Europa em Portugal - Mezio: o criador de cavalos e o encantador de ervas aromáticas
Na serra de Montemuro, no Mezio, concelho de Castro Daire, há uma exploração de criação de cavalos lusitanos que representa o regresso de um jovem à terra natal. Na aldeia que sofre do mal despovoamento, floresce também uma empresa de ervas aromáticas que procura usufruir de mais fundos europeus com o objetivo de aprofundar e partilhar conhecimento sobre as ervas daquele ecossistema.
Mezio, igreja matriz. FOTO: António Jorge
Agregada a Moura-Morta na união de freguesias de 2013, mesmo assim, tem pouca gente. Talvez quinhentas pessoas. No entanto, há sinais de futuro. Mal dobrei para a estrada de acesso ao largo da igreja, vi pessoas! Logo, o senhor António Gaspar e a mulher contaram que estavam a chegar a casa com uma dúzia de cabras. Tinham passado a manhã no monte. Está reformado há quase quinze anos, fez estradas em todo o país, e foi assim, e sempre com a agricultura no Mezio, que criou nove filhos. Estão todos fora.
Com um inevitável orgulho falam-me de todos, como um é topógrafo em França e faz medições para o TGV, outra, professora, mas que anda com o marido a vender sapatos pelas feiras, ou da engenheira que trabalha em Lisboa e claro, da mais nova, que é médica-operadora e agora está no Hospital de São João no Porto. Mas ainda vai fazer urgências a Viseu diz o pai, babado!
Dizem que a aldeia tem muitas casas fechadas e explicam porquê; uns imigrados, alguns foram para Lisboa ou Viseu, conta enquanto encolhe os ombros. Mas é também ele que chama a atenção para as muitas reconstruções em curso e a existência da empresa de ervas aromáticas, ali mais à frente, no Mezio. A mulher, em jeito de brincadeira, lembra que ali não faltam nem Morgados nem Gaspares, e que eu tinha de procurar por um Morgado.
Morgado é o nome do dono da empresa lá do outro lado. Diz-me como lá posso chegar, à encosta da serra, depois do pequeno riacho que atravessa a povoação. É um lugar pitoresco, com muitas árvores e lá em cima com as hélices dos vários parques de energia eólica a rasgar o vento e o céu. Mas antes de chegar ao lugar da empresa, deparo-me com muro onde leio em letras garrafais cravadas na pedra: Lusitanos do Montemuro. Foi para aqui que André Morgado voltou. Estudou equinicultura em Elvas, licenciatura no Politécnico de Portalegre. Depois disso foi para Miami, Madrid e Alemanha.
Mariana e André Morgado. FOTO: António Jorge
Esteve sempre a trabalhar com cavalos. A sua grande paixão. Aos 28 anos voltou para casa, para a aldeia onde nasceu. Trouxe a namorada Mariana. Conheceram-se na faculdade. Ela trocou a Figueira da Foz pela serra. André cria cavalos lusitanos no Montemuro, tem mais de trinta, entre cavalos e éguas. Está certo que o trabalho duro vai recompensar. A exploração tem seis hectares. Dá muito trabalho, reconhece, mas tem a ajuda da Mariana, a namorada, do pai, do tio e até de um irmão.
É uma família de empreendedores, diz com um sorriso aberto. Não muito longe, fica a Ervitel, empresa de ervas aromáticas fundada pelo tio de André, lá está! Mais um Morgado!
Joaquim Morgado. FOTO: António Jorge
Joaquim recebe-me num grande armazém com um cheiro intenso a cidreira. Estiveram a colhê-la naquela manhã. A empresa coloca cerca de dez toneladas de aromáticas no mercado. Exporta. Mas a maior fatia fica cá, para consumo em Portugal. Tem de tudo, para infusões ou para temperar comida…para aliviar a ansiedade e maleitas da alma e aconchegar as carnes ou o peixe. Joaquim Morgado enfatiza a necessidade de conhecer bem as ervas e as suas virtudes. Tem seis funcionários. Ao longo da história da empresa (fundada em 1997) foi recebendo pequenos apoios com origem nos fundos europeus.
Mas Joaquim Morgado sempre preferiu apoios que potenciassem o conhecimento, em vez de investimento direto. Lembra várias parcerias, em projetos para combater a diabetes, para reduzir o consumo de antibióticos na área veterinária ou até a colaboração num projeto têxtil, para tingir com recurso a ervas aromáticas. A formação académica deu-lhe as bases para dominar o tema das ervas da natureza, mas como sublinha, ainda há tanto por descobrir naqueles montes e vales do Montemuro.
O sino da igreja matriz dá as horas para todo o Mezio ouvir, está na hora de partir, mas com um aroma de futuro neste horizonte da serra.
O sino da igreja matriz dá as horas para todo o Mezio ouvir, está na hora de partir, mas com um aroma de futuro neste horizonte da serra.