Rota do Mar Vermelho. Trump responsabiliza Teerão por todas as ações futuras dos Houthis

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Foto: Mohammed Hamoud - Anadolu via AFP

Num momento em que os ataques dos Houthis têm vindo a multiplicar-se contra interesses dos Estados Unidos e do Ocidente em retaliação pela ação de Israel na Faixa de Gaza, e já depois da resposta das forças norte-americanas e contra-resposta dos rebeldes, o presidente Donald Trump veio esta tarde apontar ao Irão, que apoia os Houthis, responsabilizando o regime de Teerão por qualquer iniciativa futura por parte do grupo xiita sediado no Iémen.

“Cada tiro disparado pelos Houthis será encarado, a partir deste ponto, como sendo um tiro das armas e da liderança do IRÃO e o IRÃO será chamado à responsabilidade e sofrerá as consequências, e essas consequências serão terríveis!”, ameaçou Trump num post na sua rede social Truth Social.

“As centenas de ataques levados a cabo pelos Houthis, mafiosos e bandidos sinistros baseados no Iémen, odiados pelo povo iemenita, emanam todos do Irão e são criados pelo Irão”, acrescentou Trump, acusando Teerão de ditar todos os “atos e movimentos” dos rebeldes, que fornece de “armas, dinheiro e equipamento militar altamente sofisticado e até a chamada inteligência”.

A escalada das ameaças do presidente americano acontece depois da contra-resposta dos Houthis ao ataque de sábado por ordem de Trump, com um balanço de meia centena de mortos no Iémen, e que visou navios de guerra dos Estados Unidos.

Uma primeira mensagem de Donald Trump para Teerão exigia que “o apoio aos terroristas houthis tem de terminar imediatamente”, ao mesmo tempo que prometia “o inferno” ao grupo iemenita.

Em causa está a rota do Mar Vermelho, uma das mais importantes para o comércio mundial e que tem vindo a ser perturbada pela ação dos Houthis, que prometem retaliação contínua em apoio aos palestinianos, há ano e meio visados pelas ações israelitas na Faixa de Gaza.

Disse o presidente americano na Social Truth que, caso não parassem esses ataques, os Houthis voltariam a ser visados pela força norte-americana e “o inferno vai cair sobre vocês como nunca antes”.
Contra-resposta visou porta-aviões americano

Já esta segunda-feira, concretizando as promessas de não se deterem perante fosse qual fosse a ação dos americanos, e depois de um primeiro ataque na véspera contra o porta-aviões americano USS Harry S. Truman, os Houthis visaram um ataque contra um porta-aviões dos Estados Unidos no Mar Vermelho. Foram usados “mísseis balísticos e de cruzeiro, bem como drones, num combate que durou várias horas”, apontou a imprensa iemenita ligada aos rebeldes.

Entretanto, no Iémen, grandes manifestações populares saíram às ruas com a palavra “morte à América” na boca, contrariando a análise de Donald Trump. São declarações de apoio que respondem ao apelo de Abdel Malek al-Houthi, o líder dos rebeldes, que no domingo pedia aos iemenitas para se reunirem “aos milhões” em protesto contra os ataques norte-americanos que no sábado visaram a capital Sanaa e a cidade de Zabid, património mundial da Unesco.

Esta segunda-feira, dezenas de milhares de pessoas denunciaram na capital iemenita os ataques norte-americanos que fizeram pelo menos meia centena de mortos nos raides ordenados por Trump, gritando “morte à América, morte a Israel”. De acordo com imagens da Al-Masirah, a televisão dos Houthis, outras multidões saíram à rua também em Saadah, um reduto rebelde no norte, Hodeidah e Amran no oeste, e Dhamar no sudoeste do país.

A Al Masirah informou que já hoje foram visadas por ataque s americanos a cidade portuária de Hodeidah, no Mar Vermelho, e a província de Al Jawf, a norte da capital Sanaa.

Em apoio aos palestinianos sitiados no seu território de Gaza desde outubro de 2023, após os ataques do Hamas em Israel, os Houthis lançaram mais de uma centena de ataques contra navios na região, prometendo não recuar até que Telavive retire de território palestiniano. Nos ataques contabilizados desde novembro desse ano, os rebeldes terão afundado dois navios, perturbando inapelavelmente o transporte marítimo global e obrigando ao redireccionamento de rotas mais longas e mais caras pelo sul da África.
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