Relatório da AIE. Guerra na Ucrânia marcou ponto de viragem no consumo de gás

por Cristina Sambado - RTP
Reuters

A guerra na Ucrânia marcou um ponto de viragem no consumo de gás na Europa, que deverá voltar a diminuir este ano, à medida que as casas e as empresas se adaptarem em melhorias de eficiência e bombas de calor, avança a Agência Internacional da Energia.

A redução de fornecimento de gás por parte da Rússia levou a uma melhoria da eficiência na Europa, segundo a Agência Internacional da Energia (AIE).

O relatório anual da AIE, apresentado em vésperas do início da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, concluiu que as economias desenvolvidas do continente europeu reduziram o seu consumo de gás em 15 por cento em 2022, depois de a Rússia ter cortado os fluxos após a invasão da Ucrânia.As casas e as empresas europeias reduziram a sua procura de gás em mais nove por cento nos primeiros três trimestres deste ano, o que poderá levar a uma redução constante da procura de gás nos próximos anos. 

A AIE concluiu que cerca de 40 por cento das poupanças resultaram do tempo ameno do inverno passado, mas a maioria foi impulsionada por um aumento da procura de bombas de calor elétricas e por melhorias de eficiência.


A AIE espera a tendência surja nos EUA, depois da administração Biden ter incluído atualizações da eficiência energética no seu pacote de estímulo verde de 369 mil milhões de dólares.

Prevê-se que as casas e as empresas norte-americanas reduzam o seu consumo de gás em cerca de um por cento por ano entre 2022 e 2026, apesar do acesso a amplas reservas domésticas, em resultado de melhores ganhos de eficiência e da implantação de bombas de calor para ajudar a reduzir as emissões de carbono causadas pelo aquecimento a gás.

A agência adverte ainda que a eficiência energética vai ficar estagnada em 2023.

“A taxa estimada de aumento da intensidade energética" para 2023 deverá ser de "1,3 por cento, contra dois por cento" em 2022, um desempenho inferior que pode ser explicado em parte por um "aumento da procura de energia de 1,7 por cento em 2023, contra 1,3 por cento no ano anterior", refere a AIE no relatório.

Segundo a AIE, a inflação e o aumento das taxas de juro "deverão reduzir o crescimento do investimento" em eficiência energética "para apenas quatro por cento em 2023, em comparação com uma média de 20 por cento nos dois anos anteriores", que foram marcados por planos de recuperação na sequência da pandemia de covid-19.

No entanto, estas ascenderiam a "pouco mais de 620 mil milhões de dólares (cerca de 569 mil milhões de euros) em 2023, cerca de 200 mil milhões de dólares mais do que antes da pandemia", sublinha o relatório.A agência da OCDE para a energia, criada em Paris após a crise do petróleo de 1973, sublinha que estes resultados estão muito aquém do roteiro que elaborou na primavera passada, que visava duplicar o aumento anual para quatro por cento até 2022.

"As ambições climáticas do mundo dependem da nossa capacidade de tornar o sistema energético global muito mais eficiente. Se os governos quiserem manter o objetivo de 1,5 graus Celsius ao alcance, apoiando simultaneamente a segurança energética, é fundamental duplicar os progressos em matéria de eficiência energética nesta década”, afirmou Fatih Birol, diretor executivo da AIE, citado no relatório.

Sefundo Fatih Birol, "as conclusões deste relatório são um aviso claro aos líderes que se reunirão em breve na conferência sobre o clima Cop28, no Dubai, de que todos eles têm de se comprometer com uma ação mais forte em matéria de eficiência e de a concretizar".

Para a AIE, este objetivo é essencial para que a procura mundial de energia e as emissões de CO2 do sector sejam reduzidas em um terço até 2030, em conformidade com o cenário neutro em termos de carbono para 2050, concebido para proteger o mundo dos piores efeitos do aquecimento global.

O relatório salienta grandes disparidades: a União Europeia e os Estados Unidos, por exemplo, deverão registar este ano aumentos "robustos" da sua eficiência energética, entre quatro e 14 por cento.

Para além da crise energética provocada pela guerra na Ucrânia, que incentivou políticas ambiciosas, alguns 
países beneficiaram de um inverno muito ameno, que contribuiu para reduzir o consumo de gás na Europa em mais de 15 por cento.

Em contrapartida, as ondas de calor recorde de 2023 conduziram a uma explosão da procura de aparelhos de ar condicionado e das emissões associadas.
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