Tarifas de Trump. Que impacto para o turismo em Portugal?

por RTP
Nuno Patrício - RTP

As recentes tarifas anunciadas por Donald Trump suscitam preocupações em diversos setores económicos, nomeadamente no turismo, que é um dos pilares da economia portuguesa. Apesar do impacto direto não ser ainda visível, os representantes do setor alertam para as potenciais consequências de uma eventual recessão nos EUA que poderá comprometer o poder de compra dos norte-americanos e consequentemente afetar o turismo em Portugal.

O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, manifestou esta quarta-feira receio com o impacto que as tarifas norte-americanas podem ter no turismo nacional, devido à quebra de consumo interno nos Estados Unidos. 

"Tememos que, se não houver razoabilidade no meio disto possa acarretar uma crise, quer para o mercado americano, quer para as suas pessoas" disse Francisco Calheiros à agência Lusa, no final da reunião com o Ministro da Economia, Pedro Reis. "E falta de poder de compra é diminuir o consumo", sublinhou.

A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) partilha a mesma preocupação da Confederação do Turismo de Portugal e alerta para o risco de inflação e recessão nos EUA que poderá não só vir a travar a trajetória de crescimento do mercado americano como reduzir a diminuição do consumo mundial.

"A espetacular dinâmica recente do mercado emissor americano para o nosso país, deve provocar-nos preocupação acrescida: inflação e eventual recessão no final do ano, nos EUA, trariam certamente alguma espécie de travão ao crescimento deste mercado, que se tem revelado tão importante junto de Portugal", disse o presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira, à agência Lusa.
O poder de compra do turista americano
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), os turistas norte-americanos têm vindo a ganhar relevância em Portugal e a impactar positivamente a economia nacional. Em 2024, os EUA ocuparam o quarto lugar entre os países que mais gastam em Portugal, com uma subida de 11,6 por cento representando total de 279 milhões de euros, só superados pelo Reino Unido, França e Alemanha. 

No total, os turistas norte-americanos representaram cerca de 5,1 milhões de dormidas, o que equivale a nove por cento do total de dormidas de não-residentes, ultrapassando os 56 milhões.

Por sua vez, os dados do Banco de Portugal de 2023 corroboram a robustez da entrada de receitas provenientes dos EUA, segundo os quais, os turistas norte-americanos foram o quinto maior grupo de turistas responsáveis pelas despesas em Portugal, atrás dos turistas espanhóis (25,2%), britânicos (12,6%), franceses (12,4%) e alemães (8%).
Um mercado em expansão em risco

O aumento significativo do turismo americano em Portugal levou o setor do turismo a reforçar a promoção do destino e as companhias aéreas a apostarem em novas rotas para conectarem os dois países. É o caso da TAP que se prepara para lançar três novas rotas para os EUA, prevendo um total de 101 voos semanais para a América do Norte (EUA e Canadá).

Apesar das incertezas, tanto a companhia aérea portuguesa TAP como a United Airlines mantêm uma postura otimista. Questionada pela agência Lusa, a TAP disse estar "confiante no sucesso das rotas que opera" para os EUA, ao contrário da Air France-KLM que já reportou uma "ligeira desaceleração" nas vendas de bilheres para os EUA na classe económica. "A melhor prova dessa confiança é que (a TAP) vai iniciar nos próximos três meses, três novas rotas, a saber, Lisboa/Los Angeles, Porto/Boston e Terceira/São Francisco", declarou.

Apesar de ainda não são visíveis sinais de abrandamento da procura turística pelos EUA, o eventual impacto das medidas de Donald Trump na carteira dos americanos pode significar uma quebra do número de turistas em Portugal o que obriga o setor do turismo a seguir com atenção a evolução da conjuntura nos EUA

Assim como o Governo que após ter reunido com os representantes do setor do turismo, esta quarta-feira, vai levar a questão das tarifas aduaneiras para a próxima reunião de Conselho de Ministros, já esta quinta-feira, e debater eventuais medidas para mitigar o seu impacto.
Queda do turismo internacional para os EUA 

Na sequência da instabilidade política nos EUA e das novas políticas de controlo de fronteiras da administração Trump, o presidente da APAVT admitiu, embora considere que seja cedo para comentar, que "se a instabilidade política se mantiver e as políticas identitárias e antiglobalização perdurarem, é natural que venhamos a ter, este ano, menos turistas portugueses nos EUA".

Segundo dados da Tourism Economics, o turismo internacional para os Estados Unidos deverá cair 9,4 por cento em 2025 devido às políticas agressivas da administração de Donald Trump nas fronteiras. 

Questionada sobre a eventuais reclamações de turistas portugueses na entrada em território americano, a Embaixada dos EUA em Portugal disse não ter conhecimento de qualquer reclamação ou problema.

"As regras não mudaram, todo o possível viajante para os Estados Unidos é submetido a uma rigorosa verificação de segurança interinstitucional", respondeu a porta-voz da Embaixada dos EUA em Portugal, Marie Blanchard.

À semelhança de outros países, Portugal atualizou recentemente as recomendações para os portugueses que viajam para os EUA, com advertências específicas sobre a identidade de género e para o facto de um visto ESTA não dar entrada automática no país.

c/agências 

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