Guimarães defronta Betis em busca dos `quartos` e de reeditar proeza europeia
O Vitória de Guimarães procura na quinta-feira dar o primeiro passo em direção aos 'quartos' da Liga Conferência de futebol, igualando o melhor desempenho nas provas continentais, ao visitar o Betis, em jogo dos oitavos de final.
Para igualarem essa proeza e marcarem encontro nos ‘quartos’ com o vencedor do confronto entre os polacos do Jagiellonia e os belgas do Cercle Brugge, os vimaranenses precisam de ultrapassar a equipa espanhola em duas mãos, na quinta-feira, em Sevilha, e uma semana mais tarde, em 13 de março, em Guimarães.
Os vitorianos efetuaram um percurso próximo do brilhantismo na nova fase de liga, sem qualquer derrota (quatro vitórias e dois empates), terminando no segundo lugar, apenas atrás dos ingleses do Chelsea, a outra única equipa invicta e que se afigura como uma espécie de vencedora antecipada da edição de 2024/25.
A caminhada na primeira fase da prova permitiu ao Vitória de Guimarães escapar ao play-off de acesso aos oitavos de final – no qual o Betis se desembaraçou dos belgas do Gent -, mas o sorteio, que poderia ter colocado no seu caminho os dinamarqueses do Copenhaga, foi pouco generoso.
O Bétis, no qual alinha o médio internacional português William Carvalho, foi apenas 15.º classificado na fase de liga da terceira competição europeia de clubes, mas dificilmente o Vitória de Guimarães poderá ser considerado favorito na eliminatória.
Os espanhóis ocupam o sexto lugar na La Liga e acabaram de alcançar um sensacional triunfo na receção ao Real Madrid (2-1), que impediu o campeão espanhol e europeu de se manter na liderança do campeonato, enquanto a formação portuguesa, sétima colocada na I Liga, já conheceu melhores dias.
O bom início de temporada, em especial na Liga Conferência, valeu ao treinador Rui Borges um convite para substituir Ruben Amorim no Sporting e um encaixe recorde de 34 milhões de euros no ‘mercado de inverno’, mas deixou ao novo técnico, Luís Freire, um plantel substancialmente menos valioso.
As saídas de Manu Silva (Benfica), Kaio César (Al Hilal, Arábia Saudita), Alberto Costa (Juventus, Itália), Jorge Fernandes (Al Fateh, Arábia Saudita) e Nélson Luz (Qingdao West Coast, China) ajudaram a agravar a série de maus resultados: os minhotos ganharam dois dos últimos 13 jogos, em todas as competições.
Além de Luís Freire, há mais dois treinadores portugueses com possibilidade de erguer o troféu, Rui Vitória e Gonçalo Feio, que orientam os gregos do Panathinaikos e os polacos do Legia Varsóvia, respetivamente, e defrontam os italianos da Fiorentina e os noruegueses do Molde.
Presente nos jogos com Sparta de Praga, da então Checoslováquia, Atlético de Madrid (Espanha), Groningen (Países Baixos) e Borussia Mönchengladbach, formação alemã que eliminou os minhotos, o antigo defesa central crê que o Vitória treinado por Luís Freire tem “uma palavra a dizer” na tentativa de replicar a melhor campanha europeia dos minhotos, perante um adversário que considera favorito.
“O principal segredo tem de ser uma equipa com entreajuda entre os setores todos, com um espírito de grupo muito grande e muita vontade. Pode ser que seja preciso algum tipo de 'estrelinha'. No futebol, é preciso”, afirmou à Lusa o ex-jogador, de 61 anos, ao perspetivar a eliminatória que começa na quinta-feira, em Sevilha.
O antigo internacional português crê que atribuir favoritismo ao Betis, sexto classificado da Liga espanhola, após vencer o Real Madrid (2-1) no domingo, é “melhor para o Vitória”, por lhe retirar “responsabilidade de ganhar”, assim como o facto de a primeira mão se jogar fora e a segunda em Guimarães, em 13 de março.
“Geralmente, quando o primeiro jogo é na casa da equipa adversária, há sempre uma hipótese mais alargada de dar a volta em nossa casa, apesar de o Betis estar a jogar muito bom futebol. Está a ser uma das ‘revelações’ em Espanha. Vai ser complicado, mas há sempre a possibilidade de vencer”, acrescentou.
Natural de Guimarães e formado no Vitória, clube que representou entre as épocas 1984/85 e 1987/88, Miguel enaltece “a campanha bonita e espetacular” na Liga Conferência, com 10 triunfos e dois empates, mas crê que os adversários de 1986/87 eram “muito mais difíceis”, numa prova que era também a terceira na hierarquia da UEFA, atrás da Taça dos Campeões Europeus e da Taça das Taças.
Os minhotos garantiram o acesso aos ‘quartos’ da Taça UEFA em 10 de dezembro de 1986, com um triunfo por 3-0 sobre o Groningen que inverteu a derrota por 1-0 da primeira mão, numa tarde de quarta-feira com lotação esgotada no Estádio Municipal de Guimarães para assistir aos golos de Nascimento, N’Dinga e Paulinho Cascavel, melhor marcador dessa edição da prova, com cinco golos.
Além de valer “um feito histórico” para os vimaranenses, o antigo defesa crê que esse jogo demonstrou a confiança de uma equipa que foi ainda terceira classificada na então I Divisão, sob o comando de Marinho Peres, antigo jogador e treinador que morreu em 2023.
“O plantel do Vitória era recheado de bons jogadores. (…) As equipas adversárias temiam o Vitória nessa altura. Apesar de termos perdido por 1-0 lá [em Groningen], tínhamos confiança no nosso valor para mudar a eliminatória a nosso favor”, lembra o ex-jogador, que representou ainda Sporting e Gil Vicente no escalão maior do futebol luso.
Miguel confessa, porém, que a façanha que mais o marcou nessa época foi a eliminação do Atlético de Madrid, com um triunfo por 2-0 na ‘cidade-berço’, em 22 de outubro de 1986, e uma derrota por 1-0 no Estádio Vicente Calderón, em 05 de novembro, num desafio marcado pela hostilidade dos adeptos ‘colchoneros’.
“O ambiente até nos deu mais força para lutar ainda mais durante os 90 minutos. Fomos ameaçados de morte a entrar no estádio. Tínhamos de ser vigiados por polícias a cavalo, ao lado do autocarro que nos levou. Íamos no autocarro e só ouvíamos os madrilenos a dizer: ‘Muerte! Muerte! Muerte! [Morte! Morte! Morte!, em português]’”, descreve.
O ex-jogador defendeu, aliás, que os vitorianos devem estar motivados para o eventual ambiente hostil do Estádio Benito Villamarín, ao defrontarem a equipa do internacional português William Carvalho, num jogo marcado para as 18:45 locais de quinta-feira (17:45 em Lisboa), e considerado de alto risco pela Comissão Antiviolência do Conselho Superior dos Desportos (CSD) de Espanha.
“Quando encontrava esses ambientes, era o que me motivava mais. Parece que 'trincava a língua' para dar mais um bocadinho. Os jogadores já estão habituados ao ambiente do Estádio D. Afonso Henriques, que também não é fácil. Sabemos como é a massa [adepta] do Vitória, é do 'oito ou do 80'. Eles devem estar preparados”, ressalva.