Sérgio Figueiredo renuncia ao cargo de consultor no Ministério das Finanças

por RTP

Foto: Mário Cruz - Lusa

O jornalista justifica a decisão num artigo de opinião publicado no Jornal de Negócios desta quarta-feira. Sérgio Figueiredo escreve que "ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos insultos e insinuações".

O antigo diretor de informação da TVI tinha aceitado o convite do ministro das Finanças, Fernando Medina, e iria ganhar mais do que o primeiro-ministro para desempenhar funções de implementação e acompanhamento de políticas públicas.

A contratação gerou uma série de críticas dos partidos políticos. O PSD, o maior partido da oposição, chegou a falar em troca de favores.

"Para mim chega! Sou a partir deste momento o ex-futuro consultor do ministro das Finanças. Sossego as almas mais sobressaltadas de que não cheguei a receber um cêntimo, sequer formalizei o contrato que desde a semana passada esperava pela minha assinatura", pode ler-se no texto de Sérgio Figueiredo.

O jornal Público noticiou, a 9 de agosto, que o Ministério das Finanças tinha contratado o antigo diretor de informação da TVI e ex-administrador da Fundação EDP como consultor estratégico para fazer a avaliação e monitorização do impacto das políticas públicas, escolha que motivou críticas de partidos e comentadores.
Razões e defesa do visado

Num texto em que explica os seus motivos, Sérgio Figueiredo aponta que “ficou insuportável tanta agressividade e tamanha afronta, tantos insultos e insinuações” depois de ter sido convidado pelo ministro das Finanças, Fernando Medina.

Para o ex-administrador da Fundação EDP, “esta indignação tão generalizada e profunda só acontece quando se descobre uma terrível ilegalidade”, considerando que “a desfaçatez ultrapassou todos os limites", apesar de ninguém ter falado em "qualquer ilegalidade ou irregularidade”.

Sérgio Figueiredo apresenta ainda as "quatro mentiras por detrás de uma desistência”, referindo que foi atacado por “não ter competências para as funções, o valor do 'salário', não ter exclusividade e a troca de favores entre o contratado e o contratante”.

Sobre os alegados 'favores', salienta que é um dos argumentos mais “repetidos” e “dos mais ofensivos”, defendendo que “não se provam de forma alguma, não se baseiam em factualidades, trata-se apenas e só de processos de intenções e julgamentos de caráter”.

“Basicamente, o raciocínio é tão primário como insultuoso: Fernando Medina quando precisava de exposição, Sérgio Figueiredo deu-lhe palco na TVI; Sérgio Figueiredo quando precisava de emprego, Fernando Medina contratou-o como consultor”, atira o antigo diretor de informação da TVI, explicando que conheceu atual ministro das Finanças através do canal de televisão.

E lembrou que Medina também teve espaços de opinião no Correio da Manhã e na Rádio Renascença. "Que favores deverá Medina a Octávio Ribeiro e a Graça Franco que, tal como eu, deixaram, entretanto, de liderar aqueles projetos de informação?”, questiona ainda, considerando “espantoso que, pela mais elementar regra de coerência, aquele jornal e aquela rádio repliquem e ampliem a suspeição”, quando “fizeram a opção editorial idêntica”.

Quanto ao salário, Sérgio Figueiredo salienta que esta questão teve “grande relevância nacional” pelos “cerca de 70 mil euros anuais, o que corresponde ao valor de 5.800 euros brutos por mês” que iria auferir e não é "mais do que ganha o próprio ministro".

“Há três formas de qualificar quem confunde uma prestação de serviços (12 meses) com o salário do ministro (14 meses): incompetência, ignorância ou perfídia. Aconteceram as três coisas ao mesmo tempo. A verdade foi tão torturada que a mentira fez o seu curso. E várias vezes corrigida. Mas renascia das cinzas com “notícias” que deveriam envergonhar quem as fez, mas também quem as deixou publicar. Optaram deliberadamente pela mentira”, realça.

Sérgio Figueiredo aborda também no texto as funções do cargo a que renunciou, contestando as “duas linhas de argumentação” que não lhe reconheciam capacidades “para qualquer espécie de intervenção no domínio das políticas públicas” e “uma alegada redundância com as missões atribuídas a vários organismos que existem no Ministério das Finanças e fora dele”.

“Por ignorância ou má-fé, surgiu a conversa do “lobbying”. Como se ouvir outras pessoas ou conhecer outras opiniões relevantes da sociedade e economia portuguesa significasse fazer-lhes a vontade. Mentes perversas viram “Figueiredo a tratar dos ‘stakeholders’ de Medina”, quando o foco não estava no ministro, mas nos problemas que tem a obrigação de gerir”, frisa.

Nas reações à notícia da escolha de Sérgio Figueiredo, o Bloco de Esquerda criticou a escolha, o PCP referiu que a contratação tinha “critérios certamente discutíveis”, a Iniciativa Liberal acusou António Costa de “sacudir a água do capote”, o PSD pediu “explicações” ao ministro das Finanças e primeiro-ministro e o Chega quis que Fernando Medina fosse ouvido no Parlamento.


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