Sondagem da Católica. Reforço de votos no Chega veio sobretudo da abstenção
Uma sondagem do CESOP - Universidade Católica Portuguesa para a RTP concluiu que o reforço de votos no Chega nas eleições de 18 de maio veio de anteriores eleitores que se abstiveram e de votantes da AD e PS. Os dados do CESOP permitem também traçar um retrato do eleitorado, com destaque para a perda de eleitores seniores pelo PS e para o voto de pessoas com maiores rendimentos na AD.
Nas eleições de há cerca de dois meses, apenas 64 por cento das pessoas que votaram no Chega no ano anterior voltaram a escolher esse partido. De onde vieram, então, os restantes votos?
Segundo a sondagem do CESOP, os abstencionistas foram quem mais ajudou o Chega: 11 por cento dos votos no partido vieram de pessoas que não tinham votado em 2024. Outros dez por cento vieram de votantes da Aliança Democrática e sete por cento do Partido Socialista.
No caso da AD, os eleitores foram coerentes: 80 por cento do seu eleitorado manteve-se fiel à coligação liderada por Luís Montenegro. De resto, a Aliança Democrática arrecadou cinco por cento de votos de antigos apoiantes do PS, quatro por cento de abstencionistas, três por cento do Chega e outros três da Iniciativa Liberal.
Os dados relativos à IL, então liderada por Rui Rocha, mostram que apenas 49 por cento do seu eleitorado que tinha votado no partido em 2024 voltou a escolhê-lo em 2025. Vinte e sete por cento dos novos votantes tinham, no ano anterior, optado pela AD.
Outro caso de destaque é o Livre, que atingiu o quinto lugar em maio, crescendo essencialmente às custas do PS (14 por cento) e do BE (12 por cento).Como se distribuíram os votantes?
Numa outra tabela, o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) mostra a distribuição dos eleitores de 2024 que decidiram votar em maio deste ano.
A principal conclusão é que 41 por cento dos abstencionistas do ano passado que desta vez foram às urnas optaram pelo Chega, 23 por cento pela Aliança Democrática e 12 por cento pelo Partido Socialista.
Constata-se ainda que o Bloco de Esquerda perdeu 18 por cento dos seus eleitores de 2024 para o PS e 17 por cento para a IL.
Já os socialistas perderam tantos eleitores para a coligação de Luís Montenegro (sete por cento) como para o Chega (igualmente sete por cento).PS perdeu maioria absoluta na faixa dos 65+
Na sondagem do CESOP foi também estimada a idade, sexo, escolaridade e rendimento mensal dos participantes.
“Para se distanciar do PS face às eleições anteriores, a AD precisava de encurtar a distância nos 65+ e manter-se nos restantes. Foi conseguido, sendo o partido mais votado nos 18-24, 45-54 e 55-64”, salienta o Centro de Estudos.
No caso do PS, “em linha com o que as sondagens pré-eleitorais já apontavam”, deixou de ter maioria absoluta na faixa dos 65+. “Perdendo essa enorme vantagem nesta faixa e não subindo nas restantes, ficou impossibilitado de vencer as eleições. É a terceira força política nos escalões 18-24, 35-44 e 45-54 e a quarta força no 25-34”, refere o relatório.
O Chega foi a maior força política nos 25-34 e 35-44 e a segunda força nos 18-24 e 45-54. O partido de André Ventura “continua a crescer em todos os escalões etários”, especialmente nos de idade ativa.Se voto fosse só feminino PS teria ultrapassado Chega
Quando ao sexo dos eleitores, o CESOP concluiu que “se apenas votassem mulheres, o PS teria ficado claramente à frente do CH”, enquanto “se apenas votassem homens, teria acontecido o inverso”. Em qualquer dos casos, a AD seria a força política mais votada.
“Apesar de o CH continuar a ser mais masculino do que feminino, esta diferença de género tem-se atenuado, com o partido a crescer agora, face a 2024, mais entre as mulheres do que entre os homens”, lê-se no documento.
O PS mantém tendência de anos anteriores para ser ligeiramente mais feminino e o BE continua a ser “muito mais feminino que masculino”.Maioria dos mais escolarizados vota na AD
No que diz respeito à escolaridade, “entre os mais escolarizados a vitória é da AD, seguida de PS e depois CH. Partidos como a IL e o Livre têm aqui a sua principal base de apoio, confirmando resultados de inquéritos anteriores”.
O Chega é o partido mais votado entre as pessoas com ensino secundário. “Este tem sido desde sempre o segmento onde este partido é mais forte. Tem crescido nos restantes, mas continua a ser esta a sua principal base de apoio”.
Entre os menos escolarizados, o apoio esmagador ao PS que se observara em 2022 e 2024 desapareceu.Eleitores com maiores rendimentos preferem AD
Nos escalões mais baixos de rendimento, o Chega disputa com a AD a posição de partido mais votado. Por outro lado, “entre as pessoas com rendimentos mais elevados, a AD ganha as eleições com maioria absoluta”.
A Iniciativa Liberal também “continua muito mais forte junto das pessoas com rendimentos mais elevados”.
Já o Livre, que em 2024 era essencialmente mais forte nos últimos escalões, começa a entrar nos vários escalões de rendimento, provavelmente através de votantes que conquistou ao BE e PS.O momento da escolha
O CESOP analisou também o momento em que os eleitores decidiram em quem votar nas últimas eleições. “Segundo estes dados, cerca de 1 em cada 4 votantes decidiu em quem votar a partir do início da campanha eleitoral. Um em cada dez decidiu no próprio dia”, refere o relatório.
Os dados mostram que, para além dos dez por cento que decidiram o sentido de voto no próprio dia, oito por cento decidiram semana anterior e oito por cento na quinzena anterior ao dia de eleições. A maioria, 74 por cento, decidiram “antes disso”.
O CESOP destaca ainda que, entre quem se decidiu no próprio dia, 6% votaram em partidos mais pequenos (sem representação parlamentar até à data das eleições).
Os votantes com 65 ou mais anos são “um escalão etário muito interessante”, refere o relatório, já que “em 2022 contribuiu de forma decisiva para a maioria absoluta do PS e em 2024 manteve o PS na disputa pelo lugar de partido mais votado”.
“Por outro lado, tem sido o escalão etário com maior resistência à entrada do CH. Podemos ver que uma larga maioria das pessoas com 65 ou mais anos já estava decidida antes da campanha eleitoral (distribuindo-se de forma quase igual por AD e PS). A campanha contribuiu para uma subida do CH neste segmento etário”, acrescenta.
Ficha Técnica
Esta análise foi feita com base nos dados recolhidos pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a sondagem de boca de urna realizada para a RTP nas eleições de 18 de maio de 2025. O universo alvo é composto pelos votantes nas eleições Legislativas. Foram selecionadas cinquenta freguesias do país, tendo em conta a distribuição dos eleitores por Regiões NUTSII, de modo a garantir que as médias dos resultados eleitorais das últimas eleições nesse conjunto de freguesias (ponderado o peso eleitoral das suas Regiões NUTSII de pertença) estivessem a menos de 1 ponto percentual dos resultados nacionais das cinco candidaturas mais votados em cada eleição. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente à saída dos seus locais de voto e foi-lhes pedido uma simulação de voto em urna. Foram obtidos 39103 inquéritos válidos. A taxa de resposta foi de 68,3%. Foi-lhes também pedido que respondessem a um conjunto de perguntas adicionais e 36701 inquiridos aceitaram fazê-lo (35022 em Portugal continental). São as respostas desta subamostra de 35022 inquiridos que são objeto de análise neste documento.
Segundo a sondagem do CESOP, os abstencionistas foram quem mais ajudou o Chega: 11 por cento dos votos no partido vieram de pessoas que não tinham votado em 2024. Outros dez por cento vieram de votantes da Aliança Democrática e sete por cento do Partido Socialista.
No caso da AD, os eleitores foram coerentes: 80 por cento do seu eleitorado manteve-se fiel à coligação liderada por Luís Montenegro. De resto, a Aliança Democrática arrecadou cinco por cento de votos de antigos apoiantes do PS, quatro por cento de abstencionistas, três por cento do Chega e outros três da Iniciativa Liberal.
Os dados relativos à IL, então liderada por Rui Rocha, mostram que apenas 49 por cento do seu eleitorado que tinha votado no partido em 2024 voltou a escolhê-lo em 2025. Vinte e sete por cento dos novos votantes tinham, no ano anterior, optado pela AD.
Outro caso de destaque é o Livre, que atingiu o quinto lugar em maio, crescendo essencialmente às custas do PS (14 por cento) e do BE (12 por cento).Como se distribuíram os votantes?
Numa outra tabela, o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) mostra a distribuição dos eleitores de 2024 que decidiram votar em maio deste ano.
A principal conclusão é que 41 por cento dos abstencionistas do ano passado que desta vez foram às urnas optaram pelo Chega, 23 por cento pela Aliança Democrática e 12 por cento pelo Partido Socialista.
Constata-se ainda que o Bloco de Esquerda perdeu 18 por cento dos seus eleitores de 2024 para o PS e 17 por cento para a IL.
Já os socialistas perderam tantos eleitores para a coligação de Luís Montenegro (sete por cento) como para o Chega (igualmente sete por cento).PS perdeu maioria absoluta na faixa dos 65+
Na sondagem do CESOP foi também estimada a idade, sexo, escolaridade e rendimento mensal dos participantes.
“Para se distanciar do PS face às eleições anteriores, a AD precisava de encurtar a distância nos 65+ e manter-se nos restantes. Foi conseguido, sendo o partido mais votado nos 18-24, 45-54 e 55-64”, salienta o Centro de Estudos.
No caso do PS, “em linha com o que as sondagens pré-eleitorais já apontavam”, deixou de ter maioria absoluta na faixa dos 65+. “Perdendo essa enorme vantagem nesta faixa e não subindo nas restantes, ficou impossibilitado de vencer as eleições. É a terceira força política nos escalões 18-24, 35-44 e 45-54 e a quarta força no 25-34”, refere o relatório.
O Chega foi a maior força política nos 25-34 e 35-44 e a segunda força nos 18-24 e 45-54. O partido de André Ventura “continua a crescer em todos os escalões etários”, especialmente nos de idade ativa.Se voto fosse só feminino PS teria ultrapassado Chega
Quando ao sexo dos eleitores, o CESOP concluiu que “se apenas votassem mulheres, o PS teria ficado claramente à frente do CH”, enquanto “se apenas votassem homens, teria acontecido o inverso”. Em qualquer dos casos, a AD seria a força política mais votada.
“Apesar de o CH continuar a ser mais masculino do que feminino, esta diferença de género tem-se atenuado, com o partido a crescer agora, face a 2024, mais entre as mulheres do que entre os homens”, lê-se no documento.
O PS mantém tendência de anos anteriores para ser ligeiramente mais feminino e o BE continua a ser “muito mais feminino que masculino”.Maioria dos mais escolarizados vota na AD
No que diz respeito à escolaridade, “entre os mais escolarizados a vitória é da AD, seguida de PS e depois CH. Partidos como a IL e o Livre têm aqui a sua principal base de apoio, confirmando resultados de inquéritos anteriores”.
O Chega é o partido mais votado entre as pessoas com ensino secundário. “Este tem sido desde sempre o segmento onde este partido é mais forte. Tem crescido nos restantes, mas continua a ser esta a sua principal base de apoio”.
Entre os menos escolarizados, o apoio esmagador ao PS que se observara em 2022 e 2024 desapareceu.Eleitores com maiores rendimentos preferem AD
Nos escalões mais baixos de rendimento, o Chega disputa com a AD a posição de partido mais votado. Por outro lado, “entre as pessoas com rendimentos mais elevados, a AD ganha as eleições com maioria absoluta”.
A Iniciativa Liberal também “continua muito mais forte junto das pessoas com rendimentos mais elevados”.
Já o Livre, que em 2024 era essencialmente mais forte nos últimos escalões, começa a entrar nos vários escalões de rendimento, provavelmente através de votantes que conquistou ao BE e PS.O momento da escolha
O CESOP analisou também o momento em que os eleitores decidiram em quem votar nas últimas eleições. “Segundo estes dados, cerca de 1 em cada 4 votantes decidiu em quem votar a partir do início da campanha eleitoral. Um em cada dez decidiu no próprio dia”, refere o relatório.
Os dados mostram que, para além dos dez por cento que decidiram o sentido de voto no próprio dia, oito por cento decidiram semana anterior e oito por cento na quinzena anterior ao dia de eleições. A maioria, 74 por cento, decidiram “antes disso”.
O CESOP destaca ainda que, entre quem se decidiu no próprio dia, 6% votaram em partidos mais pequenos (sem representação parlamentar até à data das eleições).
Os votantes com 65 ou mais anos são “um escalão etário muito interessante”, refere o relatório, já que “em 2022 contribuiu de forma decisiva para a maioria absoluta do PS e em 2024 manteve o PS na disputa pelo lugar de partido mais votado”.
“Por outro lado, tem sido o escalão etário com maior resistência à entrada do CH. Podemos ver que uma larga maioria das pessoas com 65 ou mais anos já estava decidida antes da campanha eleitoral (distribuindo-se de forma quase igual por AD e PS). A campanha contribuiu para uma subida do CH neste segmento etário”, acrescenta.
Ficha Técnica
Esta análise foi feita com base nos dados recolhidos pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a sondagem de boca de urna realizada para a RTP nas eleições de 18 de maio de 2025. O universo alvo é composto pelos votantes nas eleições Legislativas. Foram selecionadas cinquenta freguesias do país, tendo em conta a distribuição dos eleitores por Regiões NUTSII, de modo a garantir que as médias dos resultados eleitorais das últimas eleições nesse conjunto de freguesias (ponderado o peso eleitoral das suas Regiões NUTSII de pertença) estivessem a menos de 1 ponto percentual dos resultados nacionais das cinco candidaturas mais votados em cada eleição. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente à saída dos seus locais de voto e foi-lhes pedido uma simulação de voto em urna. Foram obtidos 39103 inquéritos válidos. A taxa de resposta foi de 68,3%. Foi-lhes também pedido que respondessem a um conjunto de perguntas adicionais e 36701 inquiridos aceitaram fazê-lo (35022 em Portugal continental). São as respostas desta subamostra de 35022 inquiridos que são objeto de análise neste documento.