Seis dos quinze concelhos mais ricos situam-se na Região de Lisboa

por António Carneiro, RTP
O estudo do INE confirma a existência de assimetrias internas particularmente acentuadas na região Norte, entre a faixa Litoral e o Interior. Daniel Gil, Lusa

A Região de Lisboa congrega seis dos quinze concelhos portugueses com maior poder de compra do país. É o que indicam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), segundo os quais, apenas quatro dos 18 municípios da região da capital estão abaixo da média nacional. O território metropolitano do Porto aparece representado com três concelhos na tabela.

Os dados mais recentes, em poder do INE, referentes ao poder de compra concelhio reportam a 2007.


Relativamente a essa data, Lisboa figura em primeiro lugar na tabela dos quinze concelhos com maior poder de compra por habitante, seguida por Oeiras, e pelo Porto.

Na mesma lista Cascais figura em 4º lugar , Alcochete em 5º lugar, e Montijo em 9º lugar, sendo que o 12º e o 13º lugares da lista cabem respectivamente aos concelhos de São João da Madeira e a Matosinhos, ambos situados no território metropolitano do Porto.

No último lugar desta lista dos mais prósperos está Almada, também na Região de Lisboa.

Faro, Porto Santo, Coimbra, Funchal, Aveiro e Sines são os restantes nomes que completam a lista dos quinze concelhos de Portugal com maior poder de compra.

Só em quatro dos 18 municípios que constituem a Região de Lisboa, (sub-região estatística que compreende aproximadamente a metade sul do distrito de Lisboa e a metade norte do de Setúbal), o poder de compra médio nacional não é superado: São eles Odivelas, Sintra, Seixal e Moita. 

Conjunto de variáveis
O INE explicou à agência Lusa este indicador pretende caracterizar os municípios "sob o ponto de vista do poder de compra, numa acepção ampla, a partir de um conjunto de variáveis",.

Entre elas contam-se o vencimento salarial, contratos imobiliários e o número de automóveis, O Instituto Nacional de Estatística refere que "embora todas as variáveis se encontrem associadas ao poder de compra, nenhuma pode ser considerada uma sua representação fiel" já que, "se assim fosse, não seria necessário recorrer a uma metodologia de análise multi-variada".

Segundo explica o INE, o Indicador per Capita (IpC) do poder de compra corresponde ao factor com "maior poder explicativo extraído da análise factorial". Tal factor pretende traduzir o poder de compra manifestado quotidianamente, em termos "per capita", nos diferentes municípios ou regiões, tendo por referência o valor nacional".

O INE sublinha ainda que nos últimos dados, relativos a 2007, apenas 39 dos 308 municípios portugueses superavam o poder de compra "per capita" médio nacional.

Trata-se de um decréscimo em relação ao que se verificava em 2005, quando segundo outro estudo semelhante, eram 43 os municípios em que tal se verificava.

Inversamente, nos dados relativos a 2007, eram 21 os municípios que exibiam um poder de compra "per capita" manifestado, inferior a 50 por cento da média nacional, quando em 2005 apenas 17 estavam nesta situação.

Destes 21 municípios desfavorecidos, 15 pertencem ao Interior da região Norte, "distribuídos pelas sub-regiões Tâmega, Douro e Alto Trás-os-Montes, e quatro ao Interior da região Centro (mais concretamente, à Beira Interior Norte e ao Dão-Lafões)".

Um dado que segundo o INE permite confirmar "a existência de assimetrias internas particularmente acentuadas na região Norte, entre a faixa Litoral e o Interior".

Vinhais, Ribeira de Pena, Sernancelhe, Celorico de Basto e Penalva do Castelo são os concelhos que no estudo do INE apresentam menor poder de compra.

Alcochete, Sines ou Porto Santo são as surpresas da listaO lugar obtido por municípios como Alcochete, Sines ou Porto Santo na tabela concelhia de poder de compra superou as expectativas de autarcas e da população.

Alcochete é uma das surpresas do estudo, apenas sendo superado por Lisboa, Oeiras, Porto e Cascais.

O presidente da Câmara de Alcochete, Luís Franco (CDU), afirmou que o quinto lugar na tabela de poder de compra por concelho constitui um orgulho por reflectir "a atractividade do município e a sua projecção ao nível do país".

Mesmo assim Luís Franco diz que o estudo tem alguns indicadores "falaciosos" que resultam em conclusões que não são totalmente correctas, citando em particular os indicadores da população residente, transferências bancárias e transições comerciais "que em bom rigor não reflectem a realidade do concelho de Alcochete, nem a realidade dos outros concelhos", disse.

O aumento "demográfico também resultou num crescimento de poder compra das pessoas que escolherem Alcochete para residir, mas o poder de compra dessas pessoas não é igual ao das pessoas que aqui nasceram e cresceram", afirmou o autarca,

Luís Franco lembrou também a que a presença do outlet Freeport em Alcochete também contribui para o bom posicionamento no ranking, tal como outros estabelecimentos comerciais contribuem para o resultado de alguns concelhos que estão no topo da tabela.

Sines sobressai no Alentejo
O concelho com o maior poder de compra do Alentejo e o 14º. a nível nacional é Sines.

Segundo o presidente da Câmara, Manuel Coelho, o desenvolvimento dos complexos industriais e portuário constitui aqui o factor-chave.

Manuel Coelho recordou que Sines "sofreu uma revolução profunda nos anos 70, passando de um concelho de actividade económica primária, baseada, principalmente, na pesca e na agricultura incipiente, para uma sociedade urbana concentrada na cidade e qualificada".

"Sendo o maior pólo de produção industrial e da economia nacional, Sines tem uma concentração extraordinária de técnicos superiores, como engenheiros, economistas, gestores e outros quadros técnicos que trazem uma massa crítica significativa para o concelho", explicou o autarca.

O presidente do município acrescenta também que , "foi desenvolvida uma rede de Pequenas e Médias Empresas (PME's) que tem uma dinamização notável de apoio às grandes actividades económicas", o que contribui para "um nível de vida bastante significativo" relativamente ao país.

Apesar disso e além do desemprego, cuja taxa "tem diminuído nos últimos tempos", Sines "tem outros problemas ainda por resolver", afiançou. A autarquia reivindica melhores acessibilidades, como a construção de um troço de auto-estrada entre a cidade e a A2 e uma nova via ferroviária de transporte de mercadorias, com ligação à Europa, como apoio ao terminal portuário.

Porto Santo em 7º
A cidade insular melhor classificada no estudo do INE é Porto Santo. Ocupa o 7º lugar da lista, situando-se à frente de cidades como Aveiro, Funchal e Coimbra.

Para o presidente da Câmara de Porto Santo, Roberto da Silva, este resultado está relacionado com alguma paz social na ilha mas explica-se também com o facto de existir muito turismo e muitos funcionários públicos que recebem um subsídio de insularidade.

Na ilha, "48 por cento da população, ou seja, 1350 funcionários têm um acréscimo no vencimento de 30 por cento de subsídio de insularidade", uma situação a que se soma o facto de "15 por cento da população do Porto Santo estar ligada à hotelaria, é uma ilha de serviços".

"Temos que ter em consideração também o grande investimento público que foi feito, aqui, nos últimos anos e concretamente entre 2000 e 2007 a par de um 'boom' na área da construção civil em que foi injectado muito dinheiro na ilha", acrescentou Roberto da Silva,

"Os próprios funcionários públicos, alguns deles, depois das suas horas de trabalho ainda faziam alguns trabalhos na construção civil", recorda.



 

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