André Reis assume rutura na Associação dos Treinadores de Futebol

por Lusa

André Reis chefia uma candidatura de rutura à liderança da Associação Nacional dos Treinadores de Futebol (ANTF), procurando bater Henrique Calisto nas eleições de 31 de maio para suceder a José Pereira, presidente desde 2013.

“A nossa candidatura é de alternativa à gestão dos últimos anos. Isso pressupõe que terá sempre de ser uma de rutura, mas não significa que, por princípio, seja contra tudo o que foi feito e ignore as boas coisas. Não apontará o dedo ao José Pereira nem dirá que tudo foi mal feito, mas a nossa posição é clara: as políticas seguidas por esta direção não vão ao encontro daquilo que os treinadores necessitam hoje”, enquadrou o técnico-adjunto de São Tomé e Príncipe e dos lituanos do Babrungas Plunge, em entrevista à agência Lusa.

Em janeiro, ao anunciar a candidatura ‘ANTF ao serviço de todos os Treinadores’, André Reis, de 37 anos, criticou a desvirtuação da associação, comparando-a a “uma ordem profissional, cuja representação e defesa dos técnicos não está devidamente garantida”.

“Entendemos que há muita coisa que poderia e deveria ser feita de forma diferente, mas nem sequer foi abordada pela atual direção, que já teve diversas oportunidades de fazer bastante coisa em prol dos treinadores masculinos e femininos de futebol, futsal e futebol de praia. Infelizmente, pouco ou nada se viu até à data”, adicionou o consultor de gestão.

Licenciado em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e pós-graduado em Marketing e Gestão do Desporto pela Universidade Lusófona, André Reis treinou em vários escalões nos últimos 10 anos, incluindo nos sub-14 e sub-15 do campeão nacional Sporting (2017/18), no qual também chegou a trabalhar como observador técnico (2019).

“Acompanho há algum tempo os trabalhos da ANTF, mas um bocado mais pela calada. É certo que não tenho tido uma participação muito ativa na vida da associação, mas explica-se por uma questão muito simples: aqueles que estão comigo e que partilham os nossos princípios e ideias para a associação não se identificam com o que tem sido feito”, notou.

O candidato descarta menosprezar a constituição da lista de Henrique Calisto, mas traça diferenças com o ex-técnico, que, para já, só anunciou o atual ‘vice’ Manuel Gomes, mais conhecido como professor Neca e aspirante à presidência da Mesa da Assembleia Geral.

“Já é demonstrativo de que não haverá uma rutura em termos de programa eleitoral e de quem irá compor essa lista candidata. Arrisco-me até a dizer que não estamos a falar de uma candidatura de futuro, mas de continuidade”, avaliou o técnico natural de Tomar, que também é vereador na Câmara Municipal de Belmonte, vila do distrito de Castelo Branco.

Do lado de André Reis já foram anunciados Daúto Faquirá, proposto para vice-presidente da direção, na qual Cristiana Teixeira, Roger Augusto e Roger Pinheiro seriam vogais, e Sandro Mendes, para ‘vice’ da Mesa da Assembleia Geral, numa candidatura que tem o advogado Ricardo Henriques Tomás, antigo ‘vice’ do Sporting, como mandatário judicial.

“Há dois candidatos do futsal, sete representantes do futebol feminino - além do apoio já anunciado do professor Nuno Cristóvão -, e um ex-treinador de futebol de praia. Temos representantes de norte a sul do país, no estrangeiro ou nas ilhas e estamos também em vias de conseguir garantir a lei da paridade. Somos uma candidatura diversificada, muito equilibrada e representativa de tudo o que a ANTF deve defender e representar”, referiu.

Portador do segundo nível de treinador e inscrito no terceiro grau no estrangeiro, face ao limitado número de vagas nos cursos da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), André Reis promete tratar por igual todos os núcleos da ANTF - Porto, Lisboa, Braga, Setúbal e Portalegre - e vai dar visibilidade ao futebol feminino na corrida para o triénio 2025-2028.

“É extremamente importante incluir uma área que está em tão franco crescimento e que, por vezes, até cresce mais depressa face àquilo a que realmente consegue dar resposta no momento. Temos de ter essa representação, já que o ponto de vista técnico da mulher e do homem são completamente diferentes e cada vez temos mais treinadoras”, indicou.

ANTF a ministrar cursos de treinadores entre propostas do candidato André Reis

 A lecionação de cursos formativos dos quatro graus pela Associação Nacional dos Treinadores de Futebol (ANTF) faz parte das propostas de André Reis, um dos dois candidatos públicos à sucessão de José Pereira na presidência.

“O caminho é capacitar a ANTF para lecionar, em complemento à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e às associações regionais. Não me parece que seja muito complicado de concretizar nos dois primeiros níveis, porque já temos entidades particulares a lecioná-los e depende única e exclusivamente da vontade da ANTF. Os dois seguintes envolvem diálogo, mas também me parece um caminho possível e fácil”, disse o técnico-adjunto de São Tomé e Príncipe e dos lituanos do Babrungas Plunge, em entrevista à agência Lusa.

Recordando os casos de Ruben Amorim e do sucessor João Pereira, que foram multados no início das respetivas passagens pelo campeão nacional e líder da I Liga Sporting, face à falta de habilitações para exercerem as funções de treinador principal, André Reis quer “ser parte de soluções ativas” em detrimento de “acusar e quase perseguir” a sua classe.

“Uma das abordagens é criar mais vagas e cursos de nível três e quatro. Por exemplo, é muito simples entrarmos num curso de terceiro nível na Escócia, mas deveríamos dar condições à nossa classe de ter a continuidade da formação inicial em Portugal”, notou.

O consultor de gestão vê uma “janela de oportunidade muito boa” nas negociações junto da FPF, cujo novo presidente, Pedro Proença, prometeu ampliar as vagas, sobretudo no terceiro nível, de maneira a mitigar a falta de formação em cargos do futebol profissional.

“Em último caso, se os diálogos com a FPF não forem frutíferos, há que recorrer à UEFA, que, pela tendência que tem demonstrado em outros países, também parece querer que as associações de treinadores de futebol tenham uma palavra a dizer nos cursos. Sendo uma delas, a ANTF dispõe da melhor mão-de-obra para lecioná-lo em seu nome”, frisou.

André Reis deseja ainda que a ANTF tenha uma palavra nas listas finais de admissão de candidatos aos cursos, pugnando por “vagas especiais supranumerárias” ao lote original.

“Era quase como uma entidade fiscalizadora para evitar situações de colegas que talvez não estivessem nas melhores condições para serem admitidos, mas, por força de algum conhecimento ou por se encontrarem numa certa posição nesse momento, passaram à frente de colegas com 10 ou mais anos de experiência em campeonatos nacionais, em condições de igualdade e capacitados para frequentar o curso em Portugal”, enquadrou.

Outra medida sugerida por André Reis é salvaguardar acordos nas situações em que um técnico é contratado para trabalhar num nível competitivo acima das suas qualificações.

“A solução passa pelo acordo multilateral entre o treinador que não tem, por exemplo, as habilitações para treinar na I Liga, a tutela da competição e a ANTF, que, como mediador ou sindicato, assumisse uma posição de garante no cumprimento deste acordo”, avaliou.

Nesses casos, e à semelhança de outros países europeus, o técnico “comprometia-se a frequentar o próximo curso conferente à habilitação necessária para treinar numa prova”.

“A tutela da competição aceita que ele fosse inscrito em condições de igualdade com os demais que têm habilitação e a entidade formadora assume a outra parte desse acordo, garantindo-lhe uma vaga supranumerária no próximo curso conferente de habilitação que vier a abrir. Se, entretanto, o treinador deixar de exercer funções neste patamar, perde o direito à vaga supranumerária, mas é obrigado a concorrer à mesma e, se for admitido, a frequentar o curso, sob pena de não poder voltar a usar essa norma de exceção”, expôs.

Em 31 de maio, no ato eleitoral da associação rumo ao triénio 2025-2028, André Reis ou Henrique Calisto, um dos fundadores, sucederão a José Pereira, presidente há 13 anos.

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