PS quer evitar "rasteira" da imigração, Chega aponta "pressa" do Governo
Fotografias de Gonçalo Costa Martins - Antena 1
O PS acusa o Governo de querer criar uma "armadilha" com o tema da imigração e defende que o Executivo da AD precisa de dar mais respostas ao país em áreas como a habitação ou a saúde.
"Praticamente só discutimos o tema da imigração e discutimos o tema nos termos em que se podia fazer uma aproximação entre o PSD e o Chega. Na vida todos podemos fazer as escolhas, eu acho que é bom que sejam claras", diz a deputada e ex-ministra do Governo de António Costa, que considera que Luís Montenegro tem cedido "em toda a linha" ao partido de André Ventura, mas queira pedir responsabilidades ao PS para garantir "tudo o que é preciso para a continuidade" do Governo. Para a ex-ministra, a AD quer resolver uma "equação impossível" ao jogar em duas frentes, e entende que, para os socialistas, o essencial é dar prioridade a outras matérias que interessam aos portugueses.
"Eu gostaria mais que nós pudéssemos não cair na rasteira que o Governo nos colocou que há uns dias que foi só falar de imigração para não falar de todos os problemas que precisam de resposta rápida", sublinhou.
Já Rita Matias, deputada e vice-presidente do grupo parlamentar do Chega, defende que a insistência do Governo no tema da imigração tem como objetivo travar o crescimento do partido de André Ventura.
"Começam a dar passos no sentido do discurso do Chega, caso contrário o Chega começa a insuflar sem se saber onde pode chegar, por isso, há uma pressa política de agir, não para responder aos problemas dos portugueses, mas para garantir que o Chega não chega aos lugares que eles conseguiram alcançar", disse, na Antena 1, no programa Entre Políticos.
De acordo com Rita Matias, apesar das críticas feitas aos motivos que levam a uma maior convergência, é positivo que a AD se aproxime do segundo maior partido dentro do parlamento, numa altura em que o Chega continua a querer falar de imigração.
"Temos como plano de fundo aquilo que está a acontecer em Espanha com tumultos e a falta de capacidade de encontrar respostas que gerou tensões entre a população local em Múrcia e as comunidades imigrantes", salienta a deputada. PSD acusa PS de querer "atrasar" caminho do Governo
Com o PS a acusar Executivo de Luís Montenegro de se afastar das posições dos socialistas para se aproximar do Chega, o PSD apela ao partido liderado por José Luís Carneiro para que seja parte das soluções e não sirva de força de bloqueio na Assembleia da República.
"Somos coerentes desde o princípio. Nós não temos parceiros privilegiados, nós temos partidos que têm a sua legitimidade e vamos dialogando e estamos abertos a discutir com aqueles que querem verdadeiramente discutir connosco", afirmou, na Antena 1, o deputado e vice-presidente da bancada parlamentar, António Rodrigues
O social-democrata acrescenta que a AD quer "avançar rapidamente" nalgumas matérias, como é o caso da imigração, e entende que não é possível compaginar a estratégia com "aqueles que sistematicamente tentam atrasar" - numa referência ao PS.
"Qualquer atraso de aprovação de legislação pode empurrar soluções para dezembro, porque entramos no período orçamental a partir de outubro. Sabemos bem que, se não conseguirmos concluir processos legislativos até setembro, vamos estar até dezembro. Isto não é compaginável com a concretização de um Programa de Governo", sublinhou. Livre aponta estratégia do Governo: "Quer esconder outros temas"
Tal como o PS, também o Livre considera que o Governo de Luís Montenegro tem interesse em priorizar o tema da imigração para mascarar dificuldades sentidas noutras áreas da governação.
"É muito confortável discutirmos a imigração e apontar o dedo aos imigrantes como as causas destes problemas, que não o são, mas desviamos as atenções. E essa tem sido a estratégia deste Governo", diz, na Antena 1, o deputado Paulo Muacho, que, questionado sobre se há mesmo uma estratégia deliberada por parte da AD, insiste: "Se não há, o que é que justifica a pressa e a urgência em legislar em meia dúzia de dias sobre matérias que não são urgentes? A questão do reagrupamento familiar não é urgente".
No mesmo sentido, Paulo Muacho assinala que o objetivo passa por criar uma "perceção" de que o problema é a imigração e fazer processos legislativos "à pressa e de uma forma atabalhoada" dentro da Assembleia da República: "Não digo que não haja questões em torno da imigração que estejam a falhar no nosso país, porque estão, nomeadamente, na integração. Deveríamos estar a ter uma política muito mais proativa e muito mais de investimento nas áreas da integração, mas não estamos".
O Livre assume que as expetativas do partido em relação ao Governo e ao debate do Estado da Nação são "muito baixas" e assinala que o Executivo de Luís Montenegro está sem soluções: "Quando nós olhamos para a habitação e vemos que os preços em Portugal sobem três vezes mais do que a média europeia, o Governo não nos diz nada sobre isso".