Venda de peças é mais lucrativa do que carros novos

por Agência LUSA

A venda de peças para automóveis é mais lucrativa para os fabricantes do que a comercialização de carros novos, revela um estudo publicado na Alemanha.

"Se as pessoas comprassem um carro à peça, independentemente da marca, teriam de pagar quatro vezes o preço de um carro novo", sublinha um dos autores do estudo, Wolfgang Meinig, da Universidade Otto Friedrich, de Bamberg.

Os custos referem-se apenas ao preço das peças ou componentes, sem incluir a mão-de-obra que seria necessária para montar o veículo.

O preço das peças para automóveis aumentou significativamente nos últimos anos, sobretudo devido à chamada troca de componentes.

Por exemplo, no novo Golf V, da Volkswagen, se houver uma avaria na caixa de velocidades, já não se pode substituir apenas uma peça, como acontecia nos modelos anteriores, é necessário substituir todo o bloco, que é hermético.

Este sistema monobloco, cada vez mais usual nos automóveis, poupa custos de armazenagem aos fabricantes, que deixaram há muito de vender apenas o parafuso ou a válvula para reparar uma avaria, obrigando os clientes a aceitar a troca de componentes.

O aumento do preço das reparações provocado pelo recurso a componentes em vez de pequenas peças já levou o Automóvel Clube da Alemanha (ADAC) a protestar, exigindo mais moderação por parte dos fabricantes.

"Os consórcios automóveis têm de construir os veículos dividindo as componentes em tamanhos aceitáveis", disse o porta-voz do ADAC, Urich May.

Para minorar este problema, o ADAC fornece regular e gratuitamente aos seus 15 milhões de associados uma tabela de avaliação dos custos reais das várias marcas e modelos, que inclui não apenas o preço de aquisição, mas também os custos dos prémios de seguros e os preços médios de manutenção e de reparações.

A tabela mostra que alguns automóveis, apesar de mais caros na aquisição, ao fim de dois a três anos já recuperaram a diferença de preço em relação a outros veículos de mais baixo custo inicial, mas também mais propensos a avarias, e com manutenção e reparações mais caras.

A firma de consultoria Mercer, de Munique, fez também um estudo sobre as peças para automóveis e chegou a conclusões, no mínimo, surpreendentes.

"Os fabricantes não ganham quase nada com a venda de carros novos, em que a sua margem de lucro é de cerca de 5 por cento, nem com a venda de veículos usados, em que ganham apenas 1 por cento", sublinhou Fabian Brandt, da Mercer.

O mesmo estudo revela que 36 por cento do lucro dos fabricantes de automóveis provém dos financiamentos, ou seja, das vendas a prestações e do leasing, e mais de metade do lucro, da Audi à Toyota, resulta da venda de peças e acessórios.

Na Alemanha, os fabricantes de automóveis têm lucros de 2,4 mil milhões de Euros por ano com a venda de peças, que em conjunto com as operações de financiamento só perfazem 20 por cento do seu volume de vendas.

"No entanto, estas duas rubricas representam, simultaneamente, 95 por cento dos resultados líquidos das firmas automóveis", explicou Fabian Brandt.

Cerca de 80 por cento do negócio de venda das peças de automóveis está nas mãos dos respectivos fabricantes.

As chamadas livres e os fornecedores e fabricantes de peças independentes representam apenas uma pequena parte do mercado.

As oficinas livres confrontam-se também com o problema das instruções de reparação de veículos, de que os fabricantes fazem quase um segredo de Estado.

União Europeia já está a estudar o problema e tem projectos para obrigar os fabricantes a fornecer as instruções de reparação às oficinas que o requererem, estimulando assim a livre concorrência, única forma de moderar o preço das reparações.

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