Restaurantes de Sines conhecidos pelo "peixe fresco" admitem recorrer à carne e ao bacalhau
Sines, Setúbal, 30 Mai (Lusa) - Os restaurantes e marisqueiras de Sines, cuja política é "ter sempre peixe fresco", admitem recorrer a ementas compostas por carne e bacalhau a partir do início da próxima semana, quando se esgotar o stock de pescado.
"É preferível não ter pratos de peixe do que vender o da aquicultura ou o congelado. Esses não podem entrar no menu", frisou hoje, em declarações à agência Lusa, Fernando Raposo, proprietário da "Varanda do Oceano", uma das mais "afamadas" casas de marisco de Sines.
As alternativas que se afiguram são "a carne e o bacalhau", explicou o comerciante, que pondera ter de alterar, por estes dias, o "prato forte" da ementa.
A pensar na greve das pescas, hoje iniciada, e na escassez de pescado, Fernando Raposo precaveu-se quinta-feira "mais do que o habitual". Por isso, no fim-de-semana, espera não ter problemas de falta de peixe e marisco.
"Para estes dias, tenho peixe suficiente. Depois, se os barcos continuarem parados, é que já não sei", disse.
O cenário é idêntico no restaurante "O Guia", conhecido pelo peixe "vivinho" servido grelhado, à beira do mar revolto da Costa do Norte.
"Possivelmente, vamos ter de mudar as ementas. Optar pela carne, talvez!", admitiu à Lusa Mário da Guia, proprietário do restaurante.
Para já, o comerciante está "governado", recorrendo ao peixe capturado quinta-feira, que é coberto de gelo para manter a qualidade.
"Na segunda-feira, é dia de folga, mas na terça já não devo ter peixe. A menos que o Governo dê uma resposta aos pescadores até lá...", realçou Mário da Guia.
Este restaurante "não trabalha com peixe de viveiro" e, por isso, as perspectivas de manter os pratos habituais são pouco animadoras, embora no marisco ainda exista a possibilidade de comercializar algumas espécies, oriundas da apanha lúdica, nas rochas.
Debruçada sobre o porto de pesca, a marisqueira "Nova Lota" também faz questão de "ter sempre peixe fresco" na montra, que hoje exibe ainda fartos robalos e douradas, assim como marisco, onde não falta a lagosta ou o lavagante.
"Temos um lote de fornecedores que nos abastecem e ontem soubemos que iam entrar de greve, mas reforçámos o stock", disse à Lusa Sérgio Rodrigues, gestor da casa.
O negócio deverá funcionar com os pratos habituais "pelo menos até domingo", afirma, mas, a partir daí, as montras de peixe e marisco podem ficar desfalcadas.
"Estamos extremamente dependentes da costa de Sines e ainda nem sabemos bem o que fazer se o peixe faltar", referiu, temeroso.
A Associação de Armadores da Pesca Artesanal e do Cerco do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (AAPACSACV) garantiu hoje, num encontro com os jornalistas, que a centena de embarcações que abrange, nos portos de pesca de Sines, Vila Nova de Milfontes, Zambujeira e Azenha do Mar, está paralisada desde as 00:00.
"A adesão é de 100 por cento", confirmou Filipa Faria, secretária geral da Associação, esclarecendo que a última venda em lota aconteceu quinta-feira, às 15:00.
A Associação que representa os armadores mostrou-se "indignada" com a crise que afecta o sector e as "respostas" dadas pelo Governo, no sentido de não recuar perante as suas reivindicações.
"Nós não somos privilegiados. A nível mundial, todas as frotas de pesca estão isentas do subsídio sobre o combustível e sobre o IVA, porque reconhecidamente o sector depende, essencialmente, do abastecimento. Não é o caso dos portugueses", lamentou Filipa Faria.
"Quando sai para o mar, a embarcação está sempre a trabalhar. Mesmo que encontre um cardume de peixe e faça um lance, o motor tem de estar sempre ligado. Isto tem um custo elevadíssimo de combustível, que não é equiparado a nenhuma actividade em terra", salientou.
Alfredo Patrício, armador da pesca artesanal, frisou que o maior problema é "o preço do peixe em lota não acompanhar os aumentos".
"Vai mais barato do que há vinte anos. Chega a sair peixe daqui a 20 cêntimos e depois está à venda na praça ou nos hipermercados a 6,20 euros", vincou.