-la. Há uma razão para eles a estarem a usar", acrescentou.
Putin descreveu o míssil como "uma arma ideal", dada a velocidade e a capacidade de superar os sistemas de defesa aérea.
"Este é um míssil capaz de transportar ogivas nucleares e acredita-se ser indetetável pelos sistemas de defesa aérea ocidentais", explicou a repórter da Aljazeera Dorsa Jabbari, a partir de Moscovo. "Está a ser chamado de míssil balístico imparável".
O Ministério da Defesa do Reino Unido minimizou a capacidade destrutiva da arma, descrevendo-a como apenas uma versão, lançada do ar, do míssil balístico de curto alcance Iskander.
O punhal
O míssil foi batizado com o nome Kinzhal, que significa punhal.
É classificado como hipersónico porque atinge pelo menos cinco vezes a velocidade do som.
Especialistas em armamento explicam que qualquer ogiva lançada de um projétil a quilómetros na atmosfera atingirá essa velocidade em direção ao seu alvo e avançam que esta não é uma tecnologia nova.
Os russos reivindicam que tem um alcance de mais de dois mil quilómetros.
De acordo com um relatório de 2021 do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, o Kinzhal é uma variante do míssil Iskander. A principal vantagem é que pode ser lançado a partir de caças MiG-31, potenciando um maior alcance e a capacidade de atacar em várias direções.
"O MiG-31K pode atacar em direções imprevisíveis e evitar tentativas de intercetação. O veículo transportador aereo também pode ser mais esquivo do que o sistema Iskander móvel de estrada".
De acordo com o mesmo documento, "o Iskander lançado no solo provou ser vulnerável a sistemas de defesa antimísseis durante a guerra de Nagorno-Karabakh de 2020, durante a qual as forças azeris intercetaram um Iskander arménio".
"Isto sugere que as alegações de invulnerabilidade do Kinzhal aos sistemas de defesa antimísseis também podem ser um pouco exageradas", observou o relatório.
Os Estados Unidos e os aliados da NATO, como a Eslováquia, estão a enviar vários sistemas de mísseis terra-ar para a Ucrânia, tendo em vista ajudar na defesa contra a invasão russa.
Estreia do Kinzhal
Segundo o Ministério da Defesa da Rússia,
"a 18 de março, o sistema de mísseis de aviação Kinzhal com mísseis aerobalísticos hipersónicos destruiu um grande depósito subterrâneo de mísseis e munição de aviação das tropas ucranianas na vila de Delyatin, região de Ivano-Frankivsk".
As autoridades norte-americanas confirmaram que a Rússia lançou mísseis hipersónicos sobre a Ucrânia.

Um míssil balístico hipersónico de curto alcance não detonado em Kramatorsk, segundo as autoridades ucranianas| Serviço de imprensa da Guarda Nacional da Ucrânia - Reuters
Estes lançamentos, possivelmente, pretendem testar as armas e enviar uma mensagem ao Ocidente sobre as capacidades russas, acrescentaram.
Lloyd Austin, secretário norte-americano da Defesa, descreve a atitude de Putin como tentativa de "restabelecer algum impulso" na invasão da Ucrânia.
Durante uma entrevista à CBS,
Austin lançou algumas questões a Putin, sugerindo que a dificuldade de progresso terrestre poderia dever-se à falta de pontaria, a défices de munições guiadas ou a falta de "confiança na capacidade das suas tropas para restabelecer o impulso".