Carlos Queiroz quer atos e não promessas para qualificar Irão para Mundial2018
Carlos Queiroz diz que não pode continuar a viver de promessas e aguarda uma resposta da federação iraniana para saber se pode aplicar o plano de preparação que permita qualificar o país para o Mundial de futebol.
É o próprio selecionador iraniano que questiona: "Como é que uma seleção que é a melhor da Ásia há cinco anos consecutivos, número um do 'ranking' asiático, que não perde há ano e meio, que lidera o seu grupo de qualificação para o Mundial, continua a treinar num campinho de 60 metros, quando toda a gente sabe que um campo de futebol não tem 60 metros?"
Dizque se sente na obrigação de lutar, mesmo que o tenha de fazer sozinho, para que a seleção iraniana "tenha melhores condições para corresponder às suas próprias ambições e, sobretudo, às expetativas dos adeptos, os quais, neste momento, exigem mais e melhor".
"Como treinador a qualificação não me basta, mas devo dizer que, para mim, seria um registo histórico no futebol mundial quase sem paralelo, porque seria a primeira vez que um selecionador conseguiria qualificar -- não é estar presente -- quatro seleções para Mundiais" (Portugal, Irão, África do Sul e outra vez com Irão, que se qualificaria duas vezes consecutivas para um Mundial), revela Carlos Queiroz.
Confrontado com uma afirmação que fez há alguns meses, na qual acusava alguns agentes do futebol iraniano de minar o seu trabalho à frente da seleção, explicou que existem sempre conflitos entre clubes e seleções e que a FIFA, através da sua regulamentação, normaliza tais situações.
No entanto, segundo Queiroz, o quadro regulamentar da FIFA "não nasceu para proteger as seleções do Irão, dos Estados Unidos, da Costa do Marfim e da Ásia em geral, mas para proteger as relações dos grandes clubes e grandes seleções onde todo o trabalho está feito".
"Existem dois tipos de países no mundo, aqueles em que toda a formação é feita nos clubes, e as equipas nacionais são a consequência desse trabalho, e os outros em que as respetivas Federações são a máquina que puxa todo o comboio de desenvolvimento do futebol, como é o caso do Irão, e onde é feita a formação de elite", explicou Carlos Queiroz, que fala de "um plano de preparação mais ambicioso e efetivo, que não pode restringir-se aos princípios regulamentados pelas relações entre a FIFA e os clubes".
É neste ponto, de acordo com Queiroz, que o 'piano desafina': "A Federação aprova um plano de preparação em concertação com os clubes e na altura em que se inicia esse plano surgem instituições ou treinadores que resolvem, quando a seleção está a treinar, entrar em conflito e boicotar o trabalho, impedindo que a seleção execute programas fundamentais para o sucesso do próprio país".
Segundo Queiroz, lá como cá, o futebol tem interesses, jogos políticos entre clubes e seleção, mas alguém tem de mandar e não é o treinador, é o presidente [da Federação], e se não houver esse caminho, que é o único em que acredita poder garantir o sucesso, fica limitado e não está lá a fazer nada.
"Foi isso que expus e estou à espera que a situação seja definitivamente resolvida, que não está. Estão prometidas essas condições e não podemos continuar a viver de promessas porque os jogos com o Qatar e a China estão aí à porta, há que passar aos atos", acrescentou Queiroz.
Recorda que ao chegar chegou ao Irão, há quase seis anos, a seleção tinha um jogador no estrangeiro, mais precisamente na Europa, e agora tem 14 e explica que tal só foi possível porque dirigiu e construiu um projeto muito à semelhança do fez no futebol português há muitos anos.
"Já conseguimos três qualificações desde que lá estou, a seleção não perde há ano e meio, é extremamente jovem e vem num crescendo, mas se não forem dadas garantias para que continue a trabalhar, a ter estágios, treinos e jogos amigáveis, não podemos trazer para os jogadores iranianos a experiencia necessária para a competição internacional. Pode-se ter qualidade, mas se não se tiver experiência compromete-se o sucesso", disse Carlos Queiroz, para quem, a juntar às questões financeiras, "tem de haver a vontade política, autoridade e coragem para defender as ideias e programas que se pensa necessários ao sucesso".