António Costa: "Não vale a pena estragar uma boa amizade com um mau casamento"

por RTP
António Costa diz considerar fundamental uma “solução estável” para o país Nuno Patrício - RTP

António Costa afastou esta sexta-feira o cenário de uma eventual crise política, garantindo que "não há nenhum sinal que aponte para isso". Em entrevista à Antena 1, o secretário-geral do PS rejeitou uma eventual coligação mas disse apoiar uma solução política semelhante à atual, defendendo que “não vale a pena estragar uma boa amizade com um mau casamento”. O primeiro-ministro traçou ainda como prioritário o equilíbrio das contas públicas, não entendendo as promessas eleitorais de PSD e CDS para a descida de impostos.

Elogiando o atual Governo, António Costa começou por destacar que na atual legislatura “foi possível obter estabilidade num quadro de uma solução política nova” e que “funcionou bem”. Se esta solução governativa se repete ou não “depende, em primeiro lugar, da decisão dos portugueses, e em segundo lugar da decisão de cada um dos partidos”.

Quanto à hipótese de uma coligação, o primeiro-ministro rejeitou a ideia mas apoiou uma eventual solução política semelhante à atual. “Não vejo que haja condições políticas objetivas, tendo em conta os programas de cada um dos partidos, para que um Governo de coligação seja mais estável que a solução governativa que tivemos atualmente”.

Para António Costa, os temas que afastam os partidos apenas são “comportáveis” neste grau de compromisso e não o seriam numa “relação mais íntima” do que a atual. “Não vale a pena estragar uma boa amizade com um mau casamento”, salientou.

O secretário-geral do PS esclareceu que “um dos sucessos desta solução política e da sua estabilidade foi o facto de nós termos sido capazes de manter bem firme a identidade de cada um, naquilo que tem de profundamente divergente”.
“Recuso-me a fazer chantagem”
Quanto a um cenário de maioria absoluta, Costa prefere continuar a não utilizar essa expressão. “Todos desejamos seguramente o mesmo, que é termos o melhor resultado possível”, afirmou, deixando claro que se recusa “a fazer chantagem com os portugueses”.

“Acho que é inútil estarmos a especular, acho que as pessoas querem saber mais o que pretendemos fazer se governarmos do que com quem é que vamos governar”, considerou.

António Costa diz considerar fundamental uma “solução estável” para o país, pelo que existe o dever de um “esforço permanente” para obter “um entendimento o mais alargado possível, sobretudo em matérias que são estruturais para o país”, algo que “aconteceu nesta legislatura”.

“Cumprimos não só tudo o que foi acordado como, felizmente, a credibilidade internacional do país e a estabilização financeira e o crescimento da nossa economia permitiu-nos ir até mais além”, afirmou, esclarecendo que os partidos fizeram em conjunto “muitíssimo mais” do que estava no acordo escrito assinado no início da presente legislatura.

Questionado sobre a possibilidade de uma crise política, Costa afirmou que “não há nenhum sinal que aponte para isso e não é esse seguramente o desejo dos portugueses”, considerando que estes estão “globalmente satisfeitos com o resultado destes quatro anos”.

“Reconhecem que houve grandes avanços” mas, “por outro lado, constatam que há ainda muitos problemas por resolver e dizem que é preciso continuar para fazer mais e fazer melhor”, afirmou.
Críticas a PSD e CDS
Quanto ao quadro económico do país, Costa disse comprometer-se “com as baixas de impostos que estão no programa” e não com “uma espécie de leilão a ver quem dá mais a baixa de impostos”, referindo-se desta forma às propostas da oposição.

“O que o PSD e o CDS dizem é indemonstrável matematicamente, porque não é possível ter simultaneamente menos receita, mais despesa, e o saldo disto tudo ser ainda inferior. Portanto são manifestamente programas de quem não pretende governar, mas que simplesmente pretende ganhar votos”.

Questionado sobre quando vai ser possível um aumento real dos salários acima do valor da inflação, o primeiro-ministro responde que “a atualização dos salários da administração pública não existe há muitos anos”.

“Eu sei que muita gente nos acusa de termos tratado a administração pública de uma forma desigual, mas o que fizemos (…) foi repor os cortes que tinham existido em matéria de” salários, horários e complementos, explicou.

Em relação à continuidade de Mário Centeno no Governo, Costa salientou que “ninguém forma um Governo sem legitimidade para isso”, pelo que apenas fará os convites caso esse cenário se concretize.
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