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Produção da aquacultura mundial ultrapassa pela primeira vez a da pesca oceânica

por Graça Andrade Ramos - RTP
Visitantes na Expo Internacional de Marisco e de Pescado em Fuzhu, província de Fujian, China, em 2024, na qual participaram quase 500 empresas de 30 países, incluindo dos setores de aquacultura e da pesca oceânica Lin Shanchuan / XINHUA - AFP

Em 2022, a produção mundial aquícola, de pescado ou de marisco criado em cativeiro, ultrapassou pela primeira vez a produção haliêutica, ou pesca de animais criados em ambiente selvagem.

De acordo com a FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a aquacultura foi responsável por 51 por cento do total mundial de produtos de pesca.

O relatório da FAO, publicado esta sexta-feira, em San José, na Costa Rica, durante uma conferência sobre a conservação dos oceanos, inclui uma secção sobre "a situação mundial das pescas e da aquacultura" (SOFIA), a qual indica que "a piscicultura, a moluscicultura e a criação de algas, representam 51 por cento do total mundial" destes produtos e "fornecem 57 por cento dos produtos animais aquáticos utilizados para consumo humano no mundo".

Estes são níveis "sem precendentes", considera a organização, que os atribui a esforços e atividades concertadas, liderados pelas Nações Unidas em "colaboração com membros, parceiros e acionsitas-chave", para "integrar alimentos aquáticos" no circuito mundial alimentar "seguro e sustentável".

A FAO, sublinha ainda a importância de políticas interventivas, da investigação científica e da capacidade de implementar e disseminar práticas sustentáveis e inovações tecnológicas, assim como o apoio ao envolvimento de comunidades, para a obtenção destes resultados.
Números em crescendo
A produção pesqueira e aquícola mundial ascendeu em 2022 a 223,2 milhões de toneladas, mais 4,4 por cento relativamente a 2020. A produção correspondeu a 185,4 milhões de toneladas de animais e a 37,8 milhões de toneladas de algas.

Das 223,2 milhões de toneladas referidas, 130,9 milhões resultaram de produção aquícola, um número nunca antes alcançado. Destas, 94,4 milhões foram de animais, ou seja 51 por cento da produção mundial destes produtos aquáticos.

O crescimento da aquacultura evidencia a sua capacidade de continuar a contribuir e a satisfazer a procura crescente mundial de alimentos de origem aquática, refere a análise ao relatório. 

Em 2021, o consumo de alimentos derivados de animais aquáticos foi de 162,5 milhões de toneladas. "Número que tem crescido a um ritmo quase duas vezes superior ao da população mundial desde 1961, com o consumo mundial anual per capita a passar de 9,1 quilos em 1961 para 20,7 quilos em 2022", sublinha o relatório.

Criação de mexilhões em Saldanha Bay, Cidade do Cabo, África do Sul Foto: Reuters

Do total da produção animal aquática, 89 por cento teve como destino o consumo humano direto, o que revela a importância da pesca e da aquacultura na manutenção da segurança alimentar mundial, reflete a FAO. "O restante destinou-se a usos indiretos ou não alimentícios, principalmente farinha e azeite piscícola", indica.
Cautelas e "caldos de peixe"
Para fomentar uma alimentação saudável e melhorar a nutrição em todo o mundo, "é vital promover um maior consumo de fontes sustentáveis", lembra a organização. "Os alimentos aquáticos proporcionam proteínas de alta qualidade - 15 por cento das proteínas de origem animal e seis por cento do total mundial - e nutrientes essenciais, como ácidos gordos omega-3, minerais e vitaminas", refere ainda.

"Em 2021, representaram pelo menos 20 por cento da contribuição proteica per capita proveniente de todas as fontes animais para 3.200 milhões de pessoas", acrescenta a FAO.

"Contudo, no futuro, a expansão e intensificação devem ter como prioiridade a sustentabilidade e beneficiar as regiões e comunidades mais necessitadas", adverte a agência das Nações Unidas que lidera esforços para a erradicação da fome e o combate à pobreza.

"Se bem que a FAO celebre os importantes resultados conseguidos até agora, é necessário adotar novas medidas que propiciem a transformação e a adaptação, de forma a reforçar a eficácia, a inclusividade, a resiliência e a sustentabilidade dos sistemas alimentares aquáticos", sublinha o relatório.

A organização considera o setor fulcral para "fazer frente à insegurança alimentar, mitigação da pobreza e gestão sustentável", referiu QU Dongyu, Director Geral da FAO, sobre as conclusões do SOFIA. 

"Por esta razão, a FAO promove a transformação azul, com o propósito de satisfazer as necessidades gerais relacionadas com uma produção melhor, melhor nutrição, melhor meio-ambiente e uma vida melhor, sem deixar ninguém para trás", acrescentou.
Fomentar a aquacultura
Atualmente, o setor da aquacultura é dominado por um pequeno número de países. Dez deles produziram mais de 89,9 por cento do total contabilizado no relatório. Foram eles a China, a Indonésia, a índia, o Vietname, o Bangladesh, as Filipinas, a República da Coreia, a Noruega, o Egito e o Chile.

A organização das Nações Unidas frisa que muitos países de baixos rendimentos em África e na Ásia não aproveitam ainda todo o seu potencial.

É por isso crucial implementar políticas específicas, transferir tecnologia, desenvolver capacidades e investir de forma responsável, para impulsionar a aquicultura onde ela é mais necessária, sobretudo em África, considera a FAO.

O SOFIA sublinha contudo que, apesar de aplaudir os resultados da aquacultura, a maior parte da pesca em meio selvagem se realiza atualmente entre populações animais sustentaveis, em níveis estáveis desde os anos 80 do século passado. 

A pesca marinha é por isso considerada uma fonte fundamental de animais aquáticos, em resposta à procura crescente. 
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