Analistas de assuntos europeus admitem que das próximas eleições saia a maior representação de sempre da extrema-direita em Estrasburgo, mas sublinham que estes partidos estão profundamente divididos, nomeadamente em relação à Rússia.
"Tradicionalmente, a cooperação é difícil para a extrema-direita, precisamente porque estes partidos priorizam interesses de âmbito nacional. Há certos tópicos com os quais [quase todos] concordam, como cortar no investimento e com o poder que as instituições da UE têm", disse à Lusa Zselyke Csaky, investigador do Centre for European Reform.
No entanto, "há muito que os divide", sustentou Csaky, "desde a política externa a alguns aspetos das migrações".
Sophia Russack, investigadora do Centre for European Policy Studies, concorda e até aponta que a extrema-direita "está longe de estar unida".
"Estão muito dispersos [...], ainda esta semana [Marine] Le Pen quis expulsar a Alternativa para a Alemanha [AfD] do [grupo] Identidade e Democracia [ID] e a ID expulsou a AfD apenas porque a Le Pen os queria fora. Isto é um bom exemplo dessa dispersão", indicou à Lusa.
Na opinião da investigadora, a extrema-direita "é incapaz de entrar nos eixos".
No entanto, há questões que são favoráveis à unidade entre os partidos de extrema-direita, sustentou Sophia Russack, por exemplo a "ideia de que a UE é só burocracia" e a tendência para utilizar a UE como "bode expiatório".
As eleições para o Parlamento Europeu (PE) realizam-se entre 06 e 09 de junho nos 27 países que compõem a União Europeia, incluindo Portugal.
Há um tópico a que praticamente toda a extrema-direita recorre e que é, possivelmente, o único ponto de convergência absoluta: estes partidos acreditam que a imigração é um problema que a UE é incapaz de debelar e a "imigração ilegal" está descontrolada, apesar de não haver evidências que corroborem as alegações destes países.
"Dentro do ECR [grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus, paralelo ao ID] há união na maneira como percecionam a imigração, querem limitá-la tanto quanto possível e `proteger as suas nacionalidades`", explicou a investigadora, "mas o que os divide é, por exemplo, a [posição em relação à] Rússia e a Ucrânia".
"De uma maneira geral [os partidos de extrema-direita] estão unidos pelo ceticismo e pelas pretensões contra migrações, mas estão muito divididos em relação ao apoio à Ucrânia e se a Rússia é ou não amigável", reforçou Russack.
A disparidade nas opiniões é evidente, por exemplo, com o Chega, partido da extrema-direita portuguesa que almeja conseguir representação no hemiciclo do PE nos próximos cinco anos.
O partido não utiliza uma retórica antieuropeísta e o presidente, André Ventura, verbalizou em mais do que uma ocasião a oposição à Rússia, mas o Chega posicionou-se para pertencer, se conseguir eleger eurodeputados, no ID, o grupo mais à direita do espetro político europeu e que agrega mais forças políticas eurocéticas e com simpatizantes do Kremlin.
Quanto à previsibilidade de crescimento na extrema-direita nas eleições de junho, Zselyke Csaky é mais taxativo, mas deixa um alerta: "É, de facto, previsível um pico nas eleições europeias do próximo mês, mas isso não significa que os votos se traduzam facilmente numa representação maior [da extrema-direita] no Parlamento Europeu".
Mesmo que os partidos de extrema-direita tenham um bom desempenho, é provável que tenham "um longo caminho pela frente para se tornarem o terceiro maior partido no PE - seja como o ID, o ECR, ou como fundadores de um novo grupo", completou.
O desentendimento entre o Rassemblement National de Marine Le Pen e a AfD demonstra que "há muita politiquice e mudanças de forma que acabam por dificultar a manutenção da atual estrutura partidária".
Já Sophia Russack sublinha que, apesar de a maioria das sondagens nos 27 apontarem para um crescimento da representação da direita radical, "até ao dia das eleições pode mudar muita coisa".