Sondagem. Menos portugueses pensam fazer férias fora de casa

por Andreia Martins (texto), Sara Piteira (gráficos) - RTP
Há menos portugueses a admitirem fazer férias fora do local de residência habitual por comparação a maio, um possível reflexo do agravamento da situação pandémica no país nas últimas semanas. Pedro Nunes - Reuters

São menos os portugueses que costumam fazer férias fora da residência habitual a pretenderem fazê-lo este ano, com uma diminuição importante verificada nos últimos dois meses. Outros dados a nível económico, reunidos pela sondagem da Universidade Católica para a RTP, mostram que o teletrabalho é visto de forma muito positiva e que o sentimento de segurança face à situação profissional ou o impacto no rendimento disponível não sofreram grandes alterações em relação a inquéritos anteriores. A maioria dos portugueses (60 por cento) assume seguir os mesmos comportamentos de consumo como antes da pandemia, mas há ainda assim 30 por cento de inquiridos que admite que está a evitar ou adiar compras importantes, como a aquisição de casa ou carro.

De acordo com a mais recente sondagem da Católica para a RTP, desde maio que os portugueses estão menos abertos a fazer férias fora do local de residência habitual. Nos últimos dois meses, aumentou a percentagem de inquiridos que afirma que “de certeza” não fará férias fora de casa, de 41 para 55 por cento.  

Uma vez que muitos portugueses não costumam fazer férias fora da residência, importa olhar com maior pormenor para os números registados entre os inquiridos que tinham esse hábito em anos normais, antes da pandemia. No inquérito realizado entre os dias 9 e 15 de julho, 35 por cento dos portugueses que habitualmente passam férias fora de casa afirmavam que “de certeza que não o vão fazer este ano.

Assim, de acordo com os resultados recolhidos pela Universidade Católica já em pleno verão, aproximadamente quatro em cada dez portugueses que costumam fazer férias fora de casa dizem que não o farão este ano.

É uma mudança importante em relação aos resultados obtidos na sondagem de maio de 2021, em que apenas 15 por cento afirmava que “de certeza que não” faria férias fora da residência habitual.

“Os resultados deste inquérito são muito mais animadores para o turismo do que os obtidos há um ano”, concluía-se então no inquérito realizado pela Universidade Católica há dois meses. Agora, os novos dados apontam para uma resultado completamente diferente, mesmo entre os que costumam fazer férias fora de casa.


De notar que a percentagem atual ultrapassa mesmo a da sondagem realizada em maio de 2020, o primeiro ano da pandemia, em que 32 por cento dos portugueses que costuma fazer férias fora de casa afirmava que, naquele ano, de certeza não o faria.

Neste inquérito de julho de 2021, outros 35 por cento afirmavam que “de certeza” fariam férias fora de casa este ano, 19 por cento refere que “provavelmente sim” e nove por cento provavelmente não fará férias fora da residência habitual.

Em maio de 2021, 46 por cento dizia que “de certeza” estaria de férias fora de casa e 25 por cento respondia “provavelmente sim” à mesma questão.

Com menos portugueses a pensarem em fazer férias fora de casa do que em maio - um possível reflexo do agravamento da situação pandémica ou da aplicação de novas restrições no país nas últimas semanas – as preferências dos destinos daqueles que planeiam, ainda assim, férias fora do local de residência, continuam praticamente os mesmos, com preferência pelo Algarve (39 por cento), região Norte (29 por cento), Centro (17 por cento) e Alentejo (15 por cento).

Dos portugueses que se vão deslocar para fora de casa nestas férias, a esmagadora maioria continua a tencionar ficar por Portugal, sendo que 15 por cento indicou outros destinos na Europa e cinco por cento destinos fora da Europa.
Portugueses querem manter teletrabalho, desempregados com níveis mistos de confiança

A sondagem da Universidade Católica para a RTP revela a forte adesão dos portugueses ao teletrabalho. Entre os inquiridos, 61 por cento apoia a manutenção do trabalho remoto mesmo com uma melhoria da situação pandémica.

“Estes números são ainda mais expressivos (79%) entre aqueles que se encontram neste momento em teletrabalho (total ou parcial)”, salienta-se no inquérito.

No geral, há no entanto 31 por cento dos inquiridos que se opõe à manutenção do teletrabalho num futuro com a pandemia controlada.

Este inquérito mostra ainda o otimismo generalizado de quem tem emprego em relação à sua situação profissional no próximo ano, em linha com os resultados obtidos há dois meses.

Entre os inquiridos que estão neste momento a trabalhar, 49 por cento vê-se com trabalho garantido no próximo ano e 31 por cento considera “pouco provável” perder o emprego.

No entanto, 11 por cento consideraram essa hipótese como “algo provável” e outros 5 por cento disseram que é “muito provável” ficarem sem trabalho. Assim, 16 por cento estima que será algo ou muito provável perder o emprego nos próximos 12 meses.

Estes números são praticamente iguais aos de maio de 2021.

Mas, no caso concreto dos inquiridos que se encontravam no desemprego, o sentimento dominante não é óbvio: 26 por cento considera “pouco provável” retomar a atividade, mas outros 25 por cento assumem essa hipótese como “muito provável”.

Há ainda 21 por cento dos inquiridos que consideram “algo provável” encontrar emprego ou retomar a atividade profissional no próximo ano e 19 por cento diz que essa possibilidade é “nada provável”. Por fim, oito por cento que diz não pretender retomar a atividade.
Consumo mantém-se igual para a maioria, impacto nos rendimentos é o mesmo

Os dados recolhidos pela Universidade Católica procuram também mostrar a realidade ao nível do rendimento e consumo dos portugueses. Em relação aos rendimentos dos agregados familiares, os números são muito semelhantes ao que foi apurado em inquéritos anteriores.

“Em comparação com resultados de estudos anteriores, parece ser clara a separação da população em três grandes grupos”, adianta o inquérito. O primeiro e maior destes grupos representa cerca de dois terços da população, que mantém os rendimentos que tinha por comparação ao período pré-pandemia.


Neste inquérito de julho de 2021, 68 por cento diz que os rendimentos do agregado familiar se mantêm “iguais”.

No entanto, um segundo grupo, com 24 por cento – ou seja, quase um quarto dos inquiridos – refere que o agregado familiar perdeu rendimentos.

Há ainda um terceiro grupo, menos expressivo, de sete por cento dos inquiridos, que diz ter visto aumentar os seus rendimentos após a pandemia. Os dados são praticamente os mesmos na comparação com os anteriores inquéritos da Católica, ainda que tenha havido mais perda de rendimentos entre os inquiridos logo nos primeiros meses de pandemia, isto de acordo com os dados de maio de 2020.

Uma vez que a maioria dos portugueses diz ter mantido o nível de rendimentos no agregado familiar, é de esperar que os consumos também não conheçam grandes alterações para a maioria da população neste inquérito de julho.

Nesta sondagem da Universidade Católica, 61 por cento dos inquiridos diz seguir os mesmos comportamentos e hábitos de consumo em relação a compras significativas – por exemplo, de casa ou carro – que assumiria antes da pandemia.

No entanto, ainda assim, 30 por cento dos portugueses admite que está a evitar ou a adiar estas compras significativas devido à situação pandémica.


Em relação a consumos mais habituais, como uma ida a um restaurante, 48 por cento dos inquiridos estão a ter comportamentos iguais aos que tinham em maio. Outros 17 por cento dizem que estão a ir menos a restaurantes e 14 por cento admitem que vão “muito menos”. Apenas 12 por cento referem ir comer fora mais vezes.

Já quanto a compras de bens não alimentares, 63 por cento refere que está a fazer compras tal e qual como fez em maio, mas 22 por cento refere que diminui os níveis de consumo nos últimos dois meses.

Esta é a segunda parte da sondagem da Universidade Católica publicada por ocasião do debate sobre o Estado da Nação, que decorre esta quarta-feira no Parlamento. Outros resultados deste inquérito vão ser divulgados pela RTP nos próximos dias.

Ficha Técnica
Este inquérito foi realizado pelo CESOP – Universidade Católica Portuguesa para a RTP entre os dias 9 e 15 de julho de 2021. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 1202 inquéritos válidos, sendo 46% dos inquiridos mulheres, 29% da região Norte, 19% do Centro, 37% da A.M. de Lisboa, 8% do Alentejo, 3% do Algarve, 2% da Madeira e 2% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários, escolaridade e região com base no recenseamento eleitoral e nas estimativas do INE. A taxa de resposta foi de 34%. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 1202 inquiridos é de 2,8%, com um nível de confiança de 95%.


 
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