Valença, sem fronteiras

por António Jorge, Antena1

Há onze anos os municípios vizinhos das margens portuguesa e espanhola associaram-se. Surgiu a Eurocidade Tui-Valença. Serviu, durante a primeira década, para reforçar a cooperação, em áreas culturais ou desportivas. As populações acham que é pouco e lamentam que nada mais aconteça. A partir de Setembro começa a circular um miniautocarro que ligará, de meia em hora, os dois centros históricos.

É Sábado de manhã. Há sol. Cheira a bacalhau assado. O tagarelar dos excursionistas ecoa no granito secular. Dentro do perímetro da muralha, de cinco quilómetros, abrigados pela fortaleza de Valença, há cada vez mais turistas. Os autocarros deixam-nos mesmo ali, perto da entrada, com passagem por um túnel muito estreito, com circulação gerida por semáforos. Os veículos ligeiros passam resvés às paredes.

Nesta manhã, como em tantas outras, são sobretudo galegos. Vêm passear pelas ruas e ruelas, comprar atoalhados, e provar o tal bacalhau. A relação entre os portugueses daqui e os galegos de lá é antiga e fraterna. Há onze anos os municípios vizinhos associaram-se, o que permitiu institucionalizar a Eurocidade Tui-Valença. Serviu, durante a primeira década, para reforçar a cooperação, em áreas culturais ou desportivas. É bom, mas é pouco, dizem-me nos estabelecimentos comerciais do casco histórico.
Maria, dona de uma loja de artigos portugueses gostava que fosse mais útil, a tal Eurocidade, é o que pensa também Aya. Galega de Mondariz, neste sábado veio com o marido, e um casal amigo passear a Valença, enquanto os filhos adolescentes participam numa competição de patinagem artística em Tui. A partir de Setembro começa uma ligação permanente entre centro de Tui e o de Valença. Vai ser um autocarro que fará a viagem, de meia em meia hora, diz José Manuel Carpinteira. 
O autarca socialista de Valença chama-lhe “mobilidade suave”. A travessia deverá ser gratuita, pelo menos nos primeiros meses. O presidente da camara gostaria de ter o miniautocarro no terreno há mais tempo, mas “há sempre muita burocracia” desabafa. É com o mesmo tom que lembra a prometida e formalizada cooperação transfronteiriça nos serviços de emergência médica. O protocolo foi celebrado com pompa e circunstancia com a Junta da Galiza, há mais de um ano, mas até agora nada aconteceu. Nunca saiu do papel.

Falta também concretizar o desejado estatuto do trabalhador transfronteiriço. São cinco mil os que diariamente atravessam o rio Minho para trabalhar. Já estão resolvidas as matérias relacionadas com a segurança social, mas há ainda outros aspectos que não estão tratados. Outra vez a burocracia, queixa-se José Manuel Carpinteira. O presidente da camara de Valença contou dos longos dias de impasse para começar a obra que vai reerguer parte da muralha que ruiu com o mau tempo de Fevereiro de 2023. Só agora vai avançar.

A relação antiga entre os povos vizinhos do rio Minho foi fomentada por novas nomenclaturas, como é o caso das Eurocidades, mas falta por exemplo; personalidade jurídica, José Manuel Carpinteira acredita que esse passo pode acelerar projectos comuns.
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