Xi retalia com taxas agravadas. China "não tem medo" da guerra comercial com Trump
A Administração Trump aumentou para 145 por cento as tarifas sobre os produtos da China. E Pequim retaliou esta sexta-feira com taxas de 125 por cento. Na primeira declaração pública sobre esta escalada, o líder chinês assegurou que Pequim "não está com medo" da guerra comercial que tem abalado os mercados e potenciado receios de uma recessão global. Xi Jinping apelou, contudo, à União Europeia para que se "mantenha unida" e integre a "resistência conjunta".
“Durante mais de 70 anos, o desenvolvimento da China baseou-se na autossuficiência e no trabalho árduo — nunca em esmolas alheias - e o país não teme qualquer repressão injusta”, acrescentou o presidente chinês. “Independentemente de como o ambiente externo mude, a China permanecerá confiante, focada e se concentrará em gerir bem os próprios assuntos”.
Xi Jinping declarou ainda, no contexto da visita do governante espanhol ao país, que a China e a União Europeia “têm de assumir as próprias responsabilidades internacionais e, em conjunto, salvaguardar a globalização e o ambiente de comércio internacional, além de resistir a qualquer coerção unilateral”.
No final do encontro, Pedro Sánchez destacou que "a Espanha e a Europa têm um déficit comercial significativo com a China” que deve ser corrigido. Apesar disso, o primeiro-ministro espanhol considerou que devem impedir que “as tensões comerciais atrapalhem o potencial de crescimento das relações (...) entre a China e a UE".
"Espanha é um país profundamente pró-europeu que vê a China como um parceiro da União Europeia", afirmou Sánchez, que chegou à capital chinesa na quinta-feira à noite.
Madrid vai "trabalhar para que as relações entre a UE e a China sejam pautadas pelo diálogo e pela reciprocidade", assegurou.
Os laços entre a Europa e a China ficaram fragilizados pela aproximação de Pequim a Moscovo, no contexto da invasão da Ucrânia pela Rússia. Bruxelas criticou Pequim por ter apoiado Moscovo económica e diplomaticamente, embora a China tenha garantido repetidamente que pretende uma solução pacífica para o conflito.O regresso ao poder de Donald Trump pode, no entanto, remodelar alinhamentos geopolíticos e parcerias económicas. As posições antagónicas do líder norte-americano face à aliança transatlântica e a guerra comercial lançada contra o resto do mundo são vistas por analistas como suscetíveis de reaproximar Europa e China.
"A Espanha trabalhará sempre para promover relações sólidas e equilibradas entre a China e a UE. Uma Europa forte também contribui para a estabilidade e a prosperidade mundiais", frisou ainda o líder espanhol a Xi Jinping.
A reunião decorreu nas instalações protocolares de Diaoyutai e não no Grande Palácio do Povo, onde os chefes de Estado ou de Governo são habitualmente recebidos.
Após a espetacular reviravolta de quarta-feira, Donald Trump voltou a defender, no dia seguinte, em Washington, a ofensiva tarifária, que visa trazer de volta a produção industrial aos Estados Unidos, insistindo que se tratava de uma "coisa boa".
Numa mensagem publicada esta sexta-feira no X, o presidente francês, Emmanuel Macron, avisou que a redução das tarifas norte-americanas para dez por cento é "uma pausa frágil" e que "juntamente com a Comissão Europeia, o país deve ser forte".
"A Europa deve continuar a trabalhar em todas as contramedidas necessárias", vincou.
Perante a incerteza causada pelas políticas de Donald Trump, os mercados financeiros continuaram a abanar. O caso da China, finalmente atingida por uma sobretaxa monumental de 145 por cento, também está a assustar os investidores.
Se as negociações com os Estados Unidos falharem, a Comissão Europeia poderá tributar os gigantes tecnológicos norte-americanos, que são agora apoiantes de Trump, ameaçou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
"Existe um vasto leque de contramedidas", disse von der Leyen, citada pelo jornal Financial Times.