O presidente da Câmara de Vagos saudou hoje o arranque da empreitada do reforço do cordão litoral a sul da Costa Nova, mas lamentou que tenham sido precisos quatro anos para avançar com uma obra considerada urgente.
"O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, disse na Vagueira, em julho de 2016, que a obra iria arrancar daí a quatro meses, e afinal estivemos quatro anos à espera, enquanto a situação ia piorando", disse à agência Lusa Silvério Regalado.
O autarca vaguense expressa, apesar de tudo, satisfação pelo arranque da empreitada, que vai atenuar os problemas de erosão na Vagueira, principal praia do concelho.
"Sempre defendi que seriam necessárias medidas mitigadoras para lidar com os problemas trazidos pelas alterações climáticas. Os `shots` de areia a sul da Costa Nova é uma medida; a outra é a uma obra de engenharia, a construção de quebra-mares destacados nas praias", diz Regalado.
Os quebra-mares destacados funcionam como quebra-ondas, sendo construídos paralelamente às praias. Uma equipa que integra o Laboratório Nacional de Engenharia Civil e a Universidade de Aveiro está a estudar a implantação de pelo menos dois quebras-mares, cada um com um comprimento de 250 metros.
Este tipo de intervenção foi um sucesso em áreas ameaçadas no Mediterrâneo e no Báltico, que, no entanto, não têm uma intensidade do mar como a costa portuguesa que é atingida por ondulações muito fortes geradas pelas tempestades de inverno.
O auto de consignação da empreitada de reforço do cordão litoral foi assinado hoje entre a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Administração do Porto de Aveiro e o consórcio de empresas a quem foi adjudicada a obra.
O cordão litoral a sul da Costa Nova, em Ílhavo, vai ser reforçado com 2,3 milhões de metros cúbicos de areia do Porto de Aveiro, num investimento de cerca de 12,2 milhões de euros.
A quantidade de areia, que será proveniente das dragagens regulares na barra do Porto de Aveiro, é praticamente a mesma que foi anunciada em 2016, mas o valor do investimento duplicou.
O volume total de areias a retirar e dragar da Zona de Atividades Logísticas e Industriais (ZALI) do Porto de Aveiro, transportar e a repulsar para o troço costeiro a sul da barra de Aveiro, entre a Costa Nova (Ílhavo) e Vagueira (Vagos), será de 2.375.000 metros cúbicos.
A empreitada, com um prazo de execução de 136 dias, deverá realizar-se entre maio e setembro, em período de baixa ondulação (menos de dois metros) e sempre respeitando as marés, por motivos relacionados com a operação das dragas e o bombeamento/repulsão de areias para a zona imersa das praias.
A deposição de sedimentos a sul da praia da Costa Nova terá um efeito de combate à erosão que irá beneficiar toda a frente marítima até à Vagueira, considerada uma das zonas mais frágeis do litoral português devido ao avanço do mar, provocado pelas alterações climáticas registadas nas últimas décadas.
A reposição do balanço sedimentar neste troço, através da realização de intervenções de alimentação artificial, afigura-se como a estratégia de proteção/defesa costeira mais consentânea com o conceito de adaptação às alterações climáticas e no âmbito da política de gestão integrada dos sedimentos", pode ler-se no protocolo assinado em 2016 pelo presidente da APA, Nuno Lacasta, e pelo então presidente do Conselho de Administração do Porto de Aveiro, Braga da Cruz, entretanto substituído por Fátima Lopes Alves.