TAP com margem operacional superior a `interessados` e custos a assombrar contas
A TAP fechou as contas de 2024 com taxas de rentabilidade operacional superiores a alguns dos potenciais interessados na privatização, mas especialistas alertam para eventual impacto com custos laborais e de câmbios este ano.
Os principais grupos aéreos europeus Air France-KLM, IAG e Lufthansa apresentaram desempenhos financeiros distintos em 2024, influenciados por diversos fatores operacionais e de mercado, como greves e atrasos nas entregas de aviões, só com a IAG, dona da Iberia, a registar aumento dos lucros.
Apesar de a TAP ter registado menor crescimento nas receitas e a maior quebra de resultados líquidos (-70% para 53,7 milhões de euros), provocada, sobretudo, por custos extraordinários com processos judiciais de trabalhadores que implicaram provisões de 41 milhões de euros, nos principais indicadores de rentabilidade operacional destaca-se pela positiva.
"O total das receitas de passageiros voados por lugar-quilómetro (PRASK na sigla em inglês e um dos principais indicadores do setor) aumentou 0,6% ao ano, o que é semelhante ao da Air France", explicou à Lusa o analista da Goodbody, Dudley Shanley.
O consultor da SkyExpert Pedro Castro destacou que "enquanto a IAG demonstrou um desempenho financeiro robusto em 2024, a margem operacional da TAP [20,6%] situa-se logo abaixo da IAG [21,2%] e bem acima do da Lufthansa [10,6%] e da Air France-KLM [13,5%]".
Mas, como o docente do ISEC Rui Quadros aponta, "se por um lado a TAP mostrou resiliência e eficiência na operação, por outro, revelou fragilidade financeira e falta de margem para absorver imprevistos, algo especialmente preocupante num processo de privatização e num contexto de queda global do `yield` [receita por passageiro por quilómetro] prevista para 2025 (-3,4%), que pode degradar ainda mais a tarifa média e pressionar os resultados", acrescentou o antigo gestor da Iberia, PGA e SATA.
Do lado positivo das contas da TAP, os especialistas ouvidos pela Lusa destacam ainda "as receitas recorde e um desempenho operacional sólido, com crescimento nas rotas para o Brasil e América do Norte e uma taxa de ocupação elevada".
No entanto, em termos de resultados líquidos, "ficou claramente atrás das suas potenciais compradoras --- IAG, Lufthansa e Air France-KLM - que registaram lucros entre 1,3 e 4,4 mil milhões de euros", referiu o docente do ISEC.
Já Pedro Castro destaca a afirmação da área de Manuntenção & Engenharia "como a unidade que mais cresce e que mais contribui para o crescimento percentual das receitas da empresa em 2024", tendo registado um aumento de 44,6% dos proveitos para 236,8 milhões de euros.
"Estando algo limitada no crescimento da sua atividade de transporte aéreo pelas restrições acordadas com Bruxelas, a TAP soube virar-se para outros segmentos do negócio que são rentáveis", comentou.
O responsável recorda ainda que no ano de 2023, apenas no último trimestre é que a TAP repôs as condições laborais pré-pandemia, com a reposição dos cortes salariais, "pelo que a grande maioria do ano de 2023 ainda aproveitou dos "descontos" laborais da pandemia e isso pesa nesta comparação 2023-2024".
No lado negativo, Pedro Castro destaca "uma enorme e repetida exposição às desvalorizações cambiais que, no caso concreto, se refere sobretudo à desvalorização do real".
"Esta exposição aumenta à medida que a TAP acrescenta mais voos para o Brasil, em particular, para destinos do sul do Brasil: são mais distantes, mais custosos e com uma maior percentagem de bilhetes vendidos no Brasil e em real", detalhou.
Além disso, como aponta Rui Castro, os custos com pessoal aumentaram 13%, "agravando a pressão sobre a rentabilidade". "Isto é um facto completamente inadmissível numa empresa com tantos anos no mercado e que não soube acautelar estas situações. Apesar dos desafios, a TAP demonstrou resiliência operacional num ano marcado por instabilidade interna e um contexto de privatização ainda indefinido", concluiu.