O antigo líder parlamentar do PS considera que o país está numa fase “crucial” a dois meses de eleições legislativas e coloca-se “um quadro complexo” aos socialistas.
“O PS deve enfrentar estas eleições pela positiva, apresentando ao país medidas concretas com toda a clareza. Não cedamos à tentação de fazermos uma campanha com base no medo, nem com base no ressentimento de qualquer espécie. Mesmo que esse medo seja legítimo, mesmo que esse ressentimento possa ter alguma razão de ser”, salientou Francisco Assis.
Na parte final da sua intervenção, o antigo líder parlamentar socialista voltou a este tema, depois de se ter manifestado certo de que o PS vai ganhar “por margem significativa” as eleições legislativas de 10 de março.
“Vamos ganhá-las porque não vamos explorar medo, não vamos explorar ressentimento. Não vamos ganhar eleições em nome do prolongamento de nada e não vamos ganhar eleições em nome do passado de que nos orgulhamos. Vamos ganhar as eleições com base num futuro que, em conjunto, seremos capazes de criar”, contrapôs.
No seu discurso, Francisco Assis advogou que o PS deve estabelecer uma diferença clara entre adversários e inimigos, sendo os inimigos aqueles que não respeitam as instituições democráticas, num conjuntura mundial em que se está a formar uma “autêntica internacional da extrema-direita, da América do Norte à Europa”.
Neste contexto, referiu a tese segundo a qual, “se as civilizações morrem, também as democracias podem morrer”, razão pela qual o PS deve apresentar medidas que “satisfaçam as expectativas dos portugueses”.
Francisco Assis deixou em seguida um alerta sobre as consequências nefastas de uma eventual rutura entre a classe média (o grosso dos contribuintes) e o Estado social, após ter pedido mudanças em áreas como o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou a educação – setor em que “importa responder às inquietações dos professores”.
“Desde Aristóteles que sabemos que as classes médias são vitais para a afirmação da democracia, mas também sabemos desde a afirmação dos fascismos que as classes médias, quando desistem, são as principais coveiras das democracias”, declarou.
Seguiu-se o aviso: “No dia em que a classe média portuguesa deixar de enviar os seus filhos para a escola pública, ou deixar de recorrer ao SNS ou aos serviços do Estado nos mais diversos domínios; no dia em que a classe média portuguesa chegar à conclusão de que há uma rutura entre o seu esforço contributivo e os seus benefícios sociais, então nesse dia Estado social entrará numa crise terminal”.
“Será uma das mais graves regressões sociais”, acrescentou.