Setor automóvel português. "Já sentimos os efeitos de retração nos principais destinos de exportação"

por Gonçalo Costa Martins - enviado especial da Antena 1 a Liubliana

Gonçalo Costa Martins - Antena 1

O diretor da Mobinov diz que o país já está a sentir a crise europeia no setor automóvel. Miguel Araújo afirma que é altura de procurar novos mercados e de a Europa não precisar dos Estados Unidos.

O responsável pelo cluster português automóvel e de mobilidade (um cluster é uma plataforma que promove a inovação e contacta com associações do setor que representa) aponta um efeito de contágio pelo que se passa nos principais mercados de exportação.

“Claramente já estamos a sentir os efeitos de uma retração económica nos nossos principais destinos de exportação ao nível automóvel”, diz Miguel Araújo, dando os casos de Espanha, França e Alemanha.

“Se os nossos principais destinos das exportações estão em quebra e em quebra acentuada, nós temos que sentir os efeitos dessa constipação”, reconhece.

Sem esquecê-lo, defende, no entanto, que o tempo é de pensar em alternativas ao mercado europeu: “Já verificamos que há uma grande vontade dos empresários portugueses em diversificar os mercados para outros pontos do globo”.

A América do Sul, a América do Norte ou a China são exemplos dessas alternativas.

A juntar a este cenário difícil, em relação aos Estados Unidos, Miguel Araújo diz que a Europa deve “deixar de depender desse mercado exclusivamente”, por causa das tarifas aplicadas pela Administração de Donald Trump.

O continente europeu deve aumentar, afirma, a produção de semicondutores, inteligência artificial e software, por exemplo, tornando-se mais autónomo na cadeia de abastecimento.Escala entre duas economias “relativamente pequenas”

A Mobinov foi uma das 12 empresas e entidades associativas que vieram ontem à Eslovénia à procura de oportunidades económicas no país.

O setor automóvel e da saúde foram os protagonistas do fórum empresarial que decorreu ontem, em Liubliana, à margem da visita oficial do Presidente da República à Eslovénia, que termina esta quarta-feira.

Miguel Araújo sublinha o papel “distribuidor” que a Eslovénia pode ter na Europa central e de leste: “ao nível da cadeia de abastecimento, é um ponto que eu entendo que pode ser de convergência com a Eslovénia”.

O país “tem um posicionamento, do ponto de vista europeu, central, e, portanto, pode servir, claramente, como quase um lado logístico”.

São mais de 500 as empresas portuguesas que exportam diretamente para a Eslovénia, mais 40% do que em 2019, segundo o presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP).

“A relação bilateral, efetivamente, pode crescer muito” e “parte de patamares ainda relativamente diminutos aos dias de hoje”, diz Ricardo Arroja à Antena 1.

Já do lado da saúde, o diretor-executivo do Health Cluster Portugal encontra, com a Eslovénia, oportunidades de cooperação.

“O facto de ser uma economia relativamente pequena, como a nossa, pode ser mais fácil do que, às vezes, com economias maiores”, considera Joaquim Cunha.
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