Paulo Sousa, o “romântico” que ambiciona ganhar a ‘Champions’
As lesões obrigaram Paulo Sousa a encerrar a carreira de futebolista aos 31 anos, mas abriram-lhe o caminho dos ‘bancos’, onde espera poder repetir a conquista de uma Liga dos Campeões, agora como treinador.
“Era para começar pela primavera [juniores] de uma equipa italiana”, revelou o atual treinador do Bordéus, em entrevista à agência Lusa, lembrando que o caminho acabou por ser ‘atalhado’ com o convite do Queen’s Park Rangers, da II Liga inglesa, onde também orientou o Swansea e o Leicester.
Videoton (Hungria), Maccabi Telavive (Israel), Basileia (Suíça), Fiorentina (Itália) e Tiajin Quanjin (China) foram os passos seguintes, sendo que na Suíça, em 2014/15, ganhou forma uma ambição de carreira.
“A minha evolução permitiu-me pensar que, em cinco anos, seria campeão da Europa por clubes. É um dos meus objetivos de carreira, é algo que acredito que vai acabar por acontecer”, salientou, depois de ter levantado o troféu máximo europeu enquanto jogador, ao serviço de Juventus e Borussia Dortmund, em 1996 e 1997, respetivamente.
Outro dos objetivos de Paulo Sousa passa pelo campeonato português, de onde chegaram algumas abordagens no passado e no qual ambiciona vir a treinar: “Nunca fechei a porta a ninguém e respeito todos os clubes que pensam em mim. Até ao dia de hoje, não existiu essa mesma possibilidade, mas no futuro isso vai acabar por acontecer”, sustentou.
O antigo futebolista gostava de continuar a ver o Sporting de Braga “como um concorrente” dos três ‘grandes’, embora lembrando que existe “uma grande diferença qualitativa de Benfica e FC Porto em relação aos outros”.
Já o “volte-face” no último campeonato, conquistado pelo Benfica, assentou na “qualidade” que existia nos ‘encarnados’, associada à “grandeza do próprio clube”.
“Foi um acréscimo, que lhes permitiu elevar a confiança e a qualidade do jogo, que o Bruno Lage também ofereceu. Acabaram por ser competitivos ao ponto de ganharem o campeonato”, analisou.
O antigo médio, conhecido pela capacidade técnica e inteligência tática que oferecia à posição ‘6’, confessou-se um “romântico” e assumiu que gosta de ter nas suas equipas um centrocampista com as características que ele próprio tinha.
“Sou um romântico, gosto que as minhas equipas sejam muito poéticas. Há dois jogadores determinantes numa primeira fase de construção: o guarda-redes e o médio de construção. Esse médio é realmente um jogador fundamental”, transmitiu à Lusa.
O sueco Sven-Goran Eriksson viu no então jovem ala e ‘número 10’, de 18 anos, capacidades para atuar na posição mais recuada do meio-campo do Benfica, mas Paulo Sousa destacou o “privilégio” de ter atuado à frente de “dois senhores do futebol, [os centrais] Ricardo Gomes e Mozer”, que o “orientaram” e ajudaram a “evoluir para um futebol de qualidade diferente”.
Se no futebol atual Paulo Sousa não encontra uma ‘cópia’ sua, houve, no entanto, um jogador que acentuou o virtuosismo da posição ‘6’.
O português Paulo Sousa pretende ajudar a fazer ‘renascer’ o Bordéus, um “monstro adormecido” que terá de passar por uma reestruturação antes de voltar a lutar por títulos no futebol francês, que vai contar com três técnicos lusos.
“Foi a primeira vez que tomei a decisão de entrar num projeto quase no final de um campeonato”, afirmou o antigo internacional português, que lidera os girondinos desde março, em entrevista à agência Lusa.
Identificadas as “dificuldades” de um plantel no qual faltavam intervenientes capazes de explanar o futebol idealizado pelo treinador, o Bordéus terminou a Liga francesa na 14.ª posição e ainda se encontra numa fase prematura da sua recuperação enquanto um dos principais emblemas gauleses.
“Encontrei em alguns jogadores potencial maior do que tinha analisado inicialmente e noutros menos. É um clube em transformação, um monstro do futebol mundial, adormecido, que necessita de uma reestruturação e fundações muito fortes. Nestes meses, procurámos identificar as prioridades, que nos permitam competir ao nível da história do clube”, analisou.
De resto, Paulo Sousa foi perentório quanto a uma presença nas competições europeias a curto prazo: “O que falámos, antes de eu assinar, não é para chegar a um espaço europeu já na próxima época. Estamos atrasados em relação a outras equipas. É um clube que foi comprado há pouco tempo e o estofo económico para esta época é muito curto. Foram muito claros a transmitir-me isso.”
O técnico, de 48 anos, referiu que “não bastam dois ou três meses” para recuperar o Bordéus e deu mesmo o exemplo do Benfica, que “passou vários anos a reestruturar-se” para alcançar os “resultados à imagem da grandeza do clube”.
A próxima edição do campeonato francês contará com três treinadores portugueses, já que a Paulo Sousa e Leonardo Jardim, este no Mónaco, juntar-se-á André Villas-Boas, novo ‘timoneiro’ do Marselha e que, segundo o antigo médio, “vai ajudar a subir o nível” dos marselheses.
“O treinador português é supercriativo, com capacidade para ultrapassar as dificuldades. Somos muito evoluídos e competitivos. Acredito que o André vai aumentar a qualidade, apesar de todas as dificuldades que o projeto do Marselha lhe vai trazer”, referiu à Lusa.
Se Mourinho foi “o grande protagonista a abrir as portas do mercado da Europa ao treinador português”, Leonardo Jardim também contribuiu em França, “pelos resultados que atingiu”, inclusive com a conquista de um campeonato, em 2017.
Com passagens por Itália, como jogador e treinador, Paulo Sousa comentou também a chegada de Paulo Fonseca à Roma, considerando que o antigo técnico do Shakhtar Donetsk vai “crescer ainda mais” na ‘Serie A’.
“É um país muito exigente, onde vai ter colegas que o vão ajudar a crescer, que criam dificuldades jogo após jogo, treinadores muito detalhistas. Espero que tenha o maior sucesso e que comprove, mais uma vez, o sucesso dos nossos treinadores”, salientou o antigo futebolista de Benfica, Sporting, Juventus, Borussia Dortmund, Inter Milão, Parma, Panathinaikos e Espanyol.