Os empréstimos bancários para comprar casa estão cada vez mais caros, com os spreads a aumentarem na generalidade dos bancos a operar em Portugal. O máximo chega aos 7,95%, para o mínimo de 1,9%, o que demonstra de forma clara que o risco do mercado do imobiliário – ainda a causar guerras dos bancos até um passado recente – não tem nestes tempos tanto peso quanto a procura de estabilidade das instituições, elas próprias a enfrentarem dificuldades no seu financiamento.
E esta é uma tendência à qual os especialistas não anteveem um fim, nem próximo nem distante. Quadro que é confirmado pelos números: só no último mês, aponta o jornal, foram seis os bancos (Banif, Barclays, Deutsche Bank, Montepio Geral, Santander e Crédito Agrícola – por ordem decrescente de taxa) que reviram em alta tanto os “spreads” mínimos como os “spreads” máximos.
O resultado destes movimentos não podia levar um sinal mais claro a quem está a pensar em comprar casa: depois da luta pelos clientes à volta das ditas “taxas zero”, o máximo exigido pelas instituições bancárias pode chegar atualmente aos 7,95%, precisamente no Banif. Do lado oposto, a oferta mais baixa em termos de “spread” dos empréstimos à habitação vem do BBVA (Banco Bilbao Vizcaya Argentaria).
O Económico revela ainda que esta não é uma variação recente do mercado. O movimento de subida arrancou já em 2009, altura em que a crise do imobiliário do ano anterior nos Estados Unidos começava a testar seriamente a solidez das instituições financeiras não só nos Estados Unidos mas por todo o mundo.
Risco já não é o negócio da banca
A enfrentar cada vez mais exigências que chegam das instituições europeias em relação à sua própria solidez, os bancos tornaram-se relativamente conservadores no financiamento de pequenos investidores, particularmente os particulares que pretendem adquirir habitação.
Ouvidos os especialistas, ficam três razões que estão a fazer recuar a banca no empréstimo de dinheiro para comprar casa: a incapacidade de o setor aceder a financiamento fácil, os riscos de incumprimento dos clientes que obrigam os bancos a fazerem maiores provisões e, finalmente, as exigências normativas “em que há um consumo de capital associado e rácios de desalavancagem exigidos”.
Fausto Coutinho, editor de Economia da Antena 1, analisou o aumento dos "spreads", apontando igualmente à falta de liquidez das instituições bancárias e ao maior rigor na atribuição de crédito.
Ouça as explicações no áudio associado relativo ao programa "Contas do Dia".
Os especialistas assinalam que esta é uma tendência que não deverá ser invertida por um longo período, o que poderá vir a revitalizar o mercado do arrendamento como alternativa à aquisição de habitação própria.
Por outro lado, sendo que esta é uma realidade com que se confrontam os novos empréstimos, os clientes que têm um contrato antigo com o banco deverão beneficiar das descidas dos juros, fruto do corte recente na taxa diretora do BCE.
Atualmente em 1%, há quem diga que o governador Mário Draghi deverá patrocinar um novo corte em 0,25 pontos percentuais, para os 0,75%, eventualmente no próximo mês de fevereiro, o que deverá fazer baixar para níveis históricos as taxas Euribor que servem de referência aos empréstimos bancários à habitação.