Retomar a produção de beterraba sacarina é uma opção "arriscada" para a associação de refinadores
Lisboa, 29 fev (Lusa) - A produção de beterraba sacarina, a ser retomada neste momento, seria uma opção "arriscada", defendeu o presidente da associação nacional de refinadores de açúcar, no dia em que o assunto volta a merecer a atenção do Parlamento.
A Assembleia da República discute hoje dois projetos de resolução, do PSD e do PCP, que recomendam ao Governo que retome a produção da beterraba sacarina, mas o presidente da Associação de Refinadores de Açúcar Portugueses (ARAP) acha que a ideia "é surrealista".
Francisco Avillez lembra que Portugal abandonou a produção de beterraba sacarina em 2006, porque não era rentável, e salientou que não existem garantias de que os preços se manterão favoráveis para os agricultores.
"Há seis anos atrás desistimos da produção de beterraba porque os preços que a indústria podia pagar à produção não permitiam tornar a actividade rentável. Parece-me bastante surrealista que seis anos depois vamos pedir [à Comissão Europeia] para voltar a ter uma quota de beterraba e pergunto a que é que isso vai obrigar. Vai obrigar os produtores e a indústria a devolverem o dinheiro que receberam?", questionou.
O presidente da ARAP adiantou que apesar de os preços do açúcar no mercado mundial estarem neste momento elevados -- despertando novamente o interesse dos agricultores portugueses -- "nada garante" que a situação se vai manter.
"Se os preços voltarem a cair, voltamos a ter uma situação em que os preços que a indústria pode pagar não são suficientemente interessantes para os produtores e, se isso acontecer, a indústria deixa de ter matéria-prima porque os agricultores não vão querer produzir beterraba", avisou, acrescentando que "esta opção é extremamente arriscada neste momento".
O Estado português desistiu da sua quota de produção de beterraba em 2006, devido à reforma da Organização Comum de Mercado do Açúcar, e a única unidade de produção de açúcar de beterraba que existia no país reconverteu-se numa fábrica de refinação pura.
Às duas indústrias refinadoras de açúcar de cana que já existiam -- a RAR e a Sidul - juntou-se assim a unidade da DAI, de Coruche, que deixou de transformar a beterraba em açúcar em 2008.
Os deputados social-democratas e comunistas, que defendem a retoma da produção desta cultura, apontam outras vantagens, como o facto de Portugal ficar menos vulnerável a "sobressaltos" no abastecimento, como o que obrigou os supermercados a racionarem o açúcar no final de 2010.
Mas para Francisco Avillez esta é uma falsa questão porque "nunca houve problemas no fornecimento de açúcar no mercado mundial".
O líder da ARAP explicou que as rupturas pontuais estão relacionadas com acordos comerciais que obrigam a pagar direitos de importação "elevadíssimos" a países como Cuba ou o Brasil e considerou que se houvesse uma total liberalização "nunca mais haveria problemas de abastecimento".
"Teríamos até mais refinação do que temos hoje porque a refinação é muito mais concorrencial do que a beterraba. A beterraba só existe porque está fortemente protegida", afirmou.
Francisco Avillez referiu que os argumentos invocados nos projetos de resolução são "politicamente corretos, mas pouco fundamentados" e embora reconheça que "a cultura de beterraba foi um sucesso, tecnicamente", lembrou que os custos de produção eram muito elevados.
Defende, por isso, "uma análise séria e fundamentada" quanto às possibilidades efetivas da produção de açúcar de beterraba em Portugal serem economicamente vantajosas no futuro.