Nascido a 25 de janeiro de 1942, Eusébio cedo começou a mostrar o seu talento e habilidade para o futebol. No bairro da Mafalala, num dos lugares mais pobres de Maputo, a lenda benfiquista e portuguesa começou a dar os primeiros pontapés numa jornada de sucesso que espalhou pelo mundo inteiro.
Três anos mais velho que Eusébio, Hilário da Conceição explicou que a primeira equipa em que jogaram juntos foi o Futebol Clube Arsenal, quando ainda eram crianças.
Na altura, como explicou o proeminente defesa dos leões, o “Pantera Negra” não jogava com regularidade devido à sua estatura, mostrando, no entanto, habilidade para o futebol.
O antigo internacional português chegou a revelar que foi uma das pessoas que indicou Eusébio ao presidente do Sporting de Lourenço Marques, primeiro clube profissional que a lenda benfiquista representou.
Assim começou uma carreira no futebol. Com mais de 40 partidas disputadas pela filial sportinguista em Lourenço Marques, Eusébio marcou por 77 vezes e chamou a atenção dos clubes da metrópole (designação para o território português durante o Estado Novo).
Chegado ao Benfica, o jogador só pôde jogar pelos encarnados em 1961. A primeira partida aconteceu frente ao Atlético, num jogo de reservas, em que o “Pantera Negra” marcou por três vezes.
Tornou-se, ao longo do tempo, uma referência no ataque benfiquista e um autêntico pesadelo para os defesas adversários.
Um deles foi seu colega de seleção. José Carlos, do Sporting, defrontou durante vários anos Eusébio e jogou com ele, a representar as cores de Portugal.
Como atesta o defesa, o King foi sempre um jogador difícil de marcar, quer estivesse em má ou boa condição física.
“É um jogador de uma técnica apurada e de um poder físico notável e que joga bem, essencialmente, de trás para a frente”, comentou a antiga glória leonina.
Eusébio mostrou o seu futebol ao mundo. Jogador rápido, que conduzia a bola com grande facilidade pelos relvados, com uma finta apurada e um remate forte e certeiro, difícil para os guarda-redes de defenderem.
José Carlos, mesmo jogando no maior rival do Benfica, admitiu, na altura, que Eusébio era um atleta nato que podia resolver partidas de um momento para o outro.
“A equipa do Sporting tem defrontado muitas vezes o Eusébio e tanto eu como os meus camaradas olhamos sempre para Eusébio com um ar de respeito”, concluiu.
Da seleção para o mundo
Eusébio estrou-se na seleção nacional em 1961, frente ao Luxemburgo. Portugal perdeu por 4-2, num resultado considerado vergonhoso e Eusébio marcou por uma vez, estreando-se a encontrar as redes adversárias pela equipa das quinas.
O apogeu de Eusébio por Portugal aconteceu em 1966, em Inglaterra.
No entanto, um ano antes, o “Pantera Negra” ficou na história por ser o primeiro jogador português a receber a Bola de Ouro, atribuída pela France Football. O antigo jogador do Benfica bateu o italiano Giacinto Fachetti e o espanhol Luís Suárez Miramontes.
Com uma vitória inédita no futebol nacional, várias foram as figuras que congratularam o King.
Um deles foi Bella Guttman, treinador húngaro, bicampeão europeu com o Benfica e que conseguiu trazer Eusébio para os encarnados, vindo de Moçambique.
Em 1965, o técnico enalteceu a justiça da vitória do jogador português e pediu para que continuasse a ajudar o Benfica a vencer tanto o campeonato nacional português como a Taça dos Campeões Europeus, que veio para Lisboa nos anos de 1961 e 1962.
Por parte do húngaro veio também um pedido de que a seleção portuguesa pudesse regressar de Inglaterra, após o Mundial, com o troféu ganho.
Para além do treinador no Benfica, também o selecionador nacional mostrou o seu apreço por Eusébio e a justiça da vitória no estrangeiro.
Otto Glória, treinador brasileiro, o lendário selecionador que levou Portugal ao terceiro lugar no Mundial da Inglaterra, até hoje, a melhor classificação da Seleção Portugal em Campeonatos do Mundo.
Tal como Bella Guttman, Otto Glória pediu que o jogador não se deixasse levar pela fama que o prémio lhe deu e pediu total compromisso do internacional português para demandas próximas.
O próprio Eusébio realizou declarações sobre a grande vitória que auferiu em 1965. Sem perder a humildade que o caraterizou durante toda a sua carreira, o jogador português mostrou que a Bola de Ouro apenas o tornou mais focado.
Em declarações após saber da vitória atribuída pela France Football, Eusébio revelou que apenas queria continuar ajudar o Benfica a vencer títulos e prometeu continuar a deslumbrar o mundo do futebol, com ajuda dos seus companheiros.
No Mundial de 1966, o “Pantera Negra” realizou uma grande competição. Ajudou Portugal a chegar ao pódio, que acabou por ser liderado pela Inglaterra.
No entanto, Eusébio demonstrou o perfume do seu futebol por terras de sua majestade e acabou por vencer o prémio da Bola de Ouro do Mundial de 1966, com nove golos marcados. Destaque para o bis averbado frente ao Brasil, do lendário Pelé, e o póquer marcado à Coreia do Norte, numa reviravolta histórica de 0-3, para 5-3.
O frente-a-frente com o ídolo Di Stéfano
Alfredo Di Stéfano. Uma das maiores lendas do futebol mundial e o grande ídolo de Eusébio. Na final da Taça dos Campeões em 1962, Benfica e Real Madrid defrontaram-se pelo troféu mais importante da Europa.
Os madrilenos começaram melhor na partida e estiveram a vencer por 3-1. No entanto, Eusébio marcou os últimos dois golos da vitória encarnada, num resultado fixado nos 5-3. Segunda Taça dos Campeões Europeus para o Benfica e primeira para o palmarés do avançado.
Apesar de ter conseguido vencer o maior troféu do futebol europeu, o jogador português revelou, em entrevista, que o maior prémio ganho nesse dia foi a camisola de Alfredo Di Stéfano.
O “Pantera Negra” declarou que correu para pedir a recordação ao argentino e que quando a conseguiu, fugiu com a camisola do ídolo escondida dos seus calções.
"A taça para mim não me dizia nada. O importante para mim era ter a camisol do Alfredo Di Stéfano", comentou o antigo jogador do Benfica.
Vida desportiva repleta de prémios
Enquanto esteve em atividade, Eusébio venceu inúmeros prémios levando o nome do Benfica e de Portugal aos píncaros do mundo futebolístico.
Enquanto atleta dos encarnados, o "Pantera Negra" venceu 11 campeonatos. A sua influência é bem demonstrativa, já que foi, por sete vezes, o melhor marcador do campeonato português. A este pecúlio juntou também cinco taças de Portugal.
No entanto, os maiores prémios da vida desportiva do jogador vieram com a atribuição da Bola de Ouro em 1965, pela France Football. Em 1968 e 1973 venceu duas Botas de Ouro, tornando-se no melhor marcador das ligas europeias.
Para a história e palmarés da vida desportiva de Eusébio ficará também a distinção da Federação Internacional de História e Estatística do Futebol que o considerou o nono melhor jogador do século XX, numa lista liderada por um dos seus bons amigos, o brasileiro Pelé.