Retrato laboral no 1.º de Maio. Portugal é quinto país da União com salário médio mais baixo

por Joana Raposo Santos - RTP
As áreas da agricultura e pescas e do alojamento e restauração são aquelas em que menos se ganha Reuters (arquivo)

Portugal é o quinto país da União Europeia com o salário médio mais baixo, ficando apenas à frente da Eslováquia, Grécia, Hungria e Bulgária. As áreas da agricultura e pescas e do alojamento e restauração são aquelas em que menos se ganha. Os dados são avançados esta terça-feira pela Pordata, que a propósito do 1.º de Maio retrata o perfil do trabalhador português.

Em 2022, o salário médio anual por trabalhador em Portugal era o décimo mais baixo dos países da UE. Abaixo de Portugal estão os países de Leste, a Croácia e Grécia.

Segundo a Pordata, na União Europeia os salários nos dez países de topo são, pelo menos, duas vezes superiores aos dos dez países da cauda, onde se encontra Portugal.

No entanto, se se tiver em conta o custo de vida, Portugal desce ainda mais: passa a ser o quinto país com salário médio mais baixo. Nesse cenário, é apenas ultrapassado pela Eslováquia, a Grécia, a Hungria e a Bulgária.
Em Espanha, o contraste com Portugal é gritante: os salários praticados são, em média, um terço mais elevados.
Também o salário mínimo português está numa má posição da tabela. Quando considerado em paridade de poder de compra, encontra-se igualmente entre os dez mais baixos dos 22 países da UE com salário mínimo.

“Em 20 anos, Portugal foi ultrapassado pela Polónia, Lituânia e Roménia no que diz respeito ao salário mínimo nacional”, sendo que este é “26% mais baixo do que em Espanha, menos 47% do que em França e apenas 5% acima” do grego, refere o relatório.

Os dados junto da Fundação Francisco Manuel dos Santos usados pela Pordata revelam ainda que o ordenado médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal, incluindo horas extra, subsídios de férias e Natal ou prémios, foi de 1.368 euros.

O salário mínimo nacional está cada vez mais próximo do ordenado médio. Em 2002, o salário mínimo correspondia a 43% do ganho médio e em 2022 esta percentagem já tinha subido para 52%”, lê-se no documento.

Das atividades económicas com mais de 75 mil trabalhadores por conta de outrem, o salário médio dos trabalhadores do setor da agricultura e pescas está entre os mais baixos, fixando-se nos 916 euros.
Metade dos trabalhadores tem entre 44 e 64 anos
“O trabalhador envelheceu”. Esta é outra das principais conclusões da Pordata, segundo a qual, há 20 anos, um terço dos trabalhadores tinha entre 44 e 64 anos. Atualmente, esse número subiu para metade.

Já os jovens trabalhadores, até aos 24 anos, diminuíram mais de 40%. O escalão etário dos trabalhadores que mais aumentou foi entre os 55 e os 64 anos, registando uma subida de 66%”, explica esta entidade.

Estes números fazem de Portugal o quarto país com força laboral mais envelhecida (por cada 100 trabalhadores com menos de 35 anos tem 99 com mais de 54 anos), apenas ultrapassado pela Bulgária, Letónia e Itália.
Patrões sem instrução
Os dados revelam ainda que Portugal é o país da UE com maior proporção de patrões sem instrução ou com o ensino básico. Quase metade (44%) destes tem, no máximo, até ao 9.º ano de escolaridade.

Já no caso dos trabalhadores por conta de outrem, os níveis de escolaridade estão distribuídos: um terço tem até ao 9.º ano, outro terço concluiu o ensino secundário e outro tem curso superior.

A Pordata faz ainda um retrato dos trabalhadores em part-time, que, segundo apurou, são apenas oito em cada 100. “Portugal é o 10.º país dos 27 da União Europeia com menor proporção de trabalhadores a tempo parcial”, refere.

E se, em nações como os Países Baixos e a Áustria, mais de metade das mulheres empregadas trabalham em regime de part-time, em Portugal é apenas uma em cada dez que o faz.

A questão dos contratos a prazo foi outra das analisadas, com a Pordata a concluir que, em Portugal, um em cada seis trabalhadores tem este tipo de contrato, rácio que se mantém praticamente inalterado há duas décadas.

É o terceiro país europeu com mais contratos a prazo - do total de trabalhadores, em Portugal, 17,4% estão com contrato a prazo, um valor acima da média na UE27, que é de 13,4%. Com maior percentagem estão a Sérvia e os Países Baixos, que lideram a tabela”, indica o relatório.
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