Depois de ter chegado ao Parlamento com Joacine Katar Moreira (que depois se tornou independente), coube a Rui Tavares avançar para a casa da democracia. Nas legislativas de 2022, o partido Livre teve mais de 70 mil votos, o que se traduziu numa votação de 1,28 por cento. O suficiente para Rui Tavares ser eleito e ocupar uma cadeira na Assembleia da República.
O historiador nunca se mostrou completamente contra a maioria absoluta do Partido Socialista, tendo o Livre votado com a abstenção no último Orçamento do Estado redigido pelo governo de António Costa.
Até à queda do ainda primeiro-ministro, o Livre apresentou 71 projetos de lei no Parlamento e uma das missivas de maior de apoio do partido foi o pedido de reconhecimento ao governo português de um estado independente da Palestina.
Uma outra medida proposta pelo Livre (em conjunto com o Bloco de Esquerda) e que teve aprovação no Parlamento foi a criação de uma linha telefónica de prevenção ao suicídio. O documento foi aprovado por unanimidade na generalidade e depois debatido na especialidade.
Programa focado na criação da economia verde e da redistribuição justa
Intitulado de Contrato para o Futuro, o programa eleitoral do Livre pretende mostrar que o partido continua a ser uma solução útil para a esquerda portuguesa. São vários os setores em que o Livre faz propostas para Portugal mantendo a matriz esquerdista, ecológica e libertária que define o partido liderado por Rui Tavares que propõe:
- Na vertente do desenvolvimento ecológico, cooperativo e solidário, o Livre pretende promover um novo acordo verde para a criação de uma economia verde, aumentar as receitas do Estado fazendo uma redistribuição mais justa pela população, tributar as grandes empresas multinacionais e garantir que os benefícios fiscais no país são mais justos, com impacto social;
- Em termos de igualdade e justiça social, o Livre quer primordialmente dar prioridade à erradicação da pobreza em Portugal, garantir direitos e integrar as pessoas sem-abrigo e outras minorias, combater a segregação, garantir a igualdade de género em todos os setores da sociedade combatendo a mesma, tolerância zero ao abuso sexual de menores, combater o discurso de ódio online, combater a descriminação com base na orientação sexual e o racismo e xenofobia estruturais em Portugal;
- No quadrante do trabalho, rendimento e proteção social, o Livre quer “tirar Portugal da armadilha dos salários baixos” e aumentar rendimentos, promover uma distribuição justa e equitativa da riqueza em Portugal, simplificar o sistema fiscal em Portugal, combater a precariedade e travar os abusos das entidades empregadoras, dar seguimento à semana de trabalho de quatro dias, reforçar apoios sociais e rever a fórmula de cálculo das pensões da segurança social;
- Na saúde, o Livre quer reformar o Serviço Nacional de Saúde, reforçar cuidados de saúde primários, garantir o funcionamento integrado das urgências nos hospitais, facilitar o acesso aos cuidados de saúde e de prevenção de doença eliminando taxas moderadoras, valorizar carreiras no SNS e dignificar o fim de vida;
- Em relação à educação, o partido de Rui Tavares propõe que a escola seja centrada em cada aluno querendo garantir que a escola pública seja gratuita para todos os seus alunos, que a carreira docente, que tanto tem dado que falar, seja dignificada, tal como as carreiras do pessoal não docente e do pessoal técnico especializado. O Livre quer que a cidadania seja lecionada nas escolas como ferramenta para a igualdade e integração na comunidade e repensar a realização obrigatória de exames nacionais;
- No ensino superior e na área da ciência, o Livre pede que seja criado um fundo estratégico da ciência e tecnologia, que as instituições de ensino superior sejam financiadas de forma transparente e estável, que os estudantes tenham mais e melhores apoios diretos e indiretos, prevenir o assédio e que as instituições do ensino superior sejam internacionalizadas;
- Na cultura, o Livre diz no seu programa eleitoral que o setor deve ser financiado com um 1 por cento do PIB e que se deve tornar um direito universal. O Livre quer também promover a avaliação do estatuto dos profissionais da cultura, algo que já é pedido há muito tempo, e que a história de Portugal seja descolonizada e contextualizada;
- As propostas para a habitação do partido Livre incluem alcançar o objetivo de ter 10 por cento da habitação pública, assegurar ajuda à compra da primeira casa, fazer o inventário e reabilitar o parque imobiliário público, aumentar o número de vagas em residências universitárias e estabelecer limites máximos no valor da renda, compatibilizando os rendimentos médios e baixos ao valor do arrendamento;
- Definindo-se como um partido ecológico, o Livre propõe declarar a emergência ecológica nacional, fazer cumprir a lei de bases do clima, assumir uma redução de 65 por cento das emissões nacionais de gases até 2030, aumentar a eficiência energética tanto em edifícios como em transportes, apostar de forma definitiva nas energias renováveis e proceder a uma reforma fiscal ambiental;
- Na justiça, o partido de Rui Tavares pretende promover um setor rápido e eficaz para quem o utiliza, tornando o acesso à justiça em Portugal como um direito universal. O Livre propõe também que a justiça se torne mais transparente e descomplicada, tornando-se mais rápida após a realização da transição digital. Reformar o sistema prisional também é um dos objetivos do Livre que pretende salvaguardar queixosos e testemunhas de processos judiciais;
Estas são algumas das propostas do Livre para as legislativas que acontecem a 10 de março deste ano. No entanto, o partido também apresenta medidas noutras áreas como a soberania digital, coesão territorial, agricultura, bem-estar e direitos dos animais, prevenção e combate à corrupção e o lugar de Portugal na Europa e no mundo.
Para Rui Tavares, o objetivo é simples: manter o lugar único que o Livre já tem no Parlamento e, se possível, eleger mais deputados. No entanto, esta não é uma situação fácil de resolver para o Livre que apresenta apenas Rui Tavares como figura de proa, depois da herança deixada por Joacine Katar Moreira, que acabou por se desvincular do partido antes das Legislativas de 2022.
Rui Tavares tenta voltar a ser eleito para o Parlamento português Pedro A. Pina - RTP
Livre aponta à eleição de mais deputados no Parlamento
Rui Tavares volta a avançar para mais uma eleição legislativa como líder do partido Livre. O historiador de 51 anos foi deputado pelo círculo eleitoral de Lisboa durante a maioria absoluta do PS e agora quer ver o Livre a crescer na intenção de voto dos portugueses mantendo a matriz esquerdista ecológica, libertária e europeísta, sem deixar de esconder que pode ser um aliado do Partido Socialista na formação de um novo governo.
por Inês Geraldo - RTP