Imagens do massacre de quarta-feira em al-Jazira são "de partir o coração", diz ONU

por Lusa

A representante do Gabinete da ONU para a Coordenação dos Assuntos Humanitários no Sudão, Clementine Nkweta-Salami, declarou hoje estar chocada com as imagens do massacre de quarta-feira, no centro do Sudão, que matou mais de 100 pessoas.

Segundo Clementine Nkweta-Salami, as imagens do massacre, que mostram dezenas de cadáveres cobertos por lençóis brancos, "são de partir o coração".

"Estou chocada com os relatos de ataques violentos e de um elevado número de vítimas na aldeia de Wad al Nura, no Estado de  al-Jazira, em 05 de junho. Embora as Nações Unidas (ONU) ainda não disponham de todos os pormenores e factos dos acontecimentos de quarta-feira, há relatos credíveis de tiroteios e da utilização de armas explosivas em áreas povoadas por civis", afirmou Nkweta-Salami, em comunicado.

"Já o disse antes e volto a dizê-lo: as guerras têm regras que devem ser respeitadas, aconteça o que acontecer", declarou, apelando a uma "investigação exaustiva das circunstâncias e dos factos do que aconteceu" e à responsabilização dos culpados pelos crimes.

Nkweta-Salami não acusou nenhuma das partes em conflito de ter cometido o massacre, embora tenha referido que o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) confirmou publicamente que "os seus elementos estiveram envolvidos em operações terrestres nesta área em 05 de junho".

O Comité de Resistência - uma organização de cidadãos encarregada de contabilizar as vítimas e os deslocados - da região afirmou quarta-feira que as RSF bombardearam Wad al Nura com armas pesadas "durante horas" e depois invadiram a aldeia em veículos de combate e motos, de onde "dispararam indiscriminadamente contra os cidadãos".

O balanço preliminar, segundo o comité, é de pelo menos 104 pessoas mortas e mais de 90 feridos.

Em resposta às acusações, as RSF confirmaram hoje que estiveram em confrontos com uma "força conjunta do exército sudanês", dos serviços secretos e de uma brigada do partido islamista Congresso Nacional - ao qual estão filiados vários elementos das forças armadas - em três quartéis diferentes em Wad al Nura.

"A batalha durou mais de duas horas e o inimigo utilizou todo o tipo de armas pesadas e ligeiras", declararam as RSF, que acrescentaram ainda que oito dos seus combatentes foram mortos nos confrontos.

Todavia, os paramilitares declararam estar "surpreendidos" com as acusações de terem matado mais de 100 civis, e negam tais atos.

"As RSF respeitam todas as leis que protegem os civis e não são hostis a nenhum cidadão em qualquer parte do país", afirmaram os paramilitares, que acusaram o exército de espalhar mentiras sobre o que aconteceu em Wad al Nura.

Tanto o exército sudanês como os paramilitares foram acusados por várias organizações internacionais de terem cometido crimes de guerra e crimes contra a humanidade - incluindo o uso de violência sexual e limpeza étnica -, o que levou a sanções por parte de países como os Estados Unidos contra ambas as partes beligerantes.

A guerra no Sudão, que eclodiu em abril de 2023, já causou mais de 30.000 mortos, segundo dados da União Médica Sudanesa, e perto de 10 milhões de pessoas deslocadas, incluindo quase 2 milhões de refugiados.

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