A "candidata principal" do Partido Popular Europeu (PPE), Ursula von der Leyen, apresenta-se como grande favorita à presidência da Comissão Europeia, que ocupa desde 2019, mas conta com cerca de uma dezena de rivais nas eleições europeias que decorrem entre quinta-feira e domingo.
Em busca de um segundo mandato à frente do executivo comunitário, Von der Leyen tem como principal opositor o `spitzenkandidat` (termo alemão para candidato principal) dos Socialistas Europeus, curiosamente um comissário do seu colégio, o luxemburguês Nicolas Schmit, `desconhecido` para a generalidade do público europeu, mas na corrida há mais uma dezena de figuras.
Breves perfis dos "candidatos principais", ou `spitzenkandidaten`, às eleições europeias deste ano, que se celebram nos 27 Estados-membros entre 06 e 09 de junho:
A atual presidente da Comissão Europeia é a grande favorita à sua própria sucessão, dado ser a candidata principal do partido que tem vencido as eleições europeias e que, de acordo com todas as sondagens, voltará a ser o mais votado em 2024.
Ao contrário do que sucedeu há cinco anos, quando foi escolhida pelo Conselho (Estados-membros) num processo negocial `à porta fechada` muito criticado por `contornar` o modelo de `spitzenkandidaten` instituído em 2014, Ursula von der Leyen, 65 anos, é agora o rosto oficial do PPE, tendo sido a eleita num congresso celebrado em março em Bucareste, no qual apresentou como grandes prioridades de um eventual segundo mandato "democracia, prosperidade e segurança".
Tendo apresentado como grandes `bandeiras` do primeiro mandato (2014-2019) a transição ecológica e digital da União Europeia (UE), com o famoso Pacto Verde à cabeça, Von der Leyen seria confrontada com duas crises sem precedentes, a pandemia da covid-19 e a guerra na Ucrânia, ainda em curso.
Se for reconduzida, a antiga ministra da Defesa alemã deverá dar prioridade à proteção da Europa, quer em termos democráticos, quer de defesa.
Mesmo em caso de vitória do PPE, a eleição de Von der Leyen não é um dado adquirido, dado precisar do voto favorável da maioria do Parlamento Europeu, que na próxima legislatura deverá ter uma forte subida da extrema-direita, o que obrigará a compromissos com outras bancadas. A `abertura` manifestada durante a campanha pela presidente da Comissão para vir a trabalhar com o grupo de direita radical dos Conservadores e Reformistas (ECR) marcou a campanha e ameça a sua reeleição, dado a maioria necessária no Parlamento ser inviável sem o apoio do centro-esquerda.
O Partido Socialista Europeu decidiu designar no início de março o luxemburguês Nicolas Schmit, comissário europeu de 70 anos no atual executivo liderado por Von der Leyen, e figura quase desconhecida do grande público.
Ao contrário de Frans Timmermans, o `spitzenkandidat` dos Socialistas há cinco anos, que ambicionava efetivamente presidir à Comissão Europeia, Schmit não parece reunir hipóteses reais de vir a suceder à sua atual `chefe`, devendo antes aproveitar o seu longo currículo enquanto defensor das causas sociais para agitar a principal `bandeira` do PES ao longo da campanha: uma Europa mais justa.
Ministro luxemburguês do Trabalho e do Emprego entre 2009 e 2018, ao longo dos últimos cinco anos (2019-2024) Schmit desempenhou o cargo de comissário europeu para o Emprego e Direitos Sociais.
Um dos grandes desígnios da sua candidatura é o combate à extrema-direita, que acusa de ter como único programa "destruir aquilo que foi construído" ao longo das últimas décadas em termos de direitos sociais, e na reta final da campanha desferiu finalmente alguns `ataques` a Von der Leyen, censurando-lhe designadamente a sua abertura para cooperar com o ECR.
O grupo dos liberais no Parlamento Europeu, o Renovar Europa, composto por três formações políticas, decidiu avançar com outros tantos candidatos, tendo os escolhidos sido a alemã Marie-Agnes Strack-Zimmermann, pela Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE), o italiano Sandro Gozi, pelo Partido Democrático Europeu, e a francesa Valérie Hayer, pelo Renascimento.
Strack-Zimmermann, de 66 anos, do Partido Liberal Democrata alemã (FDP) e candidata da principal força política da coligação, o ALDE, é especialista em Defesa -- preside desde 2021 à comissão de Defesa do parlamento alemão --, não tendo experiência de cargos na UE. Defende uma UE com uma política externa mais coordenada, maior autonomia em termos de segurança e preconiza uma imigração "controlada".
Sandro Gozi, secretário-geral do Partido Democrático Europeu e membro do partido Itália Viva, fundado pelo antigo primeiro-ministro Matteo Renzi, já foi subsecretário de Estado para os Assuntos Europeus nos governos italianos liderados por Renzi e pelo atual comissário europeu Paolo Gentiloni, sendo deputado ao Parlamento Europeu desde 2020.
Valérie Hayer, eleita presidente do grupo Renovar Europa em janeiro deste ano, com 38 anos, é eurodeputada desde 2019 e destacou-se durante a legislatura pelo seu trabalho na comissão de Orçamentos.
Como é tradição, o Partido Verde Europeu escolheu um candidato e uma candidata em nome da paridade de género, designando a alemã Terry Reintke e o holandês Bas Eickhout, durante um congresso celebrado em Lyon (França).
Deputada ao Parlamento Europeu desde 2014 e copresidente da bancada dos Verdes desde 2022, Terry Reintke, 36 anos, é conhecida pela sua dedicação a causas como os direitos das mulheres e a comunidade LGBTI, tendo-se também evidenciado na defesa do ambiente e da justiça social. Ao ser designada candidata principal, prometeu lutar por "uma Europa diversificada, verde e social, onde o racismo e o ódio não têm lugar".
Bas Eickhout, eurodeputado dos Países Baixos de 47 anos, membro do partido repete a candidatura de 2019 pelos ecologistas. Deputado ao Parlamento Europeu desde 2009 e vice-presidente da comissão de Ambiente na legislatura que agora termina, evidenciou-se pelo seu trabalho para promover políticas ambientais como a redução das emissões de gases com efeito de estufa e a promoção de fontes de energia renováveis. Critica a Comissão Von der Leyen por não ter implementado o Pacto Verde europeu.
O grupo da extrema-direita Identidade e Democracia, que inclui partidos como o Alternativa para a Alemanha, a União Nacional francesa de Marine Le Pen, a Liga de Matteo Salvini (Itália), os nacionalistas flamengos Vlaams Belang (Bélgica), o Partido pela Liberdade, de Geert Wilders (Países Baixos) e agora também o Chega, decidiu não apresentar um candidato à presidência da Comissão, mas antes um porta-voz.
O escolhido foi um político dinamarquês, Anders Vistisen, 36 anos, um dos membros fundadores do grupo ID antes das anteriores eleições de 2019 e figura de destaque no Partido do Povo Dinamarquês. Deputado ao Parlamento Europeu entre 2014 e 2019 e, de novo, desde 2022, as suas intervenções foram sobretudo contra a imigração e contra o alargamento.
O Partido da Esquerda Europeia escolheu como seu candidato principal aquele que é o seu presidente desde 2022: Walter Baier, antigo líder do Partido Comunista da Áustria (KPÖ), entre 1994 e 2006.
Defensor de "uma Europa democrática, social, pacífica e ecológica", Baier, de 70 anos, não é todavia o `spitzenkandidat` de toda a esquerda mais radical, pois apesar de estarem reunidos atualmente numa só bancada na assembleia europeia, os partidos dividiram-se em duas diferentes plataformas: a Esquerda Europeia, que inclui o PCP, e o movimento Agora o Povo, que junta, entre outros, Bloco de Esquerda, Podemos (Espanha), França Insubmissa e Die Linke (Alemanha).
A Aliança Livre Europeia (EFA, na sigla original), que na última legislatura esteve coligada com os Verdes, apresenta os seus próprios candidatos principais, escolhidos no primeiro congresso da história deste pequeno partido, em outubro passado.
A escolha recaiu em duas figuras que a Aliança pensa refletirem a sua grande `bandeira`: a defesa da diversidade e das minorias.
Raul Romeva, 52 anos, catalão, antigo eurodeputado, foi membro do governo catalão que organizou o referendo para a autodeterminação em 2017, o que o levou à prisão, onde esteve quase quatro anos, até ao perdão concedido pelo atual governo espanhol (2021). Diz-se determinado a defender o direito à autodeterminação, pois, argumenta, "votar nunca pode ser um crime".
A alemã Maylis Rossberg é, aos 24 anos, a mais jovem `spitzenkandidat` de sempre. Membro da minoria dinamarquesa na Alemanha e do partido que a representa (SSW), intitula-se ativista "de pequenas vozes e grandes ideias". Líder da ala jovem do SSW entre 2020 e 2022, é atualmente secretária-geral da Juventude da EFA.
Da Moldova, mas também com nacionalidade romena, o pastor Valeriu Ghiletchi é o candidato principal do Movimento Político Cristão Europeu (MPCE), o único partido político europeu que promove explicitamente os valores cristãos na política, e que elegeu somente três deputados em 2019.
Ghiletchi, 63 anos, foi vice-presidente do parlamento da Moldova (2017-2019), presidiu à associação evangélica Federação Batista Europeia, e é atualmente deputado no parlamento moldavo e presidente do Movimento Político Cristão Europeu.