Shopping Brasília - Primeiro centro comercial da Península Ibérica comemora 35 anos e cria a "loja na hora"
Porto, 07 out (Lusa) - Feiras nos corredores ou "lojas na hora" são algumas das estratégias que o Shopping Brasília, no Porto, encontrou para na passagem dos seus 35 anos tentar contrariar a desertificação que já levou muitos a comerciantes a fechar portas.
"O shopping é muito resiliente. Não é qualquer coisa que nos abala", diz Luís Pinho, administrador do condomínio do Brasília, o primeiro shopping da Península Ibérica que conheceu dias de glória e de prosperidade quando abriu, como grande novidade da cidade, em 09 de outubro de 1976.
Hoje administrador, Luís Pinho tinha nove anos na abertura do espaço: foi um dos muitos curiosos que, dos arredores da cidade, em excursão com os pais, visitou o Brasília para ver e andar nas primeiras escadas rolantes do Porto.
Para assinalar o seu 35.º aniversário, o shopping apostou na realização de feiras, como a de antiguidades, que hoje ocupa alguns dos corredores daquele espaço na rotunda da Boavista.
De quinta-feira a 15 de outubro, está previsto um "Big Market" para venda de artigos novos e usados, com os espaços cedidos gratuitamente, a que se seguirá uma feira de produtos biológicos (17 a 21) e uma semana da saúde (24 a 28).
A ideia é contrariar o cenário desolador das muitas lojas que fecharam nos pisos 1 e -1, resistindo com razoável atividade o piso térreo que, segundo Luís Pinho, é para muitos portuenses "mais uma rua do Porto".
A "Loja na Hora" foi uma das formas encontradas para atrair comerciantes. As lojas podem ser alugadas por um preço acessível e pelo tempo que a pessoa quiser. Pode ir de um mês a cinco anos.
"Serve para quem quiser arriscar numa loja nova, ou, por exemplo, para quem tiver um negócio sazonal", explicou à Lusa Luís Pinho.
O objetivo final, não esconde, é que " pessoas acabem por gostar de fazer negócio no shopping e de ficar por cá".
Quem ficou pelo shopping desde que abriu até hoje foi Ana Paula Santos, proprietária de uma ourivesaria e presidente da Associação de Comerciantes do Brasília, que continua a sentir que "as pessoas, quando falam do Brasília, falam com muito carinho".
Dificilmente se "imagina a trabalhar em outro sítio": recorda bem como, há 35 anos, aquele era "um sítio em que apostava para fazer negócio, uma coisa em grande, que nos primeiros 15, 20 anos foi uma loucura".
Muita da sua vida era passada aqui: "Iamos ao cinema, tínhamos as boas discotecas como o Griffon`s ou o Romanoff e gente muito gira. Estávamos na moda".
O conceito do "shopping" foi importado por um empresário regressado do Brasil, Narciso Ferreira, proprietário da Imobiliária Progressiva que acabaria por vender os espaços comerciais a diferentes proprietários, muitos deles também emigrantes.
Ao contrário dos modernos centros, muitos deles só com o proprietário, o Brasília tem 200, o que lhe confere, segundo os seus responsáveis, acrescidas dificuldades de gestão.
O espaço comercial muito fracionado, de um centro construído em três fases, também não ajuda, numa altura em que uma loja âncora pode ter 1.000 metros quadrados, quando no passado a Loja da Maconde do Brasília, com os seus 300 metros quadrados era considerado um "armazém".
"Às vezes, são pequenas insignificâncias", como a iluminação de Natal que deixou de brilhar na Rotunda, lamenta-se Ana Paula Santos.
Mas, acrescenta, "um insignificante aqui, um insignificante ali e lá se vai ficando esquecido".
Foram-se as festas de São João, foi-se a Feira do Livro, fechou o cinema, abriram os centros comerciais na periferia, não veio o Corte Inglês e, principalmente, acrescenta Luis Pinho, "acentuou-se a desertificação residencial, e não é a Boavista, é o Porto inteiro".
Os comerciantes, nas palavras de Luís Pinho, continuam a acreditar que "a localização é de um enorme potencial, porque 30 mil metros de área bruta alocável de retalho no centro da Boavista, ninguém tem".
O centro "salvou-se porque sempre conseguiu manter uma dignidade de funcionamento", sustenta o administrador que "sabe que não pode esperar ter o mesmo tipo de lojas que um centro comercial moderno".
Por isso, tem apostado em nichos como os antiquários, a arte, o colecionismo e procura captar os jovens.
E, acrescenta Ana Paula Santos, "no carinho que os portuense continuam a sentir pelo shopping".