Em direto
Guerra na Ucrânia. A evolução do conflito ao minuto

Bloco de Esquerda quer manter-se como terceira força política

Catarina Martins assume que o partido quer manter-se como terceira força política e até aumentar o número de deputados, nas eleições de 30 de janeiro. Depois de se abster na votação do Orçamento do Estado para 2020, o Bloco de Esquerda votou, pelo segundo ano consecutivo, contra a proposta do Governo para o OE2022. Um chumbo que abriu as portas à dissolução do Parlamento e à marcação de legislativas antecipadas.



A geringonça criada em 2015 com o acordo entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, Partido Comunista e o Partido Ecologista Os Verdes terminou em 2019 - acordo que permitiu que os Orçamentos de Estado do XXI Governo Constitucional, liderado pelo PS, fossem aprovados pela maioria dos deputados.

Em 2020 o Bloco absteve-se pela primeira vez na votação das contas do Estado propostas pelo executivo socialista. E em 2021 juntou-se -se aos partidos de direita e chumbou o Orçamento do Estado, que foi viabilizado pela abstenção do PCP, Os Verdes e PAN.

Depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2022, Catarina Martins acusou António Costa de ser o responsável pela crise política e de querer uma maioria absoluta nas legislativas marcadas para 30 deste mês.

Na Grande Entrevista RTP a 9 de novembro de 2021, Catarina Martins assumiu que o BE quer manter-se como terceira força política e aumentar o número de deputados eleitos, que atualmente são 19.

“Um Bloco de Esquerda como terceira força política era uma garantia, por um lado, de haver força à esquerda para debater matérias tão fundamentais como os salários, a saúde, os serviços públicos, a resposta climática”, mas também para “dar uma lição à extrema-direita” e para afastar a ideia de um Bloco Central, que “nunca trará nenhuma solução para o país, só trará mais problemas”, defendeu Catarina Martins.

Não só manter-se como terceira força política, como ser mesmo capaz de aumentar o seu grupo parlamentar. Enfim, eu diria que quem não quer premiar a arrogância de António Costa, que quis ir a eleições para ter uma maioria absoluta, sabe que conta com o Bloco de Esquerda”.

A líder bloquista adiantou ainda que não espera disponibilidade para acordos pré-eleitorais e que um eventual Bloco Central não servirá para resolver os problemas do país.

“Nós não estamos à espera que durante as eleições o Partido Socialista mostre disponibilidade para um entendimento à esquerda. O Partido Socialista nunca a mostrou verdadeiramente em tempo eleitoral. A ideia de um Bloco Central é um bocadinho a ideia para ficar tudo na mesma. Ou seja, acaba por não ser muito diferente da ideia de uma maioria absoluta do Partido Socialista. E é por isso que estas eleições devem ser sobre as soluções. E não sobre se o PS e o PSD se podem entender um com o outro, numa espécie de conspiração para não resolver nenhum dos problemas do país”.

Para Catarina Martins o país necessita de “um novo ciclo. De olhar para o futuro e para os problemas do país”.

A coordenadora nacional do Bloco de Esquerda está preparada para assumir todas as responsabilidades e, na entrevista ao jornalista Vítor Gonçalves, afirmou que o partido está disponível para entendimentos à esquerda mas com um acordo claro.

“O Bloco de Esquerda vai para estas eleições com toda a disponibilidade, mas também com muita determinação. O país precisa de um acordo forte. E um acordo forte condicionado à esquerda. E para isso é necessária clareza. Clareza na proposta agora. Clareza nas soluções no dia seguinte. E nós estamos cá para ela”, sublinhou a líder bloquista.

Acordo, que segundo Catarina Martins, foi rejeitado pelo PS antes das eleições legislativas de 2019 que, “além de enterrar a geringonça, abriu uma aproximação à direita”.O que defende o Bloco
Investir no Serviço Nacional de Saúde, descongelar o salário médio, atualização das prestações sociais, combate à crise climática e reverter a lei Cristas, são algumas das propostas que o partido apresenta no seu programa eleitoral.

“Saúde, Salário, Clima”, são as três palavras definidas no programa eleitoral para as eleições de 30 de janeiro onde também é pedido “Razões fortes e compromissos claros”.

Na apresentação do programa, Catarina Martins frisou que o BE defende um aumento do salário mínimo de dez por cento ao ano, a criação de um Serviço Nacional de Cuidados e a criminalização das transferências para offshores.


O programa destaca seis pontos fortes: “Aprender com a crise pandémica e responder pelo país”; “um programa de investimentos para responder à crise climática”; “Uma economia pela igualdade”; “A capacidade estratégica dos serviços públicos”; “Uma sociedade justa, progressiva e inclusiva” e “Garantir lá fora o que queremos cá dentro”.


Consulte aqui o programa eleitoral do Bloco de Esquerda.
No primeiro ponto, o BE quer recuperar os rendimentos do trabalho e combater a precariedade, salvar o SNS, transformar as prestações sociais para combater a pobreza e o preconceito e a criação de um Serviço Nacional de Cuidados.

Nas respostas à crise climática, o partido quer transportes públicos para todos, democratizar a energia, responder às alterações climáticas e à pobreza energética e a adaptação da produção e do território às alterações climáticas.

No ponto C “uma economia pela igualdade”, o BE defende uma resposta de emergência na habitação, medidas fiscais para combater abusos e promover a igualdade, recuperar o controlo de setores lucrativos estratégicos, investimento na coesão territorial, garantir a sustentabilidade das contas públicas e uma democracia contra a corrupção e o crime económico.

O BE propõe ainda a valorização dos serviços públicos, a escola pública como pilar de igualdade, um serviço nacional de justiça, direito à cultura artes e património, ensino superior e investigação científica e serviços públicos junto das comunidades emigrantes.

No ponto E, as propostas passam por um país feminista, não dar tréguas aos preconceitos e à discriminação, os direitos das pessoas com deficiência, democracia com qualidade, desporto como motor da inclusão social e defender o bem-estar animal.

O BE quer ainda uma política europeia para defender o país e uma política externa para defender a democracia e os direitos humanos.

Nas “razões fortes pela transformação do país”, o BE alerta para a crise climática, na habitação, na pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde pressionado pela pandemia de Covid-19, pede a fixação de profissionais de saúde, defende a criação de um Serviço Nacional de Cuidados para os mais idosos e dependentes, a sustentabilidade da escola pública e o fim da precariedade na ciência e na cultura. O combate ao racismo, xenofobia, homofobia e a transfobia, e uma política de migrações solidária são temas que também não são esquecidos. E propõe ainda um novo quadro legal para a criminalização do recurso a offshores.

Na rubrica dos “compromissos claros”, o partido assume quatro objetivos: “impedir a desagregação do Serviço Nacional de Saúde”; “terminar a longa estagnação do salário mínimo em Portugal”; “modernização do sistema de proteção social e a definitiva remoção das penalizações anacrónicas que continuam a ser impostas a um conjunto de reformados pela aplicação do fator de sustentabilidade” e a “concretização da lei do clima”. Os rostos das listasSão vários os candidatos às eleições do próximo dia 31 que foram eleitos pela primeira vez em 2009. Legislativas nas quais o partido elegeu 16 deputados, marcaram o Bloco de Esquerda como a quarta força política em Portugal.

Há também algumas caras mais recentes e que chegaram pela primeira vez ao Parlamento em 2015, quando o BE conseguiu a maior votação da sua história, elegendo 19 deputados e tornando-se a terceira força política.O Bloco de Esquerda concorre aos 22 círculos eleitorais do território nacional e emigração. E apresenta como cabeças de lista 11 homens e 11 mulheres.

Catarina Martins é, pela quarta vez consecutiva, a cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto. A líder bloquista faz parte dos deputados que foram eleitos pela primeira vez nas legislativas de 2009.

Outro dos nomes históricos do partido, José Manuel Pureza volta a concorrer pelo círculo de Coimbra. Tal como a líder bloquista foi eleito pela primeira vez em 2009.

O presidente do grupo parlamentar, Pedro Filipe Soares, que foi eleito duas vezes pelo círculo de Aveiro e duas por Lisboa, é o segundo nome nas listas da capital.

Mas o candidato eleito mais vezes é José Soeiro, o número dois pelo círculo do Porto e que marca presença no Parlamento desde 2005.

Nas caras mais recentes do partido o destaque vai para as irmãs Mortágua
. Mariana, que foi eleita pela primeira vez em 2011, volta a concorrer pelo círculo de Lisboa, onde é cabeça de lista. E Joana repete o círculo de Setúbal por onde tem sido eleita desde 2015.
Soluções de governabilidade
O Bloco de Esquerda está disponível para um caminho negociado no pós-eleições, caso o PS vença sem maioria absoluta. Para Catarina Martins, exige-se clareza aos partidos sobre as condições de governabilidade.

A próxima legislatura tem de ter essa clareza. No Bloco de Esquerda sempre defendemos que era importante haver um acordo de maioria para uma legislatura, que fosse um acordo de Governo, que tivesse etapas, metas, estratégias e objetivos que todo o país percebesse. E isso é preciso agora, e à cabeça é precisa uma reformulação do Serviço Nacional de Saúde, temos lutado muito por isso”, afirmou a coordenadora bloquista em entrevista à Lusa.

Segundo Catarina Martins, “quando não há maioria absoluta, certamente que o caminho há de ser um caminho negociado e há de ter metas e estratégias que ultrapassem as debilidades dos serviços públicos, da escola pública, da justiça, mas também que seja capaz de recompor os salários e os direitos do trabalho em Portugal”.

Na entrevista, a líder bloquista recorda que em 2015 o PS “não queria entender-se com ninguém, queria a maioria absoluta”. E que foi a relação das forças que resultou das eleições que levou António Costa a “um acordo diferente” a famosa "geringonça".

Em 2019 o Partido Socialista voltou a falhar a maioria absoluta e “quis parar o processo de acordos à esquerda e verdadeiramente parou, deixou de dialogar à esquerda e preferiu voltar-se para a direita. Enquanto mantinha a ‘fantasia’ de viabilizar os Orçamentos do Estado à esquerda”.