A história do cultivo do girassol em território ucraniano remonta ao século XVIII. Até às vésperas da invasão russa, os dois países eram fornecedores de 70 a 80 por cento das exportações mundiais de óleo de girassol. Desde 1996 que a flor ganhou o título de símbolo da paz, quando a Ucrânia plantou um campo de girassóis na base militar Pervomaysk para assinalar os esforços de desarmamento nuclear.
No dia em que as tropas russas começaram a invasão, ficou célebre o momento em que uma mulher ucraniana foi oferecer sementes de girassol aos soldados ocupantes: “Peguem essas sementes e coloquem-nas nos bolsos. Pelo menos os girassóis vão crescer quando vocês forem enterrados aqui”.
Ukrainian woman confronts Russian soldiers in Henychesk, Kherson region. Asks them why they came to our land and urges to put sunflower seeds in their pockets [so that flowers would grow when they die on the Ukrainian land] pic.twitter.com/ztTx2qK7kB
— UkraineWorld (@ukraine_world) February 24, 2022
Mas a flor tem uma história longa no país. Os girassóis – soniashnyk, em ucraniano - são cultivados na Ucrânia desde meados do século XVIII.
Flor da economia
A semente, ora esmagada para óleo ou em farinha, faz parte da alimentação típica do país. Nas últimas décadas passou também a ter um grande peso económico. O óleo de girassol tem representado quase metade das exportações.
A Ucrânia e a Rússia juntas, até às vésperas da invasão, eram responsáveis por 70 a 80 por cento da produção global de dedivados de girassol, desempenhando um papel crucial na segurança alimentar global e no fornecimento de óleos comestíveis.
A Ucrânia e a Rússia juntas, até às vésperas da invasão, eram responsáveis por 70 a 80 por cento da produção global de dedivados de girassol, desempenhando um papel crucial na segurança alimentar global e no fornecimento de óleos comestíveis.
A guerra interrompeu as operações em toda a economia e nas cadeias de abastecimentos existentes, impactando a comercialização da colheita de sementes de girassol e a respetiva produção de oleaginosas em território ucraniano.
Em outubro passado, os drones russos apontaram as monições a tanques de óleo de girassol na cidade portuária de Mykolaiv. O portal de notícias Euromaidan Press descreveu: “o óleo de girassol escorre pelas ruas de Mykolaiv depois de um ataque de drone russo ter danificado dois tanques com 7.500 toneladas de óleo, cada”.
Durante um ano de guerra, milhares de reservatórios de oleo de girassol foram destruídos.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, fala com o ministro da Defesa da Dinamarca, Jakob Ellemann-Jensen, num complexo de armazenamento de óleo de girassol danificado durante os ataques da Rússia à Ucrânia, em Mykolaiv, Ucrânia, 30 de janeiro de 2023 | Serviço de Imprensa Presidencial Ucraniano via Reuters
Em fevereiro deste ano, o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) anunciou o empréstimo de 90 milhões de dólares ao grupo composto pelos principais produtores de cereais, aves e óleos comestíveis da Ucrânia e do sudeste da Europa. Este dinheiro pretende apoiar a produção de óleo de girassol para exportação, promovendo a retoma da economia do país após a invasão. O incentivo financeiro prevê preservar as atividades comerciais na Ucrânia e os respectivos os meios de subsistência.
Símbolo da paz
Ao longo da história da Ucrânia, a flor foi usada como símbolo da paz. Em junho de 1996, os ministros da Defesa norte-americano, russo e ucraniano assinaram um acordo para desmantelar a base de mísseis de Pervomaysk, no sul da Ucrânia. “A cerimónia celebrou o abandono da Ucrânia do terceiro maior arsenal nuclear do mundo, que herdou no colapso da União Soviética em 1991”, relatou o Washington Post na época.
Para assinalar o desarmamento nuclear, foram semeados girassóis na área militar. Este sinal marcou um objetivo estratégico dos EUA desde a dissolução soviética: "Reunir todas as armas nucleares ex-soviéticas na Rússia, evitando assim a proliferação de potências nucleares”, escrevia a publicação norte-americana.
Para assinalar o desarmamento nuclear, foram semeados girassóis na área militar. Este sinal marcou um objetivo estratégico dos EUA desde a dissolução soviética: "Reunir todas as armas nucleares ex-soviéticas na Rússia, evitando assim a proliferação de potências nucleares”, escrevia a publicação norte-americana.
Outra ligação entre girassóis e armas nucleares remonta a 1986, quando ocorreu a explosão na Central Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Neste desastre a libertação de material radioativo no meio ambiente, matou pelo menos 31 pessoas em poucas semanas. Após o incidente, os cientistas semearam girassóis na àrea circundante para aproveitar a capacidade da planta de extrair toxinas e elementos radioativos do solo.
Campo de girassóis perto de Bakhmut, na região de Donetsk | Marko Djurica - Reuters
Mais de 25 anos passados desse acordo de 1996, Moscovo aponta armas a Kiev, mas o significado dos girassóis como símbolos de paz não mudou. O cultivo de girassóis em todo o mundo expressa um apelo aos líderes para semear um futuro mais tranquilo. Para já, muitos dos girassóis que nascem na Ucrânia aguardam um novo ciclo.
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