As exportações de bens portugueses para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste cresceram quase 40% em 2022, face ao ano anterior, enquanto as importações quase quintuplicaram, segundo um relatório hoje divulgado.
O relatório sobre a Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 2022-2023, divulgado hoje pelo Banco de Portugal (BdP), mostra que as relações económicas e financeiras de Portugal com esses países teve "alguma dinâmica" em 2022, ressalvando, contudo, que isso ocorreu a partir de níveis "relativamente baixos".
O peso do comércio com o conjunto dos países reforçou-se ligeiramente, com as exportações e as importações a representarem 2,8% e 0,6% do total do país, respetivamente, sendo que os combustíveis angolanos representaram 85% do total dos produtos importados por Portugal destes países em 2022.
O investimento direto português para os seis países baixou em 2022 (de 298,6 milhões de euros em 2021 para 56 milhões em 2022), com menos fluxos dirigidos às indústrias extrativas e aos setores dos serviços, centrando-se estes nas atividades financeiras e de seguros em Angola e Moçambique (país que mais contribuiu para a redução registada) e na indústria transformadora em Cabo Verde.
Em contrapartida, o investimento destes países em Portugal aumentou em 2022 (de 61,2 milhões de euros em 2021 para 369,4 milhões em 2022), principalmente de Angola (na construção e serviços, sobretudo comércio e atividades de consultoria e imobiliário), mas também de Moçambique (construção).
Segundo o BdP, a dívida oficial dos PALOP a Portugal continuou em 2022 a trajetória descendente iniciada em 2019, atingindo os 2,4 mil milhões de euros, contra os perto de 2,6 mil milhões de 2021 e os cerca de 3 mil milhões de 2018, com Angola a ser a exceção (passou de 925 milhões de euros em 2021 para 989 milhões em 2022).
No conjunto dos países, Angola continua a assumir a maior quota de mercado de destino das exportações portuguesas e de origem da importação de bens, sendo, simultaneamente, o principal investidor direto estrangeiro e detentor da maior dívida oficial a Portugal.
As exportações portuguesas para os seis ascenderam a 2,2 mil milhões de euros (1,6 mil milhões em 2021), com Angola a representar a maior fatia (1,4 mil milhões) e Timor-Leste a menor (4,4 milhões de euros).
As importações atingiram os 696,4 milhões de euros (132,2 milhões em 2021), com Angola a liderar (624 milhões de euros) e Timor-Leste a representar a menor fatia (1 milhão de euros).
Em 2022, as exportações portuguesas para Cabo Verde ascenderam aos 371,5 milhões de euros (300,2 milhões em 2021), para Moçambique aos 222,6 milhões (194,6 no ano anterior), para a Guiné-Bissau aos 129,9 milhões (92,1 milhões em 2021) e para São Tomé e Príncipe aos 66 milhões (56,7 em 2021).
Depois de Angola, Moçambique foi o país que mais exportou para Portugal (58,6 milhões de euros, contra 40,5 milhões em 2021), seguindo-se Cabo Verde (10,3 milhões de euros, contra 8,4 milhões no ano anterior), São Tomé e Príncipe (2,2 milhões de euros contra os 2,6 milhões de 2021) e Guiné-Bissau (200 mil euros, o mesmo que no ano anterior).
A análise da conjuntura macroeconómica, que caracteriza os desenvolvimentos observados nas relações económicas e financeiras bilaterais com Portugal, foi elaborada em colaboração com os bancos centrais de Angola, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste e da direção nacional para a Guiné-Bissau do Banco Central dos Estados da África Ocidental, salienta-se no documento.
O BdP realça que os dados demonstram a retoma dos circuitos económicos e comerciais do pós pandemia da covid-19, lembrando que permanece o cenário da guerra na Ucrânia e elevada a incerteza quanto à evolução dos preços das matérias-primas e da inflação.
A divulgação do documento acontece no dia em que decorre, no Museu do Dinheiro, o 33.º Encontro de Lisboa entre os Bancos Centrais de Língua Portuguesa, organizado pelo BdP.
No encontro, aberto pelo governador do BdP, Mário Centeno, serão debatidos temas como "A inteligência artificial e a sua utilização no setor bancário: desafios e oportunidades" e realizadas mesas-redondas sobre "A inovação nos pagamentos" e "Inovação e crescimento económico", seguidas de debate entre governadores.