Sondagem Católica. Há mais portugueses com dificuldades em pagar despesas de saúde

por Inês Moreira Santos - RTP
Foto: Nuno Patrício - RTP

Os portugueses continuam a ter dificuldades em cumprir prazos de pagamento em algumas áreas, sendo que este ano é na saúde que mais se sentem esses desafios: 27 por cento assume dificuldades em pagar a fatura dos medicamentos e 22 por cento a conta do supermercado. A conclusão é da sondagem da Universidade Católica para a RTP sobre as condições de vida em Portugal, que revela ainda que 17 por cento dos inquiridos diz ter rendimentos inferiores ao que tinham no ano passado.

Na sondagem agora divulgada, verifica-se que 18 por cento dos inquiridos que pagam renda ou prestação de habitação tiveram dificuldades em fazê-lo dentro do prazo, pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. Este valor diminuiu ligeiramente, comparando com os 23 por cento registados na sondagem de julho de 2023.
Também no que se refere a despesas como eletricidade, água e gás, os portugueses tiveram menos dificuldade em pagar. Neste estudo, 19 por cento dos inquiridos admitiu ter tido, pelo menos uma vez, dificuldade em cumprir o pagamento a tempo (contra o 20 por cento registados no ano passado).

O mesmo se verifica nas despesas de alimentação, sendo que 22 por cento dos inquiridos assumiu ter tido dificuldades, pelo menos uma vez, em pagar. No ano passado esse valor correspondia a 26 por cento, o que demonstra um decréscimo de pessoas com dificuldades em pagar despesas de alimentação.

Já quanto a despesas ou mensalidades com escolas, creches, ATL ou lares de idosos, o valor mantém-se as dificuldades de garantir o pagamento. Tal como nos inquéritos realizados no mesmo período do ano passado, 16 por cento dos inquiridos tiveram dificuldades em pagar estas mensalidades.

As despesas em saúde ou medicamentos foram a área em que se verificou um aumento de pessoas com mais dificuldade em pagar. Segundo a sondagem, 27 por cento dos inquiridos que pagam despesas de saúde ou medicamentos tiveram dificuldades em fazê-lo dentro do prazo. No ano passado, na mesma área, a percentagem era de 24 por cento.

O estudo da Universidade Católica compara estes valores ainda com os registados em fevereiro de 2012, no “tempo da troika”. Há 12 anos, as despesas em que os portugueses diziam ter mais dificuldades em pagar dentro do prazo eram as contas de eletricidade e água (26 por cento) e as rendas ou prestações de habitação (23 por cento). Já nas despesas de saúde, só 14 por cento apresentava dificuldades.
Portugueses mantêm hábitos de consumo
Depois de analisadas as dificuldades dos portugueses em pagar despesas, a Universidade Católica avaliou os hábitos de consumo das famílias no último ano. A maioria dos inquiridos considera que, nos últimos 12 meses, manteve os hábitos de consumo do núcleo familiar.

No último ano, 58 por cento dos inquiridos manteve o hábito de comprar produtos de marca branca ou de marcas dos supermercados. No ano passado, já 51 por cento das pessoas admitiu que tinham esse hábito. Há ainda mais 38 por cento de inquiridos que aumentou o consumo destes produtos, nos últimos 12 meses – comparando com os 45 por cento registados em julho de 2023, há um decréscimo. Só quatro por cento diz que diminui a compra de marcas brancas no núcleo familiar.

Já quando a gastos em atividades de lazer – como jantar fora, ir ao cinema ou a concertos, ou aquisição de canais de TV – regista-se um aumento nas pessoas que mantiveram estes consumos. Nesta sondagem, 47 por cento das pessoas diz que manteve (no ano passado, este valor era de 43 por cento) e outros 47 por cento dizem que diminuíram (no ano passado, era 51 por cento). Só seis por cento dos inquiridos diz que aumentou os gastos em lazer.

O aspeto em que se verifica um ligeiro aumento de consumo é na qualidade dos alimentos. Uma grande maioria dos portugueses continua a preocupar-se com a qualidade dos produtos alimentares que consome. Segundo os dados da Católica, 77 por cento dos inquiridos manteve este hábito de consumo (em julho de 2023, 74 por cento dizia que mantinha) e oito por cento diz que aumentou o consumo (um ligeiro aumento, comparando com os seis por cento de 2023). Há ainda 15 por cento que admite ter diminuído.

Há outros dois aspetos que demonstram que há alterações nos hábitos de consumo em Portugal: a contração de dívidas (com o uso de cartão de crédito, pedido de empréstimos ou de fiado) e a poupança de dinheiro.

Cerca de 72 por cento continua a contrair dívidas. No ano passado, as sondagens indicavam que 67 por cento dos inquiridos mantinham este hábito de consumo. Há ainda 12 por cento que admite que aumentou o uso de cartão de crédito ou os pedidos de empréstimos, o que representa uma ligeira descida considerando que, no mesmo período em 2023, 16 por cento tinham aumentado.

Quanto a poupar, aumento o número de pessoas que põem dinheiro de parte, nos últimos 12 meses: 17 por cento diz que aumentou este hábito (contra os 15 por cento registados no ano passado), 43 por cento manteve esse hábito (eram 38 por cento em 2023) e 40 por cento diminuiu a poupança (havia 47 por cento de inquiridos a responder o mesmo, há um ano).
Férias

Um dos parâmetros para avaliar as condições de vida dos portugueses é através dos destinos de férias. Apesar de os inquiridos terem, em geral, menos dificuldade a pagar despesas e a manter hábitos de consumo, há menos pessoas a pensar ir de férias para fora este ano.

Questionados se pretendem fazer férias fora da residência habitual, 36 por cento afirmou que “de certeza que sim” e 37 por cento que “de certeza que não”. No ano passado, havia 39 por cento com a certeza que ia e 40 por cento que não.

Sobram ainda 15 por cento que “provavelmente” vão de férias para fora – antes eram 13 por cento – e 12 por cento que “provavelmente não” vão – eram oito por cento no ano passado.

Mas quando inquiridas só pessoas que costumam fazer férias fora da zona de residência, 57 por cento disse que “de certeza” que ia para fora novamente, este ano. Uma ligeira diferença, considerando que no ano passado, neste grupo específico, havia 62 por cento a ter a certeza que iria de férias para fora.

Há a registar também 21 por cento que pensa que “provavelmente” o destino de férias será fora (no ano passado este valor era de 18 por cento), nove por cento que “provavelmente não” vai (contra os seis por cento do ano passado) e 13 por cento que “de certeza que não” vai (semelhante aos 14 por cento de 2023). Poucas alterações nos rendimentos
De acordo com a sondagem realizada pela Universidade Católica para a RTP, os rendimentos dos agregados familiares portugueses mantiveram-se, na generalidade, iguais ao que eram no ano passado. Dezassete por cento dos inquiridos dizem ter, neste momento, “rendimentos inferiores ao que tinham há um ano”.

Comparativamente a julho de 2023, este valor (os 17 por cento) é menor, visto que na altura 20 por cento dizia ter rendimentos inferiores ao ano anterior. O CESOP explica, contudo, que esta percentagem “não é igual para todos os escalões de rendimento, sendo maior (30 por cento) entre os que têm rendimentos inferiores a 1000 euros do que entre os que têm rendimentos superiores a 2500”.

“Neste último escalão, cerca de sete por cento afirmam ter agora rendimentos inferiores aos de um ano”.

Atualmente, 55 por cento diz que os rendimentos estão iguais ao que eram no último ano (em 2023, 51 por cento mantinha os rendimentos) e só 27 por cento considera que os rendimentos do agregado familiar aumentaram (no ano passado, 28 por cento tinha mais rendimentos que no ano anterior).

Ficha Técnica:

Este inquérito foi realizado pelo CESOP–Universidade Católica Portuguesa para a RTP, Antena 1 e Público entre os dias 7 e 13 de julho de 2024. O universo alvo é composto pelos eleitores residentes em Portugal. Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente a partir duma lista de números de telemóvel, também ela gerada de forma aleatória. Todas as entrevistas foram efetuadas por telefone (CATI). Os inquiridos foram informados do objetivo do estudo e demonstraram vontade de participar. Foram obtidos 957 inquéritos válidos, sendo 48% dos inquiridos mulheres. Distribuição geográfica: 30% da região Norte, 20% do Centro, 36% da A.M. de Lisboa, 5% do Alentejo, 4% do Algarve, 2% da Madeira e 3% dos Açores. Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários, região e comportamento de voto com base nos dados do recenseamento eleitoral e das últimas eleições legislativas. A taxa de resposta foi de 21%*. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 957 inquiridos é de 3,2%, com um nível de confiança de 95%.

*Foram contactadas 3581 pessoas. De entre estas, 957 aceitaram participar na sondagem e responderam até ao fim do questionário.

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