Quarenta crianças mortas por dia. Gaza é um "inferno na terra" para as crianças, denuncia UNICEF

por RTP

Gaza é um "inferno na terra" para um milhão de crianças que vivem nos territórios, com cerca de 40 a morrerem todos os dias no ano passado, alerta a UNICEF.

Mais de um ano após o início da guerra em Gaza, "as crianças continuam a sofrer um sofrimento diário indescritível", disse o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), James Elder, numa conferência de imprensa em Genebra.

“Gaza é a verdadeira personificação do inferno na Terra para o seu milhão de crianças. A situação piora a cada dia, à medida que vemos o impacto horrível de ataques aéreos e operações militares”, afirmou James Elder.

“Se este nível de horror não despertar a nossa humanidade e nos empurrar a agir, então o que será?”, questionou.

Desde o ataque de 7 de outubro do Hamas em Israel que desencadeou a guerra, estimativas “conservadoras” colocam o número de crianças mortas em Gaza em mais de 14.100, de acordo com Elder.

Isto significa que “cerca de 35 a 40 raparigas e rapazes foram mortos todos os dias em Gaza desde 7 de outubro” e muitos dos mortos permanecem sob os escombros.

Quanto aos sobreviventes, não têm para onde ir para estarem seguros, enquanto “a privação afeta toda a Faixa de Gaza”.

“Para onde poderiam ir as crianças e as suas famílias? Eles não estão seguros em escolas e abrigos. Não estão seguros nos hospitais. E certamente não estão seguros nos campos de refugiados superlotados”, disse Elder.

O porta-voz da UNICEF descreveu como é a vida de uma criança em Gaza através do caso de uma menina de sete anos, Qamar, que foi baleada no pé durante um ataque ao campo de Jabalia.

O único hospital para o qual ela pôde ser levada - uma maternidade - foi cercado por 20 dias. Como ela não podia ser transferida e o hospital não tinha o suficiente para tratar sua infeção no pé, os médicos amputaram sua perna. Ela, a mãe e a irmã, que também ficou ferida, foram obrigadas a ir para o sul, a pé.

“Elas vivem agora numa tenda rasgada, cercadas por águas paradas”, lamentou Elder.

A UNICEF já tinha advertido que Gaza se tornou “um cemitério para milhares de crianças”. Dois meses depois, a agência da ONU disse que o território palestiniano sitiado era “o lugar mais perigoso do mundo para uma criança”.

Agora, disse Elder, a situação é “déjà vu, mas com aspetos ainda mais sombrios”.
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