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Bruxelas.PT - Oportunidades profissionais na União Europeia

por Andrea Neves correspondente Antena 1 em Bruxelas

Episódio original publicado a 5 de janeiro de 2024 | Foto: Joana Raposo Santos - RTP

Uma conversa da jornalista Andrea Neves com Luís Loureiro de Amorim, Chefe da promoção e relações externas do serviço europeu de seleção de pessoal da União Europeia.

Possibilidades de trabalho nas Instituições Europeias
Por onde começar?

Eu diria que o primeiro passo seria consultar o site do Serviço Europeu de Seleção de Pessoal, conhecido pelo acrônimo em inglês EPSO. É muito fácil de encontrar na internet. E esse site é, aliás, para, por exemplo, uma carreira enquanto funcionário permanente das Instituições, o único disponível para nos podermos candidatar a um eventual trabalho permanente nas Instituições. É o passo inicial mais importante que se pode dar.

Ou seja, uma pessoa não tem que necessariamente fazer primeiro um estágio na União Europeia?

Não, aliás, eu, por exemplo, comecei a trabalhar para o Conselho da União Europeia em 2002 e nunca fui estagiário de nenhuma Instituição e também, já agora, nunca fiz nenhuma formação no Colégio da Europa, de maneira que, para se poder ser funcionário permanente, a única coisa – e já é muito – que se requer é passar o processo de seleção, os testes de seleção que nós temos previstos para esse efeito e passar depois uma entrevista de recrutamento, que é já mais específica para um emprego concreto numa das Instituições interessadas no nosso perfil.

Antes de falarmos desses testes especificamente, quem se candidatar tem que ter que características principais?

Bom uma delas, e talvez a mais óbvia, é falar pelo menos uma segunda língua entre as 24 línguas oficiais da União Europeia. E vamos também ser bastante honestos e, obviamente, destacar a importância do inglês no nosso contexto. Obviamente que se trata de um ecossistema linguístico, mas a língua de trabalho dominante hoje em dia é de facto o inglês, e sem termos uma capacidade acima do razoável para nos expressarmos tanto oralmente como na escrita em inglês, muito dificilmente seremos recrutados.

Ajuda também falar francês. O francês continua a ser importante, até porque as Instituições estão baseadas em Bruxelas e no Luxemburgo, onde, obviamente o francês é uma das línguas locais. Falar francês ajuda, mas não é essencial.
A formação académica e a experiência profissionalQue tipo de formação se exige a um candidato?

Vai depender do tipo de trabalho ao qual nos estamos a candidatar. Por exemplo, se nos estivermos a candidatar a um trabalho típico de administrador, no nosso caso é aquilo que nós, talvez em Portugal, chamaríamos um técnico superior na Administração Pública, é preciso ter pelo menos um bacharelato, a, nível universitário de três anos, no mínimo.

Temos depois, também, diferentes áreas em que nos será pedido, por exemplo, uma formação na área da economia ou uma formação na área do direito ou uma formação na área da engenharia ou da ciência computacional.

Portanto, vai depender também, finalmente, do tipo de seleção que estamos a fazer para o tipo de empregos que mais tarde as instituições têm abertos.

Mas há também empregos que não requerem uma formação universitária. Nós temos os chamados cargos de assistentes, onde basta ter a formação completa do ensino secundário, com adicionalmente, isto é importante, experiência profissional relevante.

Portanto, esta ideia de que para se trabalhar nas Instituições tem que se necessariamente ter um curso universitário é um mito, porque não é bem assim que as coisas se passam. Se me perguntar se a maioria dos candidatos que nós temos vêm com uma formação universitária, sim vêm. Mas essa não é uma obrigação, não é um critério de elegibilidade para todos os empregos que existem na União Europeia.

Mas chegam sobretudo pessoas com formação universitária, porque as outras desconhecem também que têm essa possibilidade de se candidatar.

Eu penso que tem a ver com o facto de hoje em dia haver – e estamos a falar de 27 Estados-Membros – mais gente com formação universitária do que no passado, porque o acesso ao ensino superior, mesmo em Portugal, aumentou consideravelmente. Tem a ver também com o facto de muitas das pessoas com formação universitária terem também mais conhecimentos linguísticos que lhes permitem ter uma carreira internacional.

Mas isso não é um critério sine qua non e, portanto, a experiência profissional adicionada a uma formação completa do ensino secundário pode também abrir portas na União Europeia.
As áreas de trabalhoPelo que disse até agora não estamos a falar de empregos apenas na área da diplomacia, na área do direito da ou da economia porque já se referiu a outras áreas.

Eu acho que esse, aliás, é um dos temas que requer mesmo mais comunicação porque há uma tendência histórica para pensar que quem trabalha nas Instituições tem que ter formação no direito ou na economia, ou nas relações internacionais ou nos estudos europeus.

Eu, por exemplo, não tenho nenhuma dessas áreas. A minha área de formação é sociologia e ciências da educação.

Aquilo que as pessoas precisam de compreender é que a União Europeia, hoje em dia, sobretudo, cobre tantas áreas – tão diferentes e tão diversificadas – no âmbito daquilo que se chama a legislação europeia, por exemplo, que nós realmente precisamos de pessoas com todo o tipo de perfis. Porque a União Europeia trabalha com temas de agricultura, de comércio, de questões internacionais, de medicina, de educação de tantas e tantas áreas diferentes, só no âmbito legislativo, que obviamente nós temos que ir buscar perfis também diferentes.

E depois nós temos aquilo que eu chamo infraestrutura, ou seja, todas estas organizações que compõem a União Europeia, todas elas têm serviços de informática, serviços de recursos humanos, serviços de tradução e, portanto, toda esta infraestrutura requer também pessoas com perfis adequados para trabalhar nestes serviços de apoio. E um deles, por exemplo, que é o meu caso, os serviços de comunicação.

Pode ir, por exemplo, desde a medicina veterinária à nutrição…

Exatamente, exatamente, até porque todas estas Instituições têm serviços médicos. Por exemplo, eu tenho colegas que são enfermeiros, tenho colegas que são médicos, tenho colegas que são psicólogos.

Há, de facto, ainda muito esta tendência a pensar que nas instituições trabalham apenas advogados, economistas e diplomatas. Mas não é assim de facto e isso já começou, eu diria, há vinte anos.
Os testesVamos então falar dos tais exames ou testes pelos quais têm quer passar os candidatos. Quais são?

Ora bem, o principal tipo de exames e aqueles que assustam a maior parte dos candidatos são os chamados testes de raciocínio. Os testes são de raciocínio numérico, verbal e abstrato, e muitas das vezes as pessoas perguntam, mas porquê? Porque é que estes testes são tão importantes? Porque é que vocês não eliminam estes testes que assustam tanta gente e que eliminam também muita gente? Porque a nossa equipa de psicólogos – nós temos uma equipa de psicólogos no serviço – já há muito tempo que chegou à conclusão, através de análises psicométricas, que em termos de sucesso futuro na carreira, quem passa estes testes tem mais probabilidade de sucesso do que quem não passa estes testes.

Mas preparar-se para esses testes não é propriamente fácil.

Eu penso que sim. Ou seja, preparar-se é fácil, o que muitas das vezes as pessoas não fazem, é preparar-se e chegam aos testes sem preparação e, de facto, aí a probabilidade de passar é reduzida porque não são testes com que nós lidemos habitualmente, por exemplo, na universidade ou na escola secundária.

Mas são testes que estão disponíveis, se as pessoas hoje procurarem para treinar em casa, por exemplo?

Estão. Nós, EPSO, temos no nosso site alguns exemplos. Nós queremos que as pessoas, pelo menos, tenham uma ideia do que são, que se possam familiarizar com o tipo de testes que serão apresentados e no nosso site podem ficar a saber, bastante até, sobre qual é o objetivo dos testes, como é que eles são preparados, como é que eles se apresentam.

E é importante também ter em conta que nós não estamos aqui à procura de ninguém genial. Ou seja, é preciso ter-se pelo menos 50 pontos de 100 pontos, portanto metade dos pontos para passar os testes.
A entrevista finalE passando esses testes, depois há uma entrevista?

Ora, bem, estes não são os únicos testes que se fazem. Para além dos testes de raciocínio - e eu estou aqui, sempre, a falar dos testes para seleção para funcionários permanentes porque nós fazemos também outro tipo de seleção, para funcionários não permanentes – mas para funcionários permanentes, depois destes testes de raciocínio, há um teste de conhecimentos que vai depender do tipo de perfil para o qual nós estamos a selecionar. Se for, por exemplo, um perfil generalista, vamos apresentar um teste de conhecimento sobre a União Europeia. Se for um perfil especialista, será um teste de conhecimento naquela área específica para a qual estivemos a fazer uma seleção. Por exemplo, para inspetores nucleares, o teste de conhecimento vai ser sobre energia nuclear e sobre energia nuclear num contexto europeu.

E, portanto, para além desse teste de conhecimento, vai depois haver também aquilo que nós chamamos um estudo de caso, uma situação que é apresentada, geralmente uma simulação num contexto profissional, e a partir da qual serão feitas várias perguntas aos candidatos para testar as capacidades de comunicação escrita.

Os nossos testes são oferecidos, na maior parte dos casos nas vinte e quatro línguas oficiais da União Europeia. Há depois situações em que, de facto uma língua específica é pedida. Quem decide são os serviços que vão depois recrutar e que nos dizem “precisamos deste perfil linguístico”.

E depois de fazer estes testes, se os passarem todos, é constituída uma lista e essa lista é entregue, literalmente entregue, às Instituições: à Comissão, ao Parlamento, ao Conselho, ao Tribunal de Justiça e ao Serviço de Ação Externa etc. para que eles possam depois recrutar. E aí são eles que organizam as entrevistas com base, obviamente também no perfil dos candidatos e depois, claro, têm eles que fazer uma seleção com base na formação académica, na experiência profissional de cada candidato. E se as pessoas depois passarem essa entrevista é lhes oferecido um emprego.

E que mensagem é que deixaria a quem está a seguir esta conversa e dissesse para si mesmo: eu vou tentar?

Eu acho que devem tentar. Porque trabalhar nas Instituições, para quem está interessado no trabalho a nível internacional, estar num meio em que de facto somos confrontados com diferentes culturas, diferentes maneiras de pensar – e isso é um desafio que eu pessoalmente considero muito estimulante e simultaneamente trabalhar para Instituições que têm um impacto direto na vida de mais de 400 milhões de pessoas este é o lugar ideal para se vir trabalhar. Até porque mesmo nas áreas da chamada infraestrutura – comunicação, informática, recursos humanos – há muito trabalho interessante que ajuda a que os nossos colegas que estão nas áreas mais políticas, possam fazer o seu trabalho descansadamente e, portanto, o nosso impacto, ainda que indireto, é real e concreto.

E se alguém sonha de facto com uma carreira internacional e uma carreira com impacto, vir trabalhar para a União Europeia é uma das melhores oportunidades, penso eu.

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