Primeiras acusações nos EUA por fraude com criptomoedas envolvem 18 entidades

por RTP
Bitcoins Reuters

A procuradoria federal norte-americana acusou, esta quarta-feira, quatro empresas e 14 indivíduos de manipulação do mercado de criptoativos e de fraude, na que está a ser considerada a primeira acusação a firmas de serviços financeiros do setor.

A acusação elaborada pelos procuradores federais de Boston, envolve o hedge-fund Gotbit, a gestora ZMQuant, a consultora para a área digital CLS Global e a plataforma de negociação online MyTrade, assim como os seus diretores e empregados, numa ação que incluiu detenções fora dos Estados Unidos.

Cinco pessoas já se declararam culpadas ou concordaram fazê-lo.

As empresas e os indivíduos acusados terão estado envolvidos em negociações "de lavagem", nas quais empolavam artificialmente o valor dos seus próprios criptoativos através da criação de um ciclo falso de oferta e de procura, inflacionando preços.

Esta manipulação enganou investidores, distorceu o valor da criptomoeda e provocou perdas financeiras avultadas, alegaram os procuradores.

O caso está a ser considerado como uma ação fulcral por parte das autoridades norte-americanas, na luta para garantir a integridade dos mercados financeiros, incluindo no setor em rápido crescimento, da criptomoeda.

O Departamento da Justiça dos EUA destacou o seu compromisso em extirpar a fraude do espaço digital, para manter a transparência e a equidade.

A acusação pode criar precedentes jurídicos para futura regulamentação legal nos Estados Unidos, contra práticas ilegais em mercados de criptoativos, à medida que as agências oficiais continuam a enfrentar as ameaças emergentes nesta indústria em rápido desenvolvimento.
O caso
Os procuradores alegaram que a maior das empresas envolvidas nos diversos esquemas, a Saitama, chegou a valer no mercado 7.5 mil milhões de dólares, depois dos seus diretores terem começado a manipular o mercado pelos seus criptoativos e a vendê-los secretamente.

O seu principal executivo, Manpreet Kohli, foi detido segunda-feira no Reino Unido. Outros cinco atuais ou antigos empregados foram igualmente acusados, com três a darem-se como culpados.

Outros acusados incluem Aleksei Andiunin, presidente executivo da Gotbit, que viveu na Rússia e em Portugal. Foi acusado assim como dois outros empregados da empresa na Rússia.

A procuradoria norte-americana afirmou que, entre 2018 e 2024, a Gotbit enveredou pelas negociações "de lavagem", em nome de vários clientes de criptoativos, arrecadando dezenas de milhões de dólares às custas de investidores.

Uma das provas citadas pelos procuradores foi um excerto de uma entrevista dada por Andiunin em 2019 num canal do YouTube, na qual ele detalhava como a sua firma tinha desenvolvido um código para inflacionar artificialmente o volume dos ativos durante as negociações com o objetivo de serem incluídos nas firmas de corretagem de criptomoedas.

Foram ainda acusados três outros indivíduos, residentes fora dos Estados Unidos, que vendiam serviços de manipulação de mercados com criptoativos. Foram identificados como Liue Zhou, fundador da chinesa MyTrade, Bajun Ouof Hong Kong, que trabalhava na ZM Quant, e Andrey Zhorzhes dos Emirados Árabes Unidos, empregado da CLS Global.

Liue Zhou, ter-se-á dado como culpado.

Outros acusados são Michael Thompson, da Virginia, que trabalhava numa empresa de criptomoeda VVZZN, fundada por um ex-funcionário da Saitama, e Bradley Beatty, da Florida, que terá promovido de forma fraudulenta a sua empresa de criptomoeda Lillian Finance
O caso da FTX
A 24 de setembro de 2024, a executiva de criptomoeda Caroline Ellison foi sentenciada por um Tribunal Federal, de Nova Iorque, a dois anos de cadeia pelo papel desempenhado na FTX, a corretora de criptoativos do seu ex-namorado, o americano Sam Bankman-Fried.

Bankman, conhecido como SBF, é um ex-empresário, ex-investidor e ex-multimilionário, fundador e CEO da FTX, uma corretora de criptomoedas, e da FTX.US, sua afiliada nos EUA. A FTX roubou oito mil milhões de dólares em fundos de clientes.

SBF, considerado um magnata das criptomoedas, foi condenado a 25 anos de prisão e a multas de 11 milhões de dólares, por fraude e crimes relacionados, em novembro de 2023. A sentença foi proferida em março de 2024 e Bankman anunciou que ia recorrer.

O magnata, cuja fortuna chegou a ser avaliada em cerca de 18,9 mil milhões de euros, segundo a Forbes, foi o segundo maior doador do Partido Democrata nas eleições intercalares norte-americanas de 2022, tendo doado quase 40 milhões de dólares.

Há alguns dias, a investigadora de relações em cadeia ZachXBT, ajudou a detetar e a recuperar cerca de 275.000 dólares em criptomoedas, roubados através de uma fraude de engenharia social. No total, as vítimas terão perdido cerca de cinco milhões de dólares.

A recuperação traz à luz as vulnerabilidades do setor das criptomoedas e sublinha a importância crescente destas denúncias e investigações.
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