Agência europeia pede "cartão vermelho" para assédio e violência contra mulheres

por Lusa

A Agência da União Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA) condenou hoje com um "cartão vermelho" o assédio e a violência contra as mulheres, quer aconteça no futebol, no trabalho ou no caminho para casa.

"É tempo de mostrar um cartão vermelho contra esta violação dos direitos humanos", afirmou a agência em comunicado, instando os países da União Europeia a protegerem mais as mulheres e apoiarem mais as vítimas.

A maioria das mulheres na União Europeia experienciou algum tipo de assédio sexual ou violência, segundo a agência.

"Este grave abuso dos direitos humanos é uma realidade diária para mais de metade da população da UE", lê-se no documento.

Os dados recolhidos pela agência num inquérito revelam que duas em cada cinco raparigas (43%) entre os 18 e os 19 anos de idade experienciaram toques não consentidos, abraços e beijos. Mais de metade das mulheres (55%) sofreu assédio sexual desde os 15 anos.

De acordo com a mesma fonte, uma em cada três mulheres (33%) foi sujeita a violência física/sexual. Para um terço das vítimas, o agressor foi o chefe, um colega ou um cliente.

Porém, a maioria das mulheres não reportou a qualquer instância a violência ou o assédio: "Muitas acharam que a polícia não iria fazer nada, sentiram vergonha ou temeram agravar" a situação.

"O assédio e a violência podem ter um impacto devastador na vida das mulheres, desde as agressões físicas às consequências psicológicas", adverte a agência.

O organismo europeu cita dados do Eurostat para lembrar que todos os anos são mortas centenas de mulheres pelos parceiros.

O debate atual mostra que os países da UE têm de fazer mais para combater o assédio e a violência contra as mulheres, defendeu a agência europeia.

"Todos os países deveriam assinar a Convenção de Istambul para prevenir e combater a violência contra as mulheres e a violência doméstica. Até à data, apenas 21 estados da União o fizeram", sublinhou a agência, defendendo igualmente que os governos devem assegurar meios à polícia, à justiça e ao setor da saúde, para trabalharem em conjunto na prevenção e no apoio às vítimas.

A posição da FRA surge no momento em que se discute mais um caso polémico no desporto, neste caso espanhol.

O presidente da federação espanhola de futebol, Luis Rubiales, foi suspenso pela FIFA por 90 dias por causa de um beijo na boca a uma jogadora da seleção espanhola após a vitória de Espanha no mundial de futebol feminino em Sydney.

A comissão de presidentes das federações de futebol das comunidades autónomas de Espanha exigiu, na segunda-feira, que Luis Rubiales se demita da presidência da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) de "forma imediata", condenando os "inaceitáveis comportamentos que prejudicaram gravemente a imagem do futebol espanhol".

Os presidentes das federações regionais exigiram ainda "uma profunda restruturação orgânica nos cargos estratégicos da RFEF" e comprometeram-se com "as políticas de igualdade para o desenvolvimento do futebol feminino".

Após os acontecimentos em Sydney, seguiram-se inúmeras críticas a Rubiales, tendo a jogadora Jenni Hermoso afirmado que não tinha consentido o beijo, ao contrário daquilo que garante o presidente da federação.

Rubiales disse na sexta-feira que não iria abandonar o cargo, o que provocou um novo pico de contestação e extremar das posições, com as jogadoras da seleção a anunciarem não estarem disponíveis para voltar a representar Espanha, enquanto os atuais dirigentes da RFEF se mantiverem nos cargos.

No sábado, a FIFA anunciou a suspensão de Rubiales do cargo, por 90 dias, e 11 membros da equipa técnica do selecionador, Jorge Vila, apresentaram a demissão. Por seu lado, o técnico condenou o "comportamento impróprio" do presidente da RFEF.

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